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Laboratório de Ensino


SUPEREGO

Kin Fon Hwang 
 

A elaboração do conceito de Superego acompanha a evolução da obra freudiana, adquirindo cada vez mais importância à medida que esta avança. Embora seja um conceito pertencente à segunda tópica, podemos dizer que já estava presente na Interpretação dos Sonhos (1900), quando Freud se interroga sobre o agente responsável pela censura dos sonhos. Mais tarde, no texto Sobre o Narcisismo (1914), será a instância encarregada de referenciar o ideal do ego com o ego sendo responsável pela mensuração da distância entre as suas realizações efetivas (ego) e o modelo a ser alcançado (ideal do ego). No mesmo texto, Freud fala de uma instância que seria responsável pela consciência moral e por certos efeitos visíveis nas psicoses, como o fato de ouvir vozes. Na mesma época, em Luto e Melancolia (1917), Freud já fala de uma "parte do ego" destacada deste, que "julga-o de forma crítica", e que também seria responsável pelo sentimento de culpa.

Mas é na segunda tópica, com a descoberta da pulsão de morte, que o superego terá sua importância revelada em toda sua amplitude, especialmente em O Ego e o Id (1923), quando finalmente aparece com esta denominação, e são definidas suas relações com as outras instâncias. Nesse texto o superego assume na obra freudiana, de maneira definitiva, o papel de instância crítica e de auto-observação. Responsável pela reação terapêutica negativa, sua origem é atribuída à repressão paterna às investidas libidinais da criança à mãe, quando do declínio do Complexo de Édipo, mediante a internalização da autoridade, em especial a paterna. O superego é o "herdeiro do Complexo de Édipo", resultado não só das primeiras escolhas objetais da criança, mas também de sua repressão, de maneira que contém em si o que há de mais elevado e de mais baixo na natureza humana.

É o conceito de superego, com a delimitação de suas funções perante as outras instâncias, que permitirá a Freud elucidar o fenômeno da reação terapêutica negativa. Para Freud, o fato de o paciente se apegar ao sintoma deve ser remetido a uma auto-punição a que o paciente se submete, e que encontra satisfação no sofrimento causado pela enfermidade. Em outras palavras, o ego do paciente, em dívida para com o seu respectivo superego, expia sua culpa punindo-se no seu sintoma, sendo que a culpa será tanto maior quanto mais severo for o superego. O sentimento de culpa é a partir de agora atribuído a uma tensão entre o ego e o superego, sendo a percepção, no ego, daquilo que corresponde às críticas do superego.

A face cruel e irracional do superego aparece com destaque no texto O Mal-Estar na Civilização (1930), em que Freud desenvolve extensamente o tema da agressividade própria ao ser humano. Numa vida em civilização, no estágio caracterizado como cultura, as exigências que a tornam possível demandam ao ser humano que refreiem sua agressividade, que normalmente seria dirigida ao seu semelhante. Tal exigência só é possível mediante a submissão, pelo ego, dos valores morais constituintes do superego. Daí o Mal-Estar, causado pela Pulsão de Morte que passa a ser dirigida ao próprio ego do sujeito. Igualmente o masoquismo moral passa a ser considerado como uma reação do ego às críticas impiedosas do superego, resultando num desejo de sofrimento por parte do sujeito, sem motivo aparente.

 

- FREUD, Sigmund, A Interpretação dos Sonhos (1900), ESB, vol. IV, Rio de Janeiro, Imago, 1988.
- Sobre o Narcisismo: uma introdução (1914), ESB, vol. XIV, Rio de Janeiro, Imago, 1989.
- Luto e Melancolia (1917), ESB, vol. XIV, Rio de Janeiro, Imago, 1989.
- Além do Princípio do Prazer (1920), ESB, vol. XVIII, Rio de Janeiro, Imago, 1979.
- O Ego e o Id (1923), ESB, vol. XIX, Rio de Janeiro, Imago, 1985.
- A dissolução do Complexo de Édipo (1925), ESB, vol. XIX, Rio de Janeiro, Imago, 1985.
- Novas Conferências Introdutórias sobre a Psicanálise (1933), ESB, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1985.
- LAPLANCHE, Jean, PONTALIS, Jean-Baptiste, Vocabulário da Psicanálise, S. Paulo, Martins Fontes, 1998.
- MEZAN, Renato, Freud: A Trama dos Conceitos, S. Paulo, Perspectiva, 1998.

 

 

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