Laboratório de Ensino
ANGÚSTIA, SUSTO E MEDO
Luiza Rubim
Em 1920, quando Freud escreve o texto Além do Princípio do Prazer, afirma que muitas vezes os termos susto, medo e angústia são empregados como sinônimos. Empregá-los desta forma é um equívoco, já que as três palavras "...são, de fato, capazes de uma distinção clara em sua relação com o perigo". (Freud, 1976, v.18, p.23) Vejamos, a partir do autor, de que forma isso se dá.
A angústia diz respeito a um estado particular de "espera do perigo" ou de preparo para ele, mesmo podendo este ser desconhecido ou não distintamente identificado. Deste modo, o perigo pode não ser reconhecido como tal, mas a angústia se encarrega da função de avisar o eu sobre a sua proximidade. Quando, diante do perigo, surge a angústia, ela pode se tornar útil na medida em que consegue preparar o eu para enfrentá-lo, ao mobilizar suas defesas.
A especificidade do susto explicita-se quando se trata da neurose traumática, pois um dos fatores mais importantes nesta patologia é que "... o ônus principal de sua causação parece repousar sobre o fator da surpresa, do susto..." (Freud, 1976,v.18,p.23). O susto remete a um outro estado, distinto da angústia, no qual o sujeito encontra-se surpreendido pelo perigo que o acomete. Susto é o nome dado ao estado apresentado por uma pessoa, quando fica diante do perigo sem que haja uma preparação para ele.
A situação de medo remete a um objeto bem definido, que seria seu causador. O sujeito que sofre de medo sabe determinar qual é o objeto temido, ou seja, no medo o perigo é sempre determinado pelo objeto dito, apropriadamente, temido.
Na conferência XV intitulada A Angústia , Freud esquematiza sinteticamente a diferença entre os três termos: "Apenas direi que julgo "Angst" (angústia) referir-se ao estado e não considera o objeto, ao passo que "Furcht" (medo) chama atenção precisamente para o objeto. Parece que "Schreck" (susto), por outro lado, tem sentido especial; isto é , põe ênfase no efeito produzido por um perigo com o qual a pessoa se defronta sem qualquer estado de preparação para a angústia. Portanto, poderíamos dizer que uma pessoa se protege do medo por meio da angústia" (Freud, 1976, v.16, p.461).
Em suma, a distinção entre angústia, medo e susto é estabelecida a partir de Freud com o intuito de explicar a diferença da preparação do sujeito frente a uma situação de perigo.
Bibliografia:
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago, 1976:
____ Conferência XXV - A Angústia (1917), vol. XVI
____ Além do Princípio do Prazer (1920), vol. XVIII
____ Inibições, Sintomas e Angústia (1926), vol.XX
____Conferência XXXII - Angústia e Vida Pulsional (1933), vol.XXII
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