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DAS PRECARIEDADES DO NOME-DO-PAI ÀS MODALIDADES DO EXCESSO PULSIONAL

 

Tania Coelho dos Santos 
taniacs@openlink.com.br

Esse é um número especial porque é um registro da orientação teórico-clínica de nossos projetos de pesquisa em psicanálise aplicada. Ele reúne um grande número de artigos apresentados no III Simpósio do Núcleo Sephora, quando tivemos a ocasião de debater as versões da desproporção entre o Nome-do-Pai e a dimensão sem limites do gozo, do excesso da pulsão, da erotomania ou do infinito da demanda de amor feminina, na psicanálise aplicada. Foi também a oportunidade de recebermos Esthela Solano-Suárez, que nos apresentou uma riquíssima revisão da teoria freudiana e lacaniana da feminilidade, avançando uma contribuição muito original acerca da teoria da devastação - ou do estrago, como ela prefere chamar, que descreve o impossível da transmissão entre mãe e filha do que vem a ser uma mulher. Do lado da mãe não há o significante da exceção (S1), que poderia fundar para uma filha o conjunto das mulheres. Neste número, publicamos também a tradução da conferência de Éric Laurent porque traz idéias novas sobre o que seja um pai. O pai não é apenas aquele que dá seu nome ao clã, mas aquele que transmite a eficácia de um dizer. Em particular, ele sublinha as condições mínimas para que, segundo o último ensino de Lacan, cada pai em sua singularidade, possa ser dito um modelo da função: colocar uma mulher no lugar de objeto causa do desejo. Nessa conferência, Laurent vai além de Lacan, quando afirma que para ser pai é preciso ainda dedicar ao filho cuidados paternais.

O leitor já pode ter acesso à segunda aula de Sílvia Elena Tendlarz a respeito das incidências na clínica das versões do Nome-do-Pai. Ela percorre com rara erudição as referências lacanianas ao Nome-do-Pai, precisando que a eficácia da função paterna não repousa sobre o exercício de papéis de interdição, controle e limite. A questão da eficácia e da precariedade paterna na constituição subjetiva masculina encontra neste número desta revista uma ampla aplicação. Do trabalho efetuado na IV Vara da Infância e da Juventude, recolhemos dois artigos, que desvelam toda a dificuldade que enfrentam as crianças e adolescentes que sofreram o abandono ou a perda por morte de pai ou de mãe. Rachel Amin de Freitas efetua uma pesquisa em profundidade das relações entre perda parental, experiências de luto e comportamento anti-social. Lúcia Helena Carvalho Santos Cunha relata a breve experiência de diagnóstico e tratamento de uma criança psicótica, filha de pai ignorado e abandonada em condições de extrema penúria pela mãe. Do trabalho num colégio particular resultam as articulações de Marcela Decourt sobre os laços entre uma curiosa père(pai)versão contemporânea, “o pai que não quer nada”, e o fracasso escolar de um menino. Finalmente, Maria José Gontijo examina a questão da psicanálise aplicada na instituição judiciária, renovando o debate ético sobre a insuficiência da abordagem do crime pela via da lei e da culpabilidade, bem como a necessidade de tratar o excesso que transborda esse enquadre por meio da dimensão da responsabilidade.

Segue-se um conjunto de artigos sobre o excesso pulsional, o infinito do gozo, o limitado do amor feminino. Eles resultaram de uma conversação sobre as várias faces da erotomania feminina, animada pela psicanalista Sandra Grostein, cujas intervenções foram transcritas, resumidas e publicadas em atualidades. Rosa Guedes Lopes desenvolve, a partir do caso clínico de uma adolescente que se corta, um ensaio heurístico sobre as raízes da erotomania feminina no narcisismo. Maria Cristina Antunes, relata as relações entre obesidade e erotomania feminina, que se revelam a partir de sua pesquisa sobre a psicanálise aplicada ao tratamento da obesidade. Ana Paula Sartori localiza as condições epistemológicas do conceito de erotomania, que tem origem no campo da psicose. Seu trabalho permite circunscrever as proposições de Jacques-Alain Miller, quando ele estende sua pertinência ao campo do feminino, da pulsão, do gozo e do excesso.

Finalmente, Mirta Zbrun apresenta em nossa sessão clínica, com base na sua experiência à frente da Clínica Lacaniana de Atendimento e Consulta, uma leitura atualizada dos princípios da sessão analítica. Releitura essencial quando, na prática analítica, a psicanálise aplicada é sem standards, mas não sem princípios. Ana Paula Sartori resenhou o livro de Angelina Harari sobre a psicose, que além de um capítulo da autora, contém uma tradução preciosa de Clérambault. Márcia Zucchi nos apresenta às discussões sobre as precariedades do excesso de informação e comunicação, renovando o debate sobre a cultura cibertécnica, segundo dois pesquisadores no campo da saúde coletiva: Luís David Castiel e Paulo Roberto Vasconcellos-Silva.