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Laboratório de Ensino


IDENTIFICAÇÃO

Alexandre Bustani Louzada e Kin Fon Hwang 
 

O conceito de identificação traz para a teoria psicanalítica uma nova concepção para a formação do eu. Em 1914, em "Sobre o narcisismo: uma introdução", Freud nos diz que o eu é um objeto investido libidinalmente, mas só em 1917 percebemos que o que é investido são as identificações com o outro que formam o eu.

É a partir de certas manifestações da melancolia que Freud esclarecerá certas nuances importantes do mecanismo da identificação. Na melancolia haveria uma regressão do investimento objetal para a fase oral ainda narcisista da libido. Nesta última o ego deseja incorporar o objeto devorando-o, numa forma de identificação já esboçada em Totem e Tabu (Freud, 1912 - 1913, pág 170). As auto-censuras e auto-depreciações que caracterizam a melancolia e que se julgavam dirigidas ao ego são na verdade dirigidas ao objeto de amor introjetado no ego por via da identificação e do qual, após ter sido perdido, o ego agora se vinga (Freud, 1917, pág 283-284). A melancolia é uma regressão a uma fase pensada como essencial para a constituição do eu, onde a diferença entre eu e outro não é tão demarcada. É do estudo da melancolia que Freud enuncia o modelo básico do mecanismo da identificação: um objeto investido libidinalmente dá lugar a uma identificação, a qual fará as vezes do objeto no ego.

Em "Psicologia das massas e análise do eu" (1921), encontramos a identificação como o tipo de laço libidinal mais primitivo no indivíduo, baseando-se em traços isolados de outra pessoa e servindo de molde para a construção do eu. Neste mesmo texto, Freud explica a coesão das massas a partir do processo de identificação que se dá entre seus componentes devido à relação libidinal desses componentes com o líder, que é colocado no lugar de ideal do eu.

A idéia da identificação como molde para construção do eu culmina em 1923 com o texto "O eu e o Isso", onde encontramos uma definição do eu como precipitado de identificações abandonadas. Podemos dizer que a identificação é uma hesitação entre o eu e o outro, na medida em que, sendo o primeiro constituído a partir de identificações com o segundo, a pergunta "quem é eu, quem é o outro?" se apresenta necessariamente e o par sujeito-objeto se torna extremamente complexo.

A identificação também possui um papel preponderante na constituição da identidade sexual a partir do complexo de Édipo. Ainda em "Psicologia das massas e análise do eu" (1921), Freud, referindo-se ao complexo de Édipo, nos diz que o menino gostaria de crescer como o pai e de ser como ele, ou seja, de se identificar com ele. Ao mesmo tempo, o menino desenvolve um investimento de laço libidinal objetal em relação à mãe, ele quer ser o pai de forma a ter direitos sobre a mãe. Dessa forma o menino apresenta um laço libidinal de identificação com o pai e um laço libidinal de investimento objetal com a mãe. A identificação com o pai é ambivalente porque apresenta tanto impulsos afetuosos como hostis. O aspecto hostil da identificação acaba por se identificar com o desejo de substituir o pai, dado que o pai representa um obstáculo ao acesso a mãe. Podemos concluir que a identidade sexual, assim como o eu, não é dada nem garantida desde o início, mas sim adquirida a partir do mecanismo da identificação.

FREUD, S. - Totem e tabu [1912-1913] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol 13, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. - Luto e Melancolia [1917] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 14 , Rio de Janeiro, Imago, 1996.

FREUD, S. - O eu e o isso [1923] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 19 , Rio de Janeiro, Imago, 1996.

FREUD, S. - Psicologia das massas e análise do eu [1921] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 18 , Rio de Janeiro, Imago, 1996.

FREUD, S. - Sobre o narcisismo: uma introdução [1914] in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 14 , Rio de Janeiro, Imago, 1996.KAUFMANN, P., Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: O Legado de Freud e Lacan - Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, RJ, 1996LAPLANCHE & PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise - 2ª edição, 7ª tiragem, Editora Martins Fontes, São Paulo, SP, 1997MEZAN, R., A trama dos conceitos - 4a edição, Editora Perspectiva, São Paulo, SP, 1998.

ROUDINESCO, E. & PLON, M.; Dicionário de Psicanálise - Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, RJ, 1998

 

 

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