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Os lugares do analista no ensino de Lacan1

Erly Alexandrino da Silva Neto
Psicólogo/UFES (Espírito Santo, Brasil)
Especialista em Psicanálise/EAP/FAFIA (Espírito Santo, Brasil)
Mestre em Teoria Psicanalítica/Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica/UFRJ (Rio de Janeiro, Brasil)
erlyneto@gmail.com

Resumo

Este artigo resulta da dissertação de mestrado do autor, Os lugares do analista no ensino de Lacan. Nela, ele se propõe a explanar o problema do lugar do analista na obra de Lacan. Ao acompanhar os últimos cursos de orientação lacaniana de Jacques-Alain Miller, o autor deparou-se com uma elucubração de que o analista é o proton pseudos da psicanálise. Para Miller, os subsídios desta afirmativa encontram-se no último ensino de Lacan. Entretanto, ao efetuar a leitura dos últimos seminários (em especial de O sinthoma), o autor não encontrou nenhuma fórmula que, fora de contexto, pudesse garantir inequivocamente esta assertiva. Desta forma, realizou um estudo que acompanhasse o estatuto do analista em Freud e em Lacan e construísse o percurso da formalização do lugar do analista até as suas últimas elaborações.

Palavras-chave: psicanálise; lugar do analista; desejo do analista; estrutura simbólica; real.


 

O analista e seus lugares

A dissertação que redigi, Os lugares do analista no ensino de Lacan (Silva Neto, 2013), deve ser vista em interlocução com os últimos cursos de orientação lacaniana ministrados para a Associação Mundial de Psicanálise por Jacques-Alain Miller (2007, 2008, 2009, 2010, 2011), pois entendo que eles são referências para um determinado agrupamento de analistas a respeito das problemáticas atuais do campo psicanalítico. Estas problemáticas, por sua vez, se colocam a partir da premissa de que o laço social de nossa época não se configura da mesma forma que o do nascimento da psicanálise freudiana, e que, portanto, implica em mudanças para a estrutura psíquica e a clínica psicanalítica, pois a moralidade típica do laço social da aurora do século XXI tem propiciado o aparecimento do que alguns analistas chamam de “novos sintomas” (Bergeret, 2003; Soller, 2012 e Miller, Laurent e outros, 1998). Esta posição vem promovendo intensos debates de psicopatologia e de terapêuticas, bem como formulações a respeito da estrutura do laço social.

Os cursos de Miller, aos quais me referi, respondem a esta problemática através da construção teórica de uma, nomeada pelo próprio, orientação para o real. Este desenvolvimento é tributário da repartição lacaniana da experiência psicanalítica em três registros - o simbólico, o imaginário e o real - e que Miller desenvolve desde o início de seu ensino. A princípio, Lacan os organiza sobre a lógica da primazia do simbólico (autonomia simbólica) sobre os demais (heteronomia do imaginário e do real) concatenando-os em uma ordem SIR - O simbólico, o imaginário e o real (Lacan, 1953a). Esta organização permanece em boa parte de seu ensino, até que, após o seminário Mais, ainda (1972-73), em seu seminário não publicado, RSI (1973-74), o ordenamento dos três registros no título é alterado, sinalizando que a posição de primazia simbólica não é mais o ponto central. Este período final do ensino de Lacan é chamado, por Miller, de “último ensino”, e é em suas premissas que a orientação para o Real de Miller é alicerçada (segundo o próprio).

No desenvolvimento desta orientação, entretanto, Miller (2010) confere ao psicanalista o estatuto de proton pseudos da psicanálise, formulação que me soou estranha. Ora, este é o termo que Freud (1895, p. 407) utiliza para se referir à "primeira mentira" da histérica, e que reside no fato de o sintoma histérico se constituir através do processo primário e tomar um substituto simbólico para a cena traumática primitiva. Dizer que o analista é o proton pseudos da psicanálise, portanto, equivale a dizer que ele é uma formação simbólica substituta de uma outra situação, esta sim, real e recalcada.

Por mais que esta elaboração encontre seus ecos com os aspectos da repetição na transferência, não parece, de forma alguma, estar em acordo com o estatuto de real do amor transferencial que tanto Lacan quanto Freud se esforçam por empregar. Cito um exemplo em Freud:

"[...] a catexia libidinal de alguém que se acha parcialmente insatisfeito, uma catexia que se acha pronta por antecipação, dirija-se também para a figura do médico. Decorre de nossa hipótese primitiva que esta catexia recorrerá a protótipos, ligar-se-á a um dos clichês estereotípicos que se acham presentes no indivíduo; [...] Se a 'imago paterna', para utilizar o termo adequado introduzido por Jung [...], foi o fator decisivo no caso, o resultado concordará com as relações reais do indivíduo com seu médico." (Freud, 1912a, p. 112, grifos meus).

Em Lacan seleciono, em primeiro lugar, esta passagem de “Intervenção sobre a transferência” (1951) que mostra que, por um lado a transferência é apenas uma estagnação da dialética subjetiva diante da constituição de um objeto imaginário, mas o analista, este tem uma ação real a desempenhar:

"Em outras palavras, a transferência não é nada de real no sujeito senão o aparecimento, num momento de estagnação, da dialética analítica, dos modos permanentes pelos quais ele constitui seus objetos.
O que é, então, interpretar a transferência? Nada além de preencher com um engodo o vazio desse ponto morto. Mas esse engodo é útil, pois, mesmo enganador, reativa o processo" (Lacan, 1951, p. 224-225).

Em segundo, recorro a um seminário central a respeito do lugar do analista que é o sobre A transferência (1960-61), no qual Lacan se esforça por definir a transferência em outros termos que não o de “amor de segunda”, “falso amor” ou “repetição de um amor do passado”. Para ele, como para Freud, trata-se de um amor real pela "presença real" do analista como objeto, Coisa (Lacan, 1959-60):

"[...] estamos ali como isso [...] que se cala, e que se cala no sentido em que falta a ser. Estamos no último termo, em nossa presença, nosso próprio sujeito, no ponto em que se desvanece, que é barrado. É por esta razão que podemos ocupar o mesmo lugar onde o próprio paciente, como sujeito, se apaga e se subordina a todos os significantes de sua própria demanda." (Lacan, 1960-61, p. 334)

Assim sendo, se, por um lado, conferir este lugar para o analista me pareceu estranho, por outro, a formulação localizou o meu problema de pesquisa: em meio a estas configurações do laço e das atualizações da teoria, que lugar fica reservado para o psicanalista?

Como Miller se apoia nos últimos trabalhos de Lacan, dediquei-me à leitura deste “último ensino” de modo a averiguar como isso se dá na própria enunciação lacaniana. Ao ler o seminário sobre O sinthoma (Lacan, 1975-76), base de muitas linhas da orientação milleriana para o real, não me deparei com nada que fosse inequivocamente subsidiário do estatuto de proton pseudos para o analista, mas com o de sinthoma - "Penso que não se pode conceber o psicanalista de outra forma se não como um sinthoma [...]" (Lacan, 1975-76, p. 131).

O sinthoma, é claro que é necessário saber bem o que este termo significa. Para Lacan, ele é o enodamento entre os registros do simbólico e do real em sua máxima depuração do imaginário (1975-76), mas esta definição não é completamente inédita. Em O simbólico, o imaginário e o real (Lacan, 1953a), passando por todo seu primeiro ensino (em especial, ver 1953b, 1958, 1957-58), Lacan define o trabalho de uma análise como um trabalho que levará à realização do símbolo que está em causa nas formações do inconsciente, nas formações imaginárias. Para ele, (1953a), as imagens têm, nos animais, a função de despertar certos comportamentos instintivos - como a sombra no formato de um falcão que faz com que as galinhas se debandem - ou, mesmo, funções orgânicas mais complexas - como a maturação das gônadas dos pombos (1949). Mas quanto ao psiquismo humano, trata-se de outra coisa, são produções determinadas pelo simbólico irrealizado pelo sujeito (heteronomia do imaginário em relação ao simbólico) e, portanto, são imagens com valor de símbolo e que devem ser decifradas.

No desenvolvimento de sua teoria, no período que vai de 1962 a 1970 (do seminário sobre A angústia (1962-63) ao seminário sobre O avesso da psicanálise (1969-70) há, também, um direcionamento rumo à depuração imaginária. É um momento de estruturação do objeto a e de suas funções (momento que faço a devida introdução em minha dissertação) nos três registros: no imaginário ele é aquilo que se destaca de um fundo, que se projeta para fora de um plano chapado; no simbólico é o passível de ser cortado, servindo, portanto, como substituto do falo perdido pela castração; e no real é objeto de gozo, ponto de condensação ou esvaziamento libidinal. Em análise este objeto é pinçado das fantasias inconscientes que o analista constrói através de sua escuta, e trata-se de fazê-lo cair para que o vazio do desejo apareça, para que a pergunta sobre o desejo do Outro seja instaurada (Lacan, 1962-63 e 1964). Em todo caso trata-se da depuração do objeto imaginário da fantasia.

O sinthoma, portanto, como enodamento entre o simbólico e o real na máxima depuração do imaginário é fruto deste desenvolvimento, do manejo simbólico através da interpretação que resulta no corte de um objeto imaginário. Este corte possibilita a visada do real em causa no desejo através da questão, do enigma, promovendo uma reescritura dos circuitos pulsionais, dos roteiros do gozo. O analista como sinthoma, portanto, é do estatuto do traumatismo, pois que é o forçamento a uma nova escrita do gozo que seja depurada dos roteiros imaginários. Estatuto de real.

Para Freud, também, como já indiquei, o analista é bem real: real como cientista e como pivô do amor de transferência. Como cientista porque a psicanálise era, para ele, uma jovem ciência que apostava no determinismo inconsciente dos processos psíquicos. Ciência, em Freud, (basta reporta-se a “O futuro de uma ilusão” (1927)), é algo bem diferente de um faz de conta, da religião, por exemplo, e o analista, como cientista que conduz as experiências analíticas, não pode compartilhar o estatuto do proton pseudos que elucida.

Como pivô do amor de transferência não é diferente. Para Freud, o amor de transferência é real, e o analista é parte realmente integrante de sua constituição (ver, sobretudo, “A dinâmica da transferência” (1912) e “Observações sobre o amor transferencial” (1915)). A diferença entre o amor de transferência e o amor propriamente dito se dá apenas pelo fato de que o analista não é um amante, mas ocupa outra posição. Nesta concepção, o analista é um componente real deste amor, igualmente real, e é só por não estar ali de mentirinha que pode intervir sobre a transferência e atrair para si a potência deste amor que ele maneja, ou seja, é de fato a sua presença real e seu real interesse nesta construção que o permitem trazer à tona os conteúdos latentes em jogo no estabelecimento da transferência. A esta demonstração dediquei o primeiro capítulo de minha dissertação.

Quanto a Lacan, entretanto, não posso contentar-me em expor suas últimas formulações, pois não são nada fáceis de serem lidas e estão longe de serem consensensuais. Creio que tenha demonstrado isso ao remontar a que tipo de depuração Lacan se refere ao falar de sinthoma. Desta forma, é preciso que todo trabalho do último período esteja em relação com a construção do caminho que levou até ele. Assim, pesquisei o período de 1951 a 1964 – respectivamente o início dos primeiro e segundo ensinos – e escandi este período em três tempos: fundação, classicismo e estatuto do objeto. Em cada um deles faço o esforço de expor e demonstrar o extrato da teoria a cada momento e identificar que lugar é reservado ao analista em cada uma delas, sempre verificando as relações do estatuto deste lugar com a concepção de real do respectivo sistema teórico. A intenção, é claro, é a de verificar a hipótese sobre o estatuto do analista: é o do real ou o da ficção?

Ao situar a análise na dimensão da verdade, Lacan se mantém nesta dimensão moral e ética que Freud sustenta tão bem ao dizer que não se trata, na análise, de eliminar nem a tendência sensual e nem a ascética, mas de trazer o conflito à consciência para que o sujeito o resolva a seu modo (Freud, 1910 e 1917a). É neste contexto da elaboração lacaniana que o analista é colocado no lugar de mestre/senhor moral (Lacan, 1952 e 1953a), pois quando se concebe que a experiência se desenrola na dimensão da verdade, não há outro lugar onde situar o analista senão na posição daquele que é procurado para solucionar os impasses do sujeito em seus dilemas éticos.

Este é um lugar determinado pela própria estrutura psíquica, pois é da instância que Freud chamou de supereu (1923) de que se trata. O analista faz uso desta posição para que o analisado possa significar e retificar suas relações com a instância do mestre. Isso é equivalente a dizer que o sujeito atravessa seu complexo de Édipo, superando as rivalidades imaginárias com as figuras familiares e realizando seu lugar na estrutura como fórmula de final de uma análise, que pode ser entendida como a passagem da injunção superegoica para a identificação ao Ideal-do-eu (Lacan, 1957-58). Pelo menos em hipótese.

Após estas elaborações iniciais, Lacan lançou mão do estruturalismo francês, como a linguística de Saussure e a antropologia de Claude-Levy Strauss, para formalizar suas assertivas (1953b, 1954-55, 1955-56a, 1957 e 1957-58) e, pouco a pouco, seu ensino foi ficando cada vez mais dedicado às estruturas - fossem as do significante, as da lógica matemática ou das teorias de jogos. Ao construí-las forjou o lugar do Outro, com maiúscula, como instância psíquica da alteridade simbólica e do reconhecimento do desejo inconsciente. É o período clássico do lacanismo.

Nesta configuração, o inconsciente é uma cena que se passa entre o sujeito e o Outro e é estruturada como linguagem, e dizer isso significa dizer que o inconsciente não é nem um depósito do esquecido e nem o instinto insabido, mas, em primeiro lugar, uma estrutura esquecida e insabida que é organizada segundo os princípios dos processos primários freudianos (1911a) de deslocamento e condensação. Estes princípios foram retomados por Lacan como leis do funcionamento autônomo do significante e chamados, respectivamente, de metonímia e metáfora (Lacan, 1953b, 1956-57 e 1957).

Além disto, a estrutura constitui lugares funcionais que são pontos de entrecruzamento da estrutura com a fala - processo subjetivo de enunciação através da passagem pela estrutura da linguagem - própria e do Outro. O Outro como lugar é, primeiramente, o destinatário e receptor das mensagens do sujeito, competindo a ele decodificá-las (através das leis de substituição significante), respondê-las ou recusá-las. Posteriormente, é o depositário da bateria de significantes e o portador das próprias leis da linguagem, sendo, portanto, o próprio lugar da linguagem. Uma vez que é, a um só tempo, destinatário das mensagens do sujeito, alvo de seu desejo, e lugar da linguagem, o Outro pode sancionar a fala do sujeito, incorrendo nesta resposta, que chamamos interpretação, capaz de mostrar ao enunciador o desejo que veiculou em sua mensagem. O lugar do grande Outro, e sua eficácia, se dão à medida que o sujeito direciona a ele as mensagens de seu inconsciente, esperando uma resposta às suas questões. Este é o circuito que o grafo do desejo (Lacan, 1957-58, p. 353) estrutura em uma tópica de linhas, um circuito do significante e do desejo.

Este é o lugar, no sentido próprio do termo, que o sujeito dará a qualquer um que venha a dizer-lhe algo sobre o seu desejo, o analista diferenciando-se dos demais por servir-se deste lugar com um propósito inédito: tornar consciente o desejo inconsciente. Para tanto, é preciso que ele tenha esvaziado suas identificações narcísicas e não se deixe tomar por um rival ou amante, o que contribuiria para o advento das resistências e a interrupção da análise (Lacan, 1954-55).

Senhor moral e lugar do Outro são, respectivamente, a dimensão ética e a estrutural da instância do mestre. Não é que o lugar do analista mude de estatuto entre a fundação e a consolidação do lacanismo, mas que a instância do mestre na estrutura é o lugar do Outro e de seu ideal - I(A). Portanto, para se conduzir, em Lacan, uma interpretação, um determinado saber do analista sobre a estrutura é necessário: a maneira pela qual se estabelece uma significação (metáfora) (1955-56a, 1957-58 e 1958b); o estatuto metonímico do objeto e do desejo (1956-57); os mecanismos imaginários de captura narcísica (1954-55); e a localização dos problemas de realização do Édipo (1952, 1953a, 1953b). Este último saber colocará em evidência qual das três operações de falta do objeto - frustração, privação ou castração - estão em jogo no sofrimento do sujeito, bem como o grau e a maneira pela a qual o sujeito se esquiva da angústia de castração, evitando submeter a ela seu gozo narcísico. Ao receber a mensagem de seu desejo, invertida, a partir do Outro, o sujeito estaria apto a simbolizar o falo e a circunscrever seu gozo, encontrando sua cura no estabelecimento de uma relação dialética com seu desejo. Entretanto, Lacan não deixa de acentuar como o complexo de castração e o falo são problemáticos na teoria freudiana (1957-58), e isso quer dizer que não se atravessa o Édipo incólume, há restos. Há, antes de tudo, todo o autoerotismo da pulsão que se relaciona muito mais com a satisfação das zonas erógenas do que com o ideal de amor genital. Mesmo nos indivíduos maduros a sexualidade não se unifica sobre o primado do falo, jamais abandonando as satisfações com os objetos da pulsão. A genitalidade, portanto, não é uma pulsão como tal, mas uma montagem que articula as satisfações pulsionais em torno de um determinado objeto privilegiado (Lacan, 1953b, 1964).

Ao formalizar o Édipo através da operação significante da metáfora paterna, na qual o Nome-do-Pai confere a significação fálica ao desejo da mãe, Lacan (1957-58) não deixa, também, de se complicar com o problema. Por mais que tenha sido bem sucedido em submeter várias formações do inconsciente à significantização (chistes, atos falhos, sonhos, acting out, lapsos e, até mesmo, a fantasia), o desejo permanece irredutivelmente ligado a um outro imaginário e o falo jamais aparece como significante propriamente dito.

Claro, o falo só apareceria como significante se o complexo de castração fosse apaziguável. Para Freud, não era, e chegou mesmo a ser o limite da eficácia da análise (1937). Fato é que a significantização do falo no seminário sobre As formações do inconsciente (Lacan, 1957-58) não foi bem sucedida (e mostrarei, mais adiante, que certas inovações teóricas imediatamente posteriores, como a Coisa e o agalma, são oriundas desta inadequação). Isso é extremamente problemático para a interpretação do desejo, pois, uma vez que ela opera pela metaforização da metonímia - ou seja, da significação -, ela depende do falo como significante em posição de exceção.

Uma das primeiras tentativas de resolução deste problema se inicia no sétimo seminário quando (1959-60]), com o resgate da Coisa freudiana do “Projeto para uma psicologia científica” (Freud, 1895), Lacan introduz em sua estrutura do sujeito um oco central: a Coisa que não serviu nem para identificação imaginária e nem pôde ser designada pelo significante. O desejo é repaginado como tragicamente atraído para este vazio central que, nas fantasias, aparece como o gozo fora-da-lei de um objeto proibido. Para olhos atentos o que se realiza, além de localização de um núcleo de puro real na estrutura, é uma nova relação entre falo e desejo. É a partir desta construção que se pode identificar no primeiro ensino de Lacan um momento dedicado à precisão estatutária do objeto não conta apenas com o imaginário, mas com o real.

No seminário sobre A transferência (Lacan, 1960-61), a problemática do falo é retomada sob a forma do símbolo F, símbolo e não significante. Ali é formulado que o falo imaginário permanece narcisicamente investido (no nível da imagem, portanto) e exerce a função de investir libidinalmente a imagem do outro como objeto parcial, fazendo dela um objeto do desejo. O falo não advém como significante, mas como símbolo, presença real do desejo. O objeto parcial falicamente investido aparece e tampona a questão sobre o desejo, que, para ser sustentada, depende da assunção da falta significante em seu nível. Portanto, ao falar da mola da transferência é ao desejo pela imagem investida do Outro (degradado em outro) que Lacan recorrerá, ou seja, a mola da transferência é aquilo que irrompe como resistência, cessão do endereçamento das mensagens ao Outro. O analisado passa a amar o analista no momento em que supõe a ele um objeto precioso e que quer muito - seja pra comer, descartar, admirar ou seduzir. Este objeto é comparando, por Lacan, ao agalma, que Alcibíades procurava em Sócrates, no banquete de Platão (2009), e dá seu estatuto com teoria do amor parcial do objeto, de Abraham.

Neste contexto, outra faceta do lugar do analista é desvelada. O que o coloca em lugar de mestre e de Outro é a possibilidade de ser tomado como objeto - e que o tipo de objeto que figura aqui dá o timbre de qual Outro está em jogo para o analisado. É apenas ao saber que ocupa, também, este lugar, de um objeto bem real na economia libidinal do sujeito, que se pode driblar esta resistência imaginária e restaurar a dimensão simbólica. Esta, por sua vez, é alicerçada pela sustentação da questão sobre o desejo, na manutenção de seu caráter de enigma. É, para usar o exemplo de Lacan, fazer como Sócrates: saber um pouquinho sobre as coisas do amor e compreender que este objeto, diferentemente do que supõe o amante, não está sob a posse do amado, sendo utilizado, pelo analisado, como engodo. A partir disso é necessário, para o analista, abrir mão do desejo de ser desejado, reconhecer-se como despossuído e exultar o analisado a “ocupar-se de sua alma”, ou seja, “o que queres?”.

Para que um analista exorte seu analisado a ocupar-se de sua alma, portanto, é preciso sustentar seu desejo como enigma, mantê-lo lá para que o analisado possa se perguntar sobre ele. Sua especificidade, por sua vez, é a de ser esvaziado das imagens fálicas, prevenido sobre a mola do amor e da transferência e, portanto, um desejo que não se coloca pela via da demanda, ou seja, não é um desejo que se presentifica pelo pedido do impossível, mas pela sustentação da interrogação sobre o ser: desejo de saber.

O seminário sobre A angústia (Lacan, 1962-63) dá continuidade à precisão estatutária do objeto, situando-o não mais como o outro especular e nem como agalma, mas como algo que fica autoeroticamente investido no real, o estranho familiar do sujeito. O objeto a é real, e não é necessariamente a imagem do outro com valor fálico, ou seja, ele pode ser lixo, rebotalho, resto do processo de metaforização do desejo. Se o agalma foi apresentado como a imagem do outro parcialmente investida pela libido empregada no falo imaginário, o objeto a se constitui, estatutariamente, de outra maneira.

Ao dar continuidade, no décimo seminário, à problemática da emergência do desejo como tal, iniciada no oitavo, Lacan pontua que no advento da etapa fálica da organização da libido, não emerge, no psiquismo, nenhuma representação total da sexualidade, ou seja, nenhum objeto genital advém. O falo figura, portanto, registrado como falta, porque caiu sob o corte da operação de castração. Diante desta negativização do falo, a resposta do sujeito será a construção de fantasias que o positivem, que o velem e tamponem a falta fálica. Esta construção se faz com o reaproveitamento dos objetos da demanda: na ausência de um objeto natural para o desejo, na falta do falo, o sujeito lança mão dos objetos autoeróticos como substitutos. Entretanto, ao lado disso há a angústia.

A angústia é definida por Lacan (1962-63) como o afeto que não engana, pois se dá na presença de alguma coisa bastante estranha e real para o sujeito. É no trabalho “O estranho”, de Freud (1917c), que Lacan busca o estatuto desta irrupção, algo que é, para o sujeito, simultaneamente, familiar e estranho, e que é o objeto a em sua vertente demoníaca, onde, diferentemente da fantasia, ele aparece desvelado para o sujeito. Portanto, através da constituição do amor de transferência (fantasia) ou da irrupção da angústia em análise, é possível saber que o analista ocupa o lugar do objeto. A partir deste momento é possível proceder pela interpretação como corte, pois esta é aquela que visa o objeto causa do desejo, e que só pode ser realizada em sua presença. Aqui também o analista possui o estatuto de real, pois se pode ocupar o lugar de objeto e fazer a angústia emergir – sentimento que não engana quanto à presença real do objeto – não é da ficção que se trata. Contudo, é apenas com a formalização conceitual do seminário sobre Os quatro conceitos fundamentais (Lacan, 1964) que esta mudança pode ser vista claramente para o estatuto do lugar do analista. Ao repaginar inconsciente, repetição, transferência e pulsão, Lacan, em primeiro lugar, dá um estatuto real a todos estes artefatos analíticos, aos quais chamará de conceitos fundamentais.

O inconsciente real é o evasivo, aquele que tem um movimento abertura e fechamento, pulsação ritmada pelo tempo lógico. Enquanto está aberto é possível entrever algo do sujeito, mas quando ele pulsa e se fecha, o analista fica do lado de fora, a fazer apelo por sua reabertura. O fechamento, diz Lacan, é dado pela irrupção da realidade sexual do inconsciente, e isso quer dizer que a transferência se estabeleceu como resistência, tomou o analista como objeto e obturou a hiância real do inconsciente com esse pequeno a.

A realidade sexual que ela atualiza é a pulsão, que não pode fornecer nenhuma outra representação da sexualidade a não ser “passivo/ativo”, justamente porque, no real, a pulsão é apenas um circuito que parte de uma borda erógena, contorna um objeto substituto ao objeto perdido e retorna à mesma borda da qual partiu. Sua satisfação se encerra aí, é acéfala e autoerótica, bem como não diz nada a respeito do sexo do sujeito. Para que ele possa realizar seu desejo, saber de seu sexo, portanto, o sujeito precisa passar ao campo do Outro, pois é aí que se escrevem os tipos sexuais - e não no instinto. É no campo do Outro que se estabelecem as representações da sexualidade sob a forma que conhecemos: homem e mulher. Esta passagem do registro do autoerotismo objetal das pulsões para a identificação ao tipo sexual é o processo chamado sexuação, e não há outro sentido para ele que não a sublimação da pulsão no tipo sexual. Entretanto, passar ao campo do Outro simplesmente, sem realizar nada a respeito da falta, é apenas sujeitar-se ao campo do sentido, ficando-se alienado de uma parte fundamental do ser. Não advir no campo do Outro também não é uma solução, pois aí não haveria algo para se ser, no que o desejo restaria irrealizado e opaco. Esta é a operação que Lacan define como alienação.

O único passo possível a dar, no sentido da realização do desejo, é sustentar a pergunta sobre a falta no campo do Outro: pode ele me perder? Desta maneira o sujeito, ao significar o que o Outro perderia se o perdesse, apreende o objeto que está em jogo no campo do Outro (a) e pode nomeá-lo (S1). Esta operação é chamada, por Lacan, de separação e, por revelar a articulação entre significante e gozo, pode viabilizar o advento de algo da satisfação da pulsão no campo do Outro, ou seja, o advento do sujeito do desejo. Portanto, ainda que se identifique ao tipo “homem” ou ao tipo “mulher” - escritos no campo do Outro - não há realização do desejo sem que algo de sua montagem singular das pulsões seja nomeado e venha se escrever, agregar, este campo.

É a partir daqui que posso apontar as linhas de desenvolvimento rumo ao analista como sinthoma (Lacan, 1975-76) e como traumatismo, pois a construção teórica sobre o desejo do analista é algo que é feito para lembrar que, em uma análise, trata-se da condução da interrogação do ser até que haja a perda constitutiva que restaure a hiância necessária à realização do sujeito do desejo. Perda traumática de um objeto, mas com o benefício libertador de saber qual é o nome de seu gozo.

Do analista em posição de objeto ao analista como sinthoma não crio ilusões: há um enorme salto que não desenvolvo em minha dissertação. Entretanto, é possível entrever no que a segunda é tributária da primeira, pois o analista como sinthoma é, nada mais, do que dizer que o analista nomeou algo de seu gozo, escreveu algo de seu desejo no Outro e que seu desejo é equivalente a restar ali como testemunha deste processo para seu analisando, exortando-o, com seu ato, a conduzir seu próprio trabalho de redução do real (Lacan, 1975-76).

Analista no lugar de mestre moral, de Outro, de objeto a e de sinthoma. Quatro posições distintas implicadas por sistemas teóricos distintos e que devem ser vistas não como mutuamente excludentes, mas como uma série de camadas superpostas, em analogia com a própria sedimentação “arqueológica” das sucessivas etapas de organização do psiquismo, que sempre preservam em si um resto das etapas anteriores.

Conduzir um sujeito à articulação de sua pulsão no Outro só pode ser alcançado pelo encontro traumático com o real da ausência de um representante pulsional para o genital: precursor do axioma lacaniano da não-relação sexual (Lacan, 1971 e 1972-73). Promover o encontro do sujeito com sua falta é, em última instância, levá-lo a se haver com o real em jogo no seu gozo e seu desejo, traumatismo, portanto, e um traumatismo provocado pela presença real do analista em seu devido lugar, levando-me a concluir, para o período pesquisado, um estatuto do analista bem distinto do proton pseudos.


Nota

 
  1. Artigo resultante da defesa de dissertação de meu mestrado - financiado pelo programa de bolsas da CAPES -, realizada no dia 11 de março de 2013 no PPGTP/IP/UFRJ, sob orientação da Profª. Dra. Tania Coelho dos Santos. Os títulos do presente e da dissertação são idênticos.  


Referências bibliográficas

FREUD, S. (1895). Projeto para uma psicologia científica, in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. I, p. 335-454.
FREUD, S. (1910). Cinco lições de psicanálise, in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XI, p. 143-156.
FREUD, S. (1911a). Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico, in Escritos sobre a psicologia do inconsciente. Trad. Sob a coordenação de Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, vol.1, 2004, p. 63-70.
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Resumos

The analyst’s roles in Lacan’s teaching

This article is the result of the author's dissertation, the roles of the analyst in Lacan. In it, he proposes an explanation for the issue of the role of the analyst in the work of Lacan. By tracking Jacques-Alain Miller’s last Lacanian orientation courses, the author was faced with an affirmation that the analyst is protonpseudos of psychoanalysis. For Miller, proof of this statement is in the last teaching of Lacan. However, when reading recent seminars (especially The sinthome), the author found no formula that, out of context, could guarantee this statement unequivocally. Thus, conducted a study that accompanied the status of the analyst in Freud and Lacan and built the route to formalize the analyst’s position until its final theoretical creations.

Keywords:
psychoanalysis, position of the analyst, the analyst's desire; symbolic structure, real.


Les roles de l’analyste dans l’enseignement de Lacan


Cet article est le résultat de la thèse de l'auteur, les roles de l'analyste chez Lacan. Dans ce travail, il se propose d'expliquer le problème de la place de l'analyste dans l’oeuvre de Lacan. En suivant le dernier cours orientation lacanienne de Jacques-Alain Miller, l'auteur a été confronté à une élucubration selon laquelle l'analyste est le protonpseudos de la psychanalyse. Pour Miller, les fondements de cette déclaration sont dans le dernier enseignement de Lacan. Cependant, dans sa lecture des séminaires récents (en particulier le sinthome), l'auteur n'a trouvé aucune formule qui, hors contexte, pourrait garantir cette déclaration sans erreur. Ainsi, il a mené une étude qui accompagne le statut de l'analyste dans Freud et de Lacan et construit la voie de la formalisation de la position de l'analyste à ses élaborations finales.

Mots-clés: psychanalyse, la position de l'analyste, le désir de l'analyste, la structure symbolique, réel.


Citacão/Citation: SILVA NETO, E. A. da. Os lugares do analista no ensino de Lacan, in Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VIII, n. 15, nov. 2012 a abr. 2013. Disponível em www.isepol.com/asephallus

Editor do artigo:
Tania Coelho dos Santos.

Recebido/Received:
04/03/2013 / 03/04/2013.

Aceito/Accepted:
14/04/2013 / 04/14/2013.

Copyright: © 2013 Associação Núcleo Sephora de Pesquisa sobre o moderno e o contemporâneo. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permites unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the author and source are credited.