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A toxicomania como paradigma do entorpecimento pulsional1

Thales Siqueira de Carvalho
Psicólogo
Psicanalista
Especialista em Teoria Psicanalítica pela UFMG
Mestre em Investigações Clínicas em Psicanálise pela UFMG
E-mail: siqueiracarvalho@hotmail.com

Márcia Maria Rosa Vieira
Professora Adjunta no Departamento de Psicologia / UFMG (Minas Gerais, Brasil)
Doutora em Letras / UFMG (Minas Gerais, Brasil)
Pós-Doutorado em Psicanálise / UFRJ (Rio de Janeiro, Brasil)
Pós-Doutorado em Psicanálise / UFMG (Minas Gerais, Brasil)
E-mail: marcia.rosa@globo.com

Resumo

No trabalho clínico com pacientes toxicômanos, somos colocados constantemente diante de impasses que comprometem o progresso do tratamento, como, por exemplo, a indiferença frente aos riscos de morte, pouquíssima aderência ao tratamento e a prevalência do ato em detrimento às palavras. Para além de tais manifestações, escolhemos, como objeto deste artigo, a relação autoerótica do sujeito toxicômano com o corpo, tomando-a como paradigma da estrutura viciante própria da pulsão. Assim, o crescente número de casos de adições compulsivas, especificamente as toxicomanias, apresenta-se em nossa contemporaneidade marcado pela permissividade ao gozo desmedido como um paradigma do caráter entorpecente e extasiante próprio da pulsão.

Palavras-chave: psicanálise, toxicomania; autoerotismo; narcisismo; entorpecimento pulsional.


 
 

“É extremamente lamentável que até agora esse lado tóxico dos processos mentais tenha escapado ao exame científico” (Freud, 1930, p.97).

“Ya se puede pressentir que el verdadero tóxico ― el que nos ocupa en una clínica psicoanalítica ― no es probablemente la droga como tal!”2 (Sylvie Le Poulichet (2005, p.86)

A toxicomania é uma modalidade de uso de drogas que se torna um hábito excessivo e desmensurado, do qual o indivíduo usuário apresenta grande dificuldade de abster-se. Nela, os outros e os ideais parecem excluídos da mira do sujeito. Além disso, fica notável a relação autoerótica do toxicômano com o corpo, tomando-a como paradigma da estrutura viciante própria da pulsão presente em todos os sujeitos, porém em graus diferentes e, a nosso ver, potencializada pela configuração social contemporânea.

O fechamento dos sujeitos em si mesmos é uma marca de nossa época. Com o passar dos dias, cada vez mais, vemos indivíduos inacessíveis aos contatos e encapsulados em um gozo solitário ininterrupto. Na nossa configuração social atual, os espaços, as faltas e os intervalos estão cada vez mais suprimidos. As exaltações do gozo, um após outro, em um encadeamento sem fim, marcam o empuxo desenfreado à morte, em detrimento da causa de desejo. Naparstek alerta-nos para as práticas festivas do after and after3, em uma espécie de “empuje a una fiesta permanente con un intento de hacer desaparecer el resto”4 (Naparstek, 2009, p. 13).

Laurent apresenta como um marco da toxicomania a possibilidade de “gozar sem o fantasma” (Laurent, 1995, p. 19). Para Naparstek, em termos de modalidade de gozo, na “toxicomanía se trata de un goce autoerótico”5 (Naparstek, 2010, p. 49). Seguindo esta articulação, porém em contexto clínico, ressaltamos o que certo paciente responde ao ser perguntado sobre sua repetição rotineira do uso da droga: “você fica acostumado... viciado na situação”. Neste sentido, Le Poulichet afirma que, não só há uma postura isolada de autodestruição, mas também, na toxicomania, “vemos surgir la perspectiva de una operación esencialmente conservadora que protege a una forma de narcisismo”6 (Le Poulichet, 2005, p.69).

O “vício na situação”, a dificuldade de abrir mão do “acostumado” ao uso, dito por um paciente em tom de desespero, e o apontamento teórico de Le Poulichet nos leva ao que Freud (1914) formula no texto “Sobre o narcisismo”. Ele nos fala de um período da constituição do sujeito, o narcisismo primário, em que a libido não está lançada ao mundo, às pessoas e às coisas, justamente por existir um interesse preso ao investimento pulsional em si mesmo. Neste texto, colhemos a afirmação freudiana de que o narcisismo é algo encontrado “em muitas pessoas que sofrem de outras perturbações”, embora tal processo também faça parte do “curso regular do desenvolvimento sexual humano” (Freud, 1914, p. 89). Nessa direção, Miller aponta que “Freud inventa um narcisismo primário, para dizer que o lugar primário do gozo é o eu e o interesse erótico que ele dedica a si mesmo” (Miller, 2005, p. 133).

Para Freud, o narcisismo é “o complemento libidinal do egoísmo da pulsão de autopreservação, que, em certa medida, pode justificavelmente ser atribuído a toda criatura viva” (Freud, 1914, p. 90). Ao exemplificar situações onde podemos perceber a presença de um narcisismo primário, Freud apresenta os pacientes que ele denomina de “parafrênicos” em alusão aos casos clínicos de demência precoce ou esquizofrenia. Ele formula que o parafrênico é marcado por um narcisismo que o impede de seguir no tratamento psicanalítico. Desse modo, tal paciente apresenta “desvio do interesse do mundo externo – de pessoas e coisas [...] sem substituí-las por outras na fantasia” (Id., Ibid.). Ele afirmará ainda que a mais marcante diferença entre as afecções parafrênicas e as neuroses de transferência é que “nas primeiras, a libido liberada pela frustração não permanece ligada a objetos na fantasia, mas se retira para o eu” (Id., p.102). Isto é, a libido permaneceria fixada ao modo de funcionamento do narcisismo primário. Tal situação nos leva a indagar se haveria alguma aproximação possível entre o funcionamento do paciente compulsivo pelo recurso à intoxicação crônica e o parafrênico, por sua retirada do investimento no mundo externo.

Com relação ao narcisismo, vale ressaltar que o uso dessa palavra é introduzido no campo clínico das psicopatologias por Havelock Ellis e Paul Näcke, respectivamente em 1898 e 1899, conforme o próprio Freud nos diz nos textos “Sobre o narcisismo” (1914) e “Além do princípio do prazer” (1920).

O termo narcisismo se origina da cultura grega, precisamente no mito de Narciso. Tal personagem é assim denominada na mitologia grega em alusão à palavra nárke. No vocabulário grego, de acordo com Brandão, tal termo significa “entorpecimento, embotamento” (Brandão, 1992, p. 155) de onde se derivou a palavra narcótico. O termo nárke pode ser entendido também como “torpor” (Brandão, 2005, p. 173). Para os gregos, Narciso simbolizava a insensibilidade, a indiferença pelo mundo a sua volta, visto que era entorpecido por si mesmo e/ou embotado em si mesmo. Conforme Spinelli, “o mito de Narciso representa (senão para os gregos ao menos para nós) o drama da individualidade” (Spinelli, 2010, p.99).

Para Miller, ao tomarmos contato com a noção freudiana de narcisismo, somos remetidos ao que inicialmente se designa pela:

 

“atitude do indivíduo na qual ele toma seu corpo próprio como objeto libidinal e o erotiza, dedicando-lhe cuidados semelhantes aos que ele dedica ao corpo de um objeto desejado. Eis, no fundo, o lugar primordial do narcisismo: a erotização do corpo próprio.” (Miller, 2005, p.132).

Podemos pensar que o narcisismo é responsável pelas formas de se viver nas quais o contato com o Outro é rechaçado, seja pela via da droga ou de práticas diversas de consumo. Contudo, Naparstek ainda nos alerta que o que a clínica com toxicômanos e alcoolistas nos mostra é a perspectiva autônoma dos novos sintomas:

“[...] es esta perspectiva del síntoma auto: que el síntoma toxicómano no precisa del Otro, es más, muchos de los pacientes son sustraídos del entorno y muchas veces dicen: ‘Yo no sé porque me traen, yo sé lo que estoy haciendo, sé que me voy a morir pero la paso fantástico. No tengo ningún problema’” 7 (Naparstek, 2010, p. 68).

Se formos às atas da reunião das quartas-feiras coordenadas por Freud e frequentadas pelos primeiros psicanalistas em Viena, podemos colher algo interessante, principalmente na reunião do dia 20 de janeiro de 1909 destinada à apresentação do trabalho “Neurosis and toxicosis”8 do Dr. Hitschmann. Além do relator do dia, a presente reunião contou com a participação de Freud, Adler, Bass, Federn, Heller, Rank, Stekel e Wittels. Na época, a reunião levanta a ideia sobre uma possível toxidade do organismo influenciando o funcionamento psíquico ou até mesmo a formação de psicopatologias. Os membros da reunião chegam a comparar o adoecimento psíquico aos adoecimentos orgânicos autoimunes, como por exemplo, as doenças endócrinas. Na ata, Hitschmann diz:

 

“For Freud himself, the insight was not closed of that the anxiety neurosis and neurasthenia will one day have to be conceived of as toxicosis; indeed he himself points to the great similarity between anxiety neurosis and Basedow's disease” 9 (Hitschmann, 1909, p. 108).

A discussão dos membros da reunião gira em torno da questão sobre a existência de alguma toxidade própria das doenças psíquicas, assim como adoecimentos derivados de distúrbios de glândulas do próprio organismo, no caso, a glândula tireóide, doença descoberta por Robert Graves em 1835 e denominada, na época, de doença de Basedow-Graves. A ideia introduzida aqui se referencia no fato de a neurose possuir ou não, em seu funcionamento, a mesma lógica das doenças orgânicas autoimunes. Freud, na mesma reunião, ao argumentar o comentário de Hitschmann, levanta a questão sobre o adoecimento psíquico ser um problema de ordem quantitativa, ou seja, por “effects of deficiency or accumulation”10 (Hitschmann, 1909, p. 114) de alguma substância no organismo. Freud faz ainda duas comparações:

 

“Neurasthenia which is caused by a process of impoverishment, has the greatest clinical resemblance to intoxications; anxiety neurosis, which is caused by insuficient discharge, has the greatest resemblance to symptoms of abstinence” 11 (Hitschmann, 1909, p. 114

Em vista dos comentários acima, podemos pensar haver certa toxidade inerente à pulsão? Se estivermos certos disso, ao basearmos tal hipótese nas discussões de Freud ao longo de sua obra, somos levados a entender a toxicomania como fruto de uma acentuação ou agudização de um entorpecimento pulsional que já é próprio do funcionamento psíquico. O próprio Freud chega a ratificar a ideia trazida desta reunião clínica de 20 de janeiro de 1909, ao afirmar que os adoecimentos psíquicos são “estados oriundos de um excesso ou falta relativa de certas substâncias altamente ativas, quer produzidas no interior do corpo quer nele introduzidas de fora; em suma, são distúrbios da química do corpo, estados tóxicos” (Freud, 1925[1924], p. 267).

No texto “Projeto para uma psicologia científica”, Freud falava dessa tendência à descarga pulsional – quando o aparelho psíquico encontra-se fixado em fontes de prazer – que pode ser conhecida como “princípio da inércia neuronal: os neurônios tendem a se livrar de Q [...] essa descarga representa a função primária do sistema nervoso” (Freud, 1950[1895], p.316). Vale ressaltar que Q é a sigla usada por Freud para representar a quantidade de magnitude no aparelho mental, a qual exige descarga. Podemos entender que este termo, pertencente ao ponto de vista econômico do aparelho psíquico, veio auxiliar a formulação do conceito de pulsão na obra de Freud.

Além disso, no funcionamento psíquico, há também uma recusa em adiar a descarga pulsional, algo sob a ordem do princípio da constância ou inércia neuronal, diferentemente de saídas que incluiriam o uso do pensamento, dos recursos simbólicos e das conciliações com o mundo externo (princípio de realidade). Segundo Freud, “o pensar foi dotado de características que tornavam possível ao aparelho mental tolerar uma tensão aumentada de estímulo, enquanto o processo de descarga era adiado” (Freud, 1911, p.281). Porém, esse pensar exige “a transformação de catexias livremente móveis em catexias vinculadas” (Id.). Ora, esse seria o empenho no qual todo sujeito estaria implicado, de alguma forma ao viver em sociedade. Tal esforço em nome da comunidade é aquilo com o que o toxicômano não quer se haver. Isto é, ao entorpecer-se, ao se deixar à mercê do princípio do prazer (processo primário), o toxicômano não abre mão do gozo do corpo, produzindo, portanto, um curto circuito em si mesmo. Ao fazer o uso da substância química, fechando-se em si mesmo, em uma postura pulsional auto entorpecedora, o toxicômano exerceria uma quebra na vinculação que a pulsão poderia ter com qualquer modo de contorno e destino, a partir do princípio da realidade.

Para fundamentar ainda mais nossa linha de pensamento, vale lembrar a fala de outro paciente: “a bebida é igual um curto circuito, quando bate, pega fogo. Você toma uma e quer duas, toma duas quer quatro, toma quatro e quer um litro... e assim vai... não para”.

Freud (1908), no texto “Moral sexual civilizada e doença nervosa modernaafirma existir uma “natureza tóxica” (p. 191) própria nos distúrbios sintomáticos das neuroses. Para Naparstek (2010), essa indicação freudiana aponta para o impasse que encontramos na contemporaneidade com relação aos chamados novos sintomas ― marcados pela atuação com o corpo e pouco uso dos recursos simbólicos ―, pois se enquadram pelo aspecto da “falta de mecanismo psíquico, falta de sentido y se presentan diretamente con su cara tóxica”12 (p. 26). De acordo com o mesmo autor, nos novos sintomas:

 

“[...] hay una toxicidad en el núcleo mismo del síntoma y se ve que es el núcleo duro de roer de ese sintoma [...] hoy en día nos enfrentamos de lleno con esa toxicidade del síntoma sin pasar por el sentido que hacía del síntoma una formación de inconsciente” 13 (Naparstek, 2010, p.25).

A intoxicação, por meio de substâncias químicas externas, seria uma estratégia catalizadora de um processo que subsiste de forma latente no próprio funcionamento psíquico do ser falante, no caso, uma narcose pulsional de tendência mortífera. Nesse sentido, Sinatra (2010) alerta que “la toxicidad real es la de la pulsión de muerte”14 (p. 13-14). Freud (1930), já levantara uma observação a respeito dessa toxidade inerente ao psiquismo:

 

“[...] é possível que haja substâncias na química de nossos próprios corpos que apresentem efeitos semelhantes, pois conhecemos pelo menos um estado patológico, a mania, no qual uma condição semelhante à intoxicação surge sem administração de qualquer droga intoxicante. Além disso, nossa vida psíquica normal apresenta oscilações entre uma liberação de prazer relativamente fácil e outra comparativamente difícil, paralela à qual ocorre uma receptividade, diminuída ou aumentada, ao desprazer. É extremamente lamentável que até agora esse lado tóxico dos processos mentais tenha escapado ao exame científico” (Freud, 1930, p. 97, itálicos nossos).

É sobre essa indicação levantada por Freud que assentamos nossa construção teórico-clínica. Isto é, o caráter tóxico próprio do funcionamento psíquico, tributário da montagem pulsional de tendência entorpecente, extasiante e narcótica, que nos casos de toxicomania encontra satisfação direta no corpo. Não sem razão, apontamos a precisa indicação de Naparstek (2010) para quem “el único veneno es la pulsión de muerte”15 (p.42). Complementando de forma instigante, Le Poulichet (2005) esclarece que “ya se puede pressentir que el verdadeiro tóxico – el que nos ocupa en una clínica psicoanalítica – no es probablemente la droga como tal!”16 (p.86).

O que diferencia os sujeitos que não seguem caminhos de entrega à intoxicação pulsional daqueles que conhecemos por adictos, seria uma questão que pode ser respondida se levarmos em consideração as falhas ou inoperâncias dos aparelhos e/ou formações psíquicas que tratam a pulsão e sua exigência por satisfação. No processo de montagem pulsional, alguns sujeitos lançariam mão de recursos que dariam destinos diferentes daqueles de uma ligação direta à satisfação no corpo. O entorpecimento pulsional estaria posto para todos, e a empreitada para lidar com isso dependeria dos caminhos que o sujeito tomaria pela fase edípica, e pela castração, incluindo aqui seu laço fantasmático com o falo.

A toxicomania, portanto, seria uma manifestação do caráter narcoentorpecente da pulsão que, por outros meios, não pôde ser contornada ou enlaçada. Há, a partir do modo como cada sujeito lida com sua pulsão, uma diferença que marca o fato de uns se tornarem adictos compulsivos e outros não, de uns ficarem à mercê da imperativa exigência pulsional desmedida e de outros conseguirem meios de atenuar esta tendência ao gozo encapsulado, fechado em si mesmo, que a pulsão engendra a partir disso que do corpo foi não todo assimilado. Sendo assim, valendo-nos de Le Poulichet:

 

“Cuando el cuerpo ya no se oye en la palavra y en el sueño, el tóxico puede surgir en su dimensión de ‘prótesis psíquica’ [...] la figura del tóxico ha sido neutralizada por la del sueño, empero se manifiesta un retorno del tóxico cuando el modelo del sueño ya no cumple su función. Se puede pensar que el tóxico consuma un tratamiento de la ‘máquina’ cuando el cuerpo no se ha perdido”17 (Le Poulichet, 2005, p.96).

Sendo assim, o sujeito toxicômano denuncia a debilidade de nossos recursos psíquicos para lidar com o real da pulsão. Ou seja, o apego à satisfação pulsional, engendrada pelo recurso à intoxicação crônica, mostra a ineficácia do fantasma, do complexo de Édipo e, consequentemente, a inoperância do sintoma (na formação clássica freudiana como formação de compromisso) para dar vasão à excitação pulsional, traumática por essência, desde os primórdios do infans. Etimologicamente, infans vem do Latim: in, prefixo negativo, e fari, verbo falar. Portanto, infans = não falante ou o que não fala.

Em Lacan, no texto de 1949 “O estádio do espelho como formador da função do eu”, o termo infans designa a criança indiferenciada do outro cuidador, ou seja, trata-se do bebê em seu estado pré-verbal, ainda sem a constituição do eu, portanto imaturo em termos de recursos simbólicos e de articulação imaginária; trata-se de uma pura presença do corpo gozante sem o aparato/amparo da linguagem. Quando optamos pelo uso do termo infans, é justamente para dizer deste período infantil do sujeito não abarcado pelo trabalho civilizatório, por ainda ser o corpo biológico não captado pelo sentido simbólico que exercerá influência na dinâmica da vida psíquica futura. É do infans que se trata quando abordamos o momento anterior à operação fantasmática sobre a invasão pulsional, sempre traumática. Assim também o é nos casos de toxicomania ou nos casos marcados pelo apego à compulsão tóxica, confirmando uma fixação ao gozo que se mantém preso ao corpo que resta inabitado pelos recursos sofisticados em torno do real pulsional, e que exige satisfação, muito além de qualquer tentativa de dominação ou conciliação.

Para Lacan, o que vem diferenciar o sujeito do ser infans é o estádio imaginário com relação ao Outro, por onde “o sujeito encontra o material significante de seus sintomas. E é do tipo de interesse que nele desperta o eu que provem as significações que dele desviam seu discurso” (Lacan, 1955, p. 428), ou seja, as montagens pulsionais articuladas na vida psíquica são determinadas pela construção fantasmática que se inicia no estádio do espelho, tirando o sujeito de seu aprisionamento na condição de puro ser do corpo que goza.

Contudo, as inoperâncias de nossos recursos frente à pulsão de morte apresentam-se mais claramente nos casos de toxicomania, e até mesmo em outras patologias compulsivas de nossa cena hipermoderna. Os casos, denominados na contemporaneidade de novos sintomas, marcados pela compulsão desmedida, assinalados também por Rabinovich (2004, p.18) como patologias do ato, são a representação paradigmática de que há um infans impossível de ser acalentado por detrás das formações que levam em conta o uso do fantasma. Para Rabinovich as patologias do ato compõem uma peculiar categoria psicopatológica da contemporaneidade, em que os casos apontam para um gozo que transcende o princípio do prazer e, por isso mesmo, rompem os laços com o Outro ou trazem o Outro como inconsistente. Um exemplo radical dessa compulsão desmedida seriam casos de toxicomania, para os quais, segundo Le Poulichet “es preciso suplir sin cesar la claudicación de una instancia simbólica”18 (Le Poulichet, 2005, p.123).

A não saturação das aparelhagens psíquicas sobre a montagem pulsional denunciaria o que há de inoperante no funcionamento de todo sujeito ao lidar com o corpo, inoperância que, nos casos de entrega à compulsão pela droga, se tornaria mais evidente. Tal debilidade constitutiva, posta a todos nós, é problematizada por Soler, quando diz que ao lidar com a pulsão, “o Édipo supre, é verdade, a grosso modo, e não sem incidentes sintomáticos” (Soler, 1989, p.1). Além disso, mantendo essa linha de discussão, Naparstek afirma que “el síntoma muestra a cielo abierto su toxicidade cuando está separado de los sentidos”19 (Naparstek, 2010, p.27).

A montagem pulsional, segundo Rabinovich, “é, pois, um meio de produção da satisfação. Isto supõe que, na pulsão, a satisfação produzida implica um sujeito que se satisfaz com ela e, além disso, que tal satisfação ‘faz as vezes de’, ‘ocupa o lugar de’, desse vazio criado pela inexistência do ato sexual” (Rabinovich, 2004, p.84). Reavivando ainda mais a discussão sobre a toxidade inerente à pulsão, a toxicomania pode ser entendida como a apresentação de um funcionamento autoerótico (narcisismo primário), efetuando uma inclinação/vocação narcoentorpecente própria da pulsão. Esta seria uma prática, que, diferentemente do narcisismo secundário (etapa da constituição do sujeito caracterizada pelos investimentos nos objetos), propõe um funcionamento sem levar em conta as extrações de satisfação pulsional do investimento no mundo externo.

Pensamos nesta báscula narcisismo/autoerotismo promotor de intoxicação pulsional a partir da ênfase de Freud ao dizer que “o autoerotismo seria, pois, a atividade sexual do estádio narcísico da distribuição da libido” (Freud, 1917, p. 486).

Quando lemos a carta escrita por Freud a Fliess em 22 de dezembro de 1897, n. 79, colhemos uma conclusão precisa. Segundo Freud: “a masturbação é o grande hábito, o ‘vício primário’, e que é somente como sucedâneo e substituto dela que outros vícios — álcool, morfina, tabaco etc. — adquirem existência” (Freud, 1897, p. 291). Ainda sobre esta tese, Freud no texto “Dostoievski e o parricídio” formula, de maneira esclarecedora, que “o ‘vício’ da masturbação é substituído pela inclinação ao jogo e a ênfase dada à atividade apaixonada das mãos revela essa derivação. Na verdade, a paixão pelo jogo constitui um equivalente da antiga compulsão a se masturbar” (Freud, 1928, p. 222). Além disso, ele conclui que “não encontramos casos de neurose grave em que a satisfação autoerótica da primeira infância e da puberdade não tenha desempenhado um papel” (Id., p. 223). Ou seja, Freud nos alerta para o caráter viciante presente nos casos graves onde a fixação a um hábito compulsivo detém raízes na satisfação pulsional autoerótica do infans.

Naparstek afirma que nesta tese de Freud encontramos “una ecuación directa entre adicción y autoerotismo”20 (Naparstek, 2008, p. 37). Mazzuca, ao trabalhar o tema da toxicomania, nos lembra de que nesses pacientes é “el próprio yo el que, desde el júbilo hasta la manía, se oferece al sujeto como objeto de satisfación embriagante, narcótico, tóxico”21 (Mazzuca, 2005, p. 26). Beneti conflui com esse raciocínio ao afirmar que, na compulsão às drogas, trata-se do gozo do indivíduo, do sujeito não dividido “que é apenas um corpo, um corpo que goza de si mesmo, através da droga. A toxicomania é o protótipo do gozo autoerótico, da boca que beija a si mesma” (Beneti, 2008, p. 150). Fica clara, nesta passagem, uma alusão à elaboração de Freud acerca do autoerotismo: “pena eu não poder beijar a mim mesmo” (Freud, 1905, p. 171), e que, a nosso ver, apresenta-se como o mecanismo no pano de fundo da toxicomania.

Conclusão

Diante dos fragmentos dos casos clínicos trazidos nesta pesquisa, foi possível constatar a pertinência de nossa hipótese teórico-clínica a respeito do gozo do corpo na toxicomania como uma manifestação exacerbada do entorpecimento pulsional, fato que tende a fazer dela um marco clínico da contemporaneidade. O crescente número de casos de adições compulsivas, não somente a toxicomania, configuram em nossa época, marcada pela permissividade ao gozo desmedido, um paradigma do caráter entorpecente e extasiante próprio da pulsão. O problema da toxicomania foi aqui abordado pela via de sua incidência no corpo, e do que este gozo do corpo, peculiar ao toxicômano, voltado para o fim claro da satisfação autoerótica, nos ensina sobre a dinâmica e sobre as vicissitudes da pulsão. Valendo-nos de Naparstek observamos que, “si hay algo a lo que resiste el toxicómano es a hacer entrar en el campo del Otro su propia satisfacción, hay una batalla para no permitir el acceso del modo de satisfacción al campo del Otro”22 (Naparstek, 2010, p.49). Ou seja, em se tratando de toxicomania, o psicanalista será convocado ao campo de batalha frente ao gozo que resiste em se fazer furado, para, a partir daí, quem sabe, poder introduzir algo desse gozo autoerótico no campo do Outro.

Vários são os caminhos pelos quais podemos abordar o problema da intoxicação crônica, assim como várias são as hipóteses que podemos lançar sobre o instigante, enigmático e, ao mesmo tempo, desafiador campo de trabalho referente aos pacientes acometidos pelo uso desenfreado de substâncias químicas. Sem deixarmos de lado a particularidade da proposta política da psicanálise em meio às abordagens de todos como iguais - a saber, a escuta do sujeito pela sua diferença e pelo seu modo particular de gozo - propusemos neste trabalho um entendimento peculiar e estrutural da toxicomania. Portanto, situamo-nos enquanto pesquisadores psicanalíticos perante os impasses da contemporaneidade, já que, como nos alerta Lacan, o analista deve abrir mão de sua prática caso não consiga

 

“[...] alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época. Pois, como poderia fazer de seu ser o eixo de tantas vidas quem nada soubesse da dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico. Que ele conheça bem a espiral a que o arrasta sua época.” (Lacan, 1953, p. 322).

Certos de que o presente artigo deixa em seu horizonte a necessidade de novos desdobramentos acerca do estudo e do tratamento da toxicomania, entendemos que os apontamentos e conclusões que foram levantados não pretendem finalizar a abordagem do real da clínica com toxicômanos, e tampouco entendê-la como conclusa; mostra que novos problemas para futuras investigações foram abertos. Em última instância, o ensinamento mais refinado que colhemos do estudo da toxicomania é que há um real do corpo e da pulsão que resistem a qualquer produção de pesquisa, mas que nos convocam ao trabalho de escrita. Sendo assim, vale lembrar o que diz o personagem Riobaldo, de Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas: “natureza da gente não cabe em nenhuma certeza” (Rosa, 1988, p. 367). Esta é a razão de as pesquisas de investigações clínicas em psicanálise existirem, isto é, o real que insiste em ser não-todo estudado, não-todo explicado.


Notas

 
  1. O presente artigo é uma versão reduzida da dissertação de mestrado “A toxicomania como paradigma do entorpecimento pulsional e o gozo autista do corpo” defendida em 25/10/12 na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Belo Horizonte-MG, sob a orientação da Profa. Dra. Márcia Maria Rosa Vieira.
  2. “Já se pode pressentir que o verdadeiro tóxico ― o que nos ocupa em uma clínica psicanalítica ― não é provavelmente a droga como tal” (tradução livre ).
  3. Expressão retirada da língua inglesa traduzida por “depois e depois”, para dizer do gozo após gozo das práticas contemporâneas. Tal expressão pode receber também a conotação do “mais e mais” da tentativa de obter o máximo de satisfação possível, sem limites, sem interrupções.
  4. “Empuxo a uma festa permanente com a intenção de fazer desaparecer o resto” (tradução livre).
  5. “Na toxicomania se trata de um gozo autoerótico” (tradução livre).
  6. “Vemos surgir a perspectiva de uma operação essencialmente conservadora que protege uma forma de narcisismo” (tradução livre).
  7. “É esta perspectiva do sintoma auto: que o sintoma toxicomaníaco não precisa do Outro, e mais, muitos dos pacientes são trazidos de seu meio e muitas vezes dizem: ‘Eu não sei por que me trazem, eu sei o que estou fazendo, sei que vou morrer, mas estou vivendo fantasticamente. Não tenho nenhum problema’” (tradução livre).
  8. “Neurose e toxicose” (tradução livre).
  9. “Para Freud, não foi fechada a ideia de que a neurose de angústia e a neurastenia um dia terão de ser concebidas como intoxicações; na verdade ele mesmo aponta para a grande semelhança entre a neurose de angústia e a doença de Basedow” (tradução livre).
  10. “Efeitos de deficiência ou acumulação” (tradução livre).
  11. “Neurastenia, a qual é causada por um processo de empobrecimento, tem a maior semelhança clínica com as intoxicações; neurose de angústia, a qual é causada por descarga insuficiente, tem a maior semelhança com os sintomas de abstinência” (tradução livre).
  12. “Falta de mecanismo psíquico, falta de sentido e se apresentam diretamente com sua face tóxica” (tradução livre).
  13. “Há uma toxidade no próprio núcleo do sintoma e se vê que é o núcleo duro de roer desse sintoma [...] hoje em dia enfrentamo-nos de frente com essa toxidade do sintoma sem passar pelo sentido que fazia do sintoma uma formação do inconsciente” (tradução livre).
  14. “A toxidade real é a da pulsão de morte” (tradução livre).
  15. “O único veneno é a pulsão de morte” (tradução livre).
  16. “Já se pode pressentir que o verdadeiro tóxico – o que nos ocupa em uma clínica psicanalítica – não é provavelmente a droga como tal” (tradução livre).
  17. “Quando já não se ouve o corpo na palavra e no sonho, o tóxico pode surgir em sua dimensão de ‘prótese psíquica’ [...] a figura do tóxico tem sido neutralizada pela do sonho, contudo se manifesta um retorno do tóxico quando o modelo do sonho já não cumpre sua função. Pode-se pensar que o tóxico consuma um tratamento da ‘máquina’ quando o corpo não se encontra perdido” (tradução livre).
  18. “É preciso suprir sem cessar a claudicação de uma instância simbólica” (tradução livre).
  19. “O sintoma mostra a céu aberto sua toxicidade quando está separado dos sentidos” (tradução livre).
  20. “Uma equação direta entre vício e autoerotismo” (tradução livre).
  21. “Nesse caso é o próprio eu que, do júbilo à mania, se oferece ao sujeito como objeto de satisfação embriagante, narcótico, tóxico” (tradução livre).
  22. “Se há algo ao qual resiste o toxicômano é de fazer entrar sua própria satisfação no campo do Outro, há uma batalha para não permitir o acesso de seu modo de satisfação no campo do Outro” (tradução livre).


Referências Bibliográficas

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Resumos

Drug addiction as a paradigm of the numbness by drive

In clinical work with addicted patients, many impasses arise that might compromise the progress of treatment, for example, the indifference to the risk of death, very little treatment compliance and preference for act instead of the words. Beyond these manifestations, we chose as the subject of this article, the autoerotic relation of the junkie subject with its body, taking it as a paradigm of the addictive structure which is characteristic of drive itself. Thus, the growing number of cases of compulsive addictions, specifically to drugs presents itself in our contemporary world marked by excessive permissiveness to enjoyment as a paradigm of the numbing and exhilarating character of drive.

Keywords: psychoanalysis, addiction; autoerotismo; narcissism; numbness of drive.


La toxicomanie comme paradigme de l’engourdissement pulsionnel

Dans le travail clinique avec les patients toxicomanes, nous sommes placés en permanence devant les impasses qui compromettent les progrès du traitement, par exemple, l'indifférence au risque de la mort, très peu d’observance du traitement et la prévalence de l’acte en detriment des mots. Au delà de ces manifestations, nous avons choisi comme sujet de cet article, la relation de l'auto-érotique du junkie sujet avec le corps, en le prenant comme un paradigme de la structure addictive de la pulsion elle même. Ainsi, le nombre croissant de cas d'additions compulsives, toxicomanies spécifiquement, présent dans notre monde contemporain marqué par la permissivité excessive à la jouissance démesurée comme un paradigme Du charactère engourdissant et extasiant propre de la pulsion.
Mots-clés: psychanalyse, la toxicomanie; autoérotisme; narcissisme; engourdissement pulsionnel.

Key-words: psychoanalysis, drug addiction; autoerotism; narcissism; drive numbness.

 

Citacão/Citation: CARVALHO, T.S. de; VIEIRA, M.M.R. A toxicomania como paradigma do entorpecimento pulsional. Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VII, n. 14, mai. a out. 2012. Disponível em www.isepol.com/asephallus

Editor do artigo: Tania Coelho dos Santos.

Recebido/Received: 15/11/2012 / 11/15/2012.

Aceito/Accepted: 10/12/2012 / 12/10/2012.

Copyright: © 2012 Associação Núcleo Sephora de Pesquisa sobre o moderno e o contemporâneo. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permites unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the author and source are credited.