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Laboratório de Ensino

IDEAL DO EU

Alexandre Bustani Louzada 
 

O conceito de ideal do eu é um conceito polêmico. Suas funções e seu estatuto de instância, sub-instância ou meramente função são continuamente modificados na obra freudiana. Sua primeira aparição se deu no texto "Sobre o narcisismo: uma introdução" de 1914, onde Freud nos fala de um narcisismo infantil durante o qual o eu era seu próprio ideal e se atribuía uma perfeição imaginária. Quando, segundo Freud, a criança se vê perturbada "pelas admoestações de terceiros e pelo despertar de seu próprio julgamento crítico" (Freud, 1914), que não permitem que ela retenha sua perfeição e causam uma ferida narcísica, ela procura recuperar a perfeição perdida sob a nova forma do ideal do eu. A questão é que ela não está disposta a se desfazer da satisfação que desfrutava pela perfeição narcisista infantil perdida e o ideal do eu passa a ser o substituto desta.

Em "Conferências introdutórias sobre psicanálise", de 1917, o ideal do eu passa a ser uma sub-instância do eu encarregada de uma consciência moral que permite avaliar as relações do eu com seu ideal. Freud ainda acrescenta que ele é um dos participantes da formação do sonho.

Em "Psicologia das massas e análise do eu", de 1921, o ideal do eu aparece como uma instância separada do eu que tem a capacidade de entrar em conflito com ele. Entre suas funções encontramos a auto-observação, a consciência moral, a censura onírica e a influência no processo de recalque. O ideal do eu observa o eu que é obrigado a afastar da consciência os impulsos que não se mostram compatíveis com os padrões do narcisismo. Freud acrescenta que é por colocar no lugar do ideal do eu o objeto de fascinação amorosa, o líder das massas e o hipnotizador, que se dá a relação de dependência para com eles.

Em "O eu e o isso" (1923), o ideal do eu aparece identificado com o supereu: "As considerações [...] nos levaram a presumir a existência de uma gradação no ego, uma diferenciação dentro dele, que pode ser chamada de 'ideal do ego' ou 'superego'" (Freud, 1923). Freud, ainda neste texto, nos fala da origem do ideal do eu, que seria formado por identificações com os pais e seus substitutos sociais, reunindo funções de interdição e de ideal, medidas por um padrão idealizado de educação, idéias éticas e cultura, que remete ao narcisismo infantil perdido e que condiciona o recalque.

Em "Novas conferências introdutórias sobre psicanálise" (1933), o ideal do eu aparece como precipitado da antiga representação parental e como uma função do supereu, com a qual o eu se compara e cuja reivindicação procura satisfazer através de um aperfeiçoamento cada vez maior.

 

FREUD, S., Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_____ Sobre o narcisismo: uma introdução [1914], vol. XIV.
_____ Conferências introdutórias sobre psicanálise [1917] , vol. XVI.
_____ Psicologia das massas e análise do eu [1921], vol, XVIII.
_____ O eu e o isso [1923], vol. XIX.
_____ Novas conferências introdutórias sobre psicanálise [1932], vol. XXII.

KAUFMANN, P., Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: O Legado de Freud e Lacan - Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, RJ, 1996

LAPLANCHE & PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise - 2ª edição, 7ª tiragem, Editora Martins Fontes, São Paulo, SP, 1997

MEZAN, R., A trama dos conceitos - 4a edição, Editora Perspectiva, São Paulo, SP, 1998.

ROUDINESCO, E. & PLON, M.; Dicionário de Psicanálise - Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, RJ, 1998

 

 

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