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Hamlet e o grafo do desejo

 


Marta Regina de Leão D’Agord

Psicóloga, Psicanalista
Doutora em Psicologia / UFRGS (Rio Grande do Sul, Brasil)
Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional do Instituto de Psicologia / UFRGS (Rio Grande do Sul, Brasil)
E-mail: mdagord@terra.com.br

Alice Silva Umpierre
Acadêmica de Psicologia / UFRGS (Rio Grande do Sul, Brasil)
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq (2010-2011)
E-mail: alice.umpierre@yahoo.com.br


Resumo

O artigo aborda o Hamlet, de Shakespeare, com o grafo do desejo. Lacan privilegia o drama como causa do desejo e não o personagem principal como um caso clínico. Duas cenas são examinadas paralelamente às etapas do grafo: 1) no terceiro ato, o diálogo de Hamlet com Gertrudes permite pensar o desejo do sujeito capturado pela demanda do Outro, como mostra o grafo dois; 2) no quinto ato, a cena da metamorfose de Hamlet diante do luto de Laertes por Ofélia pode ser situada em homologia à pergunta Che vuoi? no terceiro grafo e à transformação de S(A) em S(), o Outro barrado, no grafo completo. É trabalhada uma questão crucial para o estudo do grafo do desejo: a transformação de S(A), no segundo grafo, em S() no grafo completo. Conclui que a interpretação da cena da metamorfose do desejo em Hamlet contribuiu para a elaboração da concepção topológica de torsão do grafo do desejo.

Palavras-chave: psicanálise, grafo do desejo, literatura, topologia.

 

 

Introdução

  “Pois em suma, o que são estes grandes temas míticos sobre os quais se exercitam no curso das eras as criações dos poetas, se isso não é uma espécie de longa aproximação que faz com que o mito, ao cernir mais de perto suas possibilidades, acaba por entrar propriamente falando na subjetividade e na psicologia. Sustento – e assim fazendo penso estar na linha de Freud - que as criações poéticas engendram mais do que refletem as criações psicológicas” (Lacan, 1958-59, lição de 04/03/1959).1

“Os escritores criativos são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser levado em alta conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento na mente, já que se nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência” (Freud, 1907a[1906], 1987, p. 18).

Este trabalho faz parte de uma pesquisa na qual interrogamos a literatura como uma das fontes da psicanálise. Em trabalhos anteriores abordamos dois contos fantásticos de Hoffmann (2008) e obras de Sade e Masoch (2010). No trabalho atual, nos dedicamos a investigar a contribuição do drama Hamlet no processo da elaboração da topologia do grafo do desejo por Lacan.

O Hamlet de Shakespeare (1564-1616) é de 1601 e tem origem em uma saga escandinava, cujo primeiro registro escrito aparece no século XII na obra Historiae Danicae de Saxo Gramaticus. Outra versão foi escrita por Belleforest em 1570. O que o Hamlet de Shakespeare traz de novo é o longo diálogo de Hamlet e Gertrudes no terceiro ato e a cena do túmulo no quinto ato, quando Hamlet se joga no túmulo de Ofélia, onde já estava Laertes pranteando a irmã e o desafia dizendo que sua dor pela perda de Ofélia é maior do que a dor de Laertes.

É nesses dois atos que enfocaremos nosso trabalho, analisando a metamorfose do personagem no quinto ato em relação às etapas do grafo do desejo apresentadas no Seminário O desejo e sua interpretação (Lacan, 1958-59). Esse enfoque permite problematizar uma questão crucial para o estudo do grafo do desejo, a saber, como ocorre a transformação de S(A), no segundo grafo, para S() no grafo completo? Quando nos referimos à passagem do grafo dois ao grafo três e deste ao grafo completo, é importante registrar que não se trata de etapas genéticas, mas da anterioridade lógica do grafo dois em relação ao grafo três e do três em relação ao grafo completo.

A questão metodológica

Quando Freud (1907a[1906]) declarou que escritores como Sófocles e Shakespeare o teriam precedido no que diz respeito à descoberta do inconsciente, era inaugurado um campo de pesquisas caracterizado pelo diálogo entre a psicanálise e a literatura. Mas há mais de um método nesse campo, de um lado, encontramos a aplicação de conceitos psicanalíticos na análise de personagens; e, de outro, o caminho da interrogação quanto ao que a psicanálise pode aprender com a literatura. Freud praticou ambas as formas de diálogo. Pois, de um lado, conforme o que ficou registrado em carta a Fliess datada de 15 de outubro de 1897, Freud observava que o mito de Édipo:

  “Capta uma compulsão que todos reconhecem, pois cada um pressente sua existência em si mesmo. Cada pessoa da platéia foi, um dia, um Édipo em potencial na fantasia, e cada uma recua, horrorizada, diante da realização de sonho ali transplantada para a realidade” (Masson, 1986, p. 273).

De outro lado, na mesma carta, Freud apresentara o que seria um achado, um Einfall:

  “Passou-me fugazmente pela cabeça a idéia de que a mesma coisa esta­ria também na base do Hamlet. Não estou pensando na intenção consciente de Shakespeare, mas creio, ao contrário, que um acontecimento real tenha estimulado o poeta a criar sua representação, no sentido de que seu in­consciente compreendeu o inconsciente de seu herói” (Masson, 1986, p. 273).

Entretanto, Freud intuiu que a análise psicológica do personagem Hamlet poderia levar a equívocos, pois questionou, nesse aspecto, as análises dos que o precederam – entre os quais Goethe –, que analisavam Hamlet ora como paralisado na ação ora como indeciso. Para Freud (1900a), só seria possível afirmar que Hamlet se inibia na ação caso se considerasse a peculiaridade da tarefa, pois,

  “Hamlet é capaz de fazer qualquer coisa — salvo vingar-se do homem que eliminou seu pai e tomou o lugar deste junto a sua mãe, o homem que lhe mostra os desejos recalcados de sua própria infância realizados” (Freud, 1987, p. 260).

Com essas palavras, Freud intuía o que Lacan explicará sessenta anos depois. Pois, graças à elaboração do grafo e da função do falo no fantasma, será possível estabelecer um paralelo entre a hesitação do personagem Hamlet e o falo idealizado, que estaria, no ato III, personificado na figura de seu tio Cláudio.

Lacan seguiu a tradição inaugurada por Freud, mas observou que era preciso que a teoria psicanalítica avançasse para além do imaginário compartilhado na cultura. E o primeiro passo analítico consistiria em transformar uma referência psicológica em uma referência a um “arranjo mítico suposto ter o mesmo sentido para todos os seres humanos” (Lacan, 1958-59, lição de 11/03/59).

Isso significa que Lacan toma Hamlet pelo seu arranjo mítico. Ou seja, em razão da estrutura do problema que Hamlet coloca a propósito do desejo. Eis a justificativa metodológica. E qual é essa estrutura?  É o quadro no qual vem se situar o desejo. O que Lacan mostra é que há uma homologia entre a estrutura do desejo mostrada no grafo e a estrutura do drama Hamlet. Essa homologia vai ser elaborada passo a passo no Seminário 6 (1958-59).

Cabe esclarecer que uma relação de homologia corresponde a uma relação onde os elementos de dois conjuntos são abordados pela função que ocupam ou exercem em um conjunto. Já em uma analogia, a relação comparativa é mais ampla; podem entrar em comparação dois conjuntos, mas a relação entre os conjuntos se dá por atributos quaisquer dos seus elementos.

A opção metodológica permitiu a Lacan diferenciar Hamlet, o drama, de Hamlet, o personagem. Dessa forma, Lacan lê a obra Hamlet como o drama do desejo na relação ao desejo do Outro. É assim que, sem se deter nas idiossincrasias do personagem, Lacan alcançou, durante o seminário O desejo e sua interpretação, uma elaboração da concepção do objeto a, como o objeto no desejo, inédita, até então, em seu ensino. Ou seja, em Hamlet, Lacan encontra a estrutura homóloga à estrutura do desejo que ele estava elaborando através da topologia do grafo. Pois o grafo, por sua vez, estava sendo elaborado para mostrar o que há de estrutural no desejo.

  “[...] que o desejo seja articulado é justamente por isso que ele não é articulável. Entenda-se: no discurso que lhe convém, ético, e não psicológico É, portanto, preciso levar muito mais longe, diante de vocês, a topologia que elaboramos para nosso ensino neste último lustro, ou seja, introduzir um certo grafo que prevenimos garantir apenas, entre outros, o emprego que faremos dele, tendo sido construído e ajustado a céu aberto para situar, em sua disposição em patamares, a estrutura mais amplamente prática dos dados de nossa experiência. Ele nos servirá aqui para apresentar onde se situa o desejo em relação a um sujeito definido por sua articulação pelo significante” (Lacan, 1998, p. 819).

Safouan (2006) nos auxilia a entender esse jogo entre articulado e não articulável: o desejo é inarticulável no consciente. Por isso, esse seminário, que antecedeu ao seminário sobre a Ética da Psicanálise, relaciona as questões metodológicas em psicanálise às questões éticas.

Assim, não se trata do personagem, mas da estrutura do drama, os diferentes planos. Quando Lacan se refere aos diferentes planos, ele se refere aos distintos esquemas do grafo do desejo. O que veremos em Hamlet é uma posição de sujeito segundo o grafo dois se transformar em uma posição de sujeito segundo o grafo três e grafo completo.

Um contraponto com a crítica contemporânea pode revelar quão inovadora foi a leitura proposta por Lacan. É nesse sentido que destacamos a seguir o trabalho do crítico norte-americano Harold Bloom (2000), Shakespeare: a invenção do humano, do qual não podemos deixar de destacar a análise da metamorfose do quinto ato: “No quinto ato, o protagonista já não é cômico nem melancólico: o ‘estar pronto’, ou disposto, é tudo” (Bloom, 2000, p. 512). Hamlet é a personificação da mudança. E a transformação final é sempre a morte. Na metamorfose do quinto ato, Hamlet quase se liberta do que lhe pesa sobre o ego, embora isso lhe custe morrer muito antes da morte. Bloom (2000) tenta encontrar uma palavra para a atitude de Hamlet no quinto ato: “Penso que a idéia de ‘desprendimento’ é a que mais se aproxima, mas percebo que só consigo definir a palavra quando me refiro a Hamlet” (Id., ibid., p. 531). "Sendo tudo, Hamlet sabe também que não é nada. Enquanto está no mar, ele recorre a esse nada e regressa desprendido" (Id., Ibid., p. 535). Apesar de tudo, Bloom não chega a considerar o drama em seu conjunto como uma metáfora, limitando sua análise ao personagem e às relações que poderiam ser traçadas em relação a pessoa do autor.

Enquanto Bloom interpreta a cena do túmulo como uma metamorfose, na medida em que, a partir desse momento, Hamlet passaria do pensamento ao ato.  Girard (2010) analisa essa cena a partir do conceito de desejo mimético: o despertar da paralisia somente foi possível porque Hamlet encontrou o desejo de Laertes. Não fosse a mímesis, o desejo em Hamlet não teria surgido.

Essa análise de Girard não está muito afastada da análise psicanalítica, pois se apóia na especularidade. Mas, com Lacan, podemos considerar que, Laertes, como outro imaginário, é apenas suporte para o que está em questão, Ofélia, o objeto no desejo. Essa expressão, o objeto no desejo, serve para designar a diferença entre objeto de desejo e objeto no desejo. Com essa diferenciação, Lacan consegue, ao mesmo tempo, se distanciar da leitura psicológica de Hamlet e introduzir a sua leitura estrutural do desejo, a qual, por sua vez, é fundada na topologia do grafo.   

Hamlet e o desejo do Outro

Como observamos acima, em sua leitura de Hamlet, Lacan não considera o personagem principal como um caso clínico, mas a peça como estrutura, conseguindo, então, elaborar uma homologia entre esse drama e a estrutura do grafo do desejo.

Vamos mostrar a seguir como Lacan foi desenvolvendo essa análise. Hamlet, no começo do drama, encontra-se preso à demanda do pai e ao desejo da mãe. Seu pai morre e, dias depois, aparece para Hamlet como um espectro, contando-lhe que seu irmão – Claudio, tio de Hamlet – o havia matado. Pede, então, que vingue a sua morte matando o assassino, deixando Hamlet às voltas com essa demanda. No ato I, de Hamlet, predomina a demanda do Outro, inclusive na segunda cena, quando Gertrudes pede para Hamlet não ir estudar fora, para ficar com a família na Dinamarca. No entanto, há uma primeira reviravolta no terceiro Ato, quando Hamlet demanda a Gertrudes que ela assuma o luto pelo marido morto e afaste-se das tentações carnais. Essa cena se passa quando Hamlet é chamado por Gertrudes, após Hamlet passar por Cláudio, que se encontrava em um momento vulnerável (Shakespeare, 2003, ato III, cena 4, 159-167).

Nesse diálogo com a sua mãe, Hamlet está dividido entre o que sabe e algo que lhe escapa; entre o que é seu dever, a tendência imperativa de obedecer ao pai e defender a mãe, e, por outro lado, o desejo de sua mãe, o arbitrário desse desejo.

Instantes antes, o espectro do pai aparecera pela segunda vez a Hamlet e lhe dissera: “Esgueira-te entre ela e sua alma que está prestes a curvar-se (Step between her and her fighting soul)” (Shakespeare, 2003, ato III, cena 4, 112).

Nessa cena em que o espectro aparece somente para ele (diferentemente do ato I, quando o espectro aparecia a ele e aos guardas), é como se o espectro representasse o discurso do Outro, o inconsciente. Enquanto tal, o espectro lhe fala do que ele não sabe, o enigma do desejo do Outro:  - “Esgueira-te entre ela” (o que ela e tu não sabem, o desejo) “e sua alma que está prestes a curvar-se” (o que ela e tu sabem). Nessa dupla relação de saber e não saber, o desejo de Hamlet é o desejo do Outro, ou seja, o que é inconsciente em Gertrudes também é inconsciente em Hamlet.  A ação de Hamlet não é desinteressada, ele está implicado, mas não sabe. O espectro do pai nesta cena enuncia o desejo de Hamlet enquanto desejo do desejo do Outro. O pai é a função do inconsciente, o pai diz do desejo em Hamlet.

Não há momento em que se manifeste de forma mais sensível e realizada a fórmula de que o desejo do homem é o desejo do Outro. Em outros termos, aquilo de que se trata na medida em que é ao Outro que o sujeito se endereça (a mãe), não com sua vontade própria, mas como suporte e representante do pai e da ordem. O inconsciente é o discurso do Outro (cumprir um dever em relação ao pai) que permite ao sujeito se situar (em relação ao arbitrário no Outro, mãe).

O que corresponderia ao segundo grafo, já desdobrado em dois patamares, em duas dimensões, a da fala (primeiro andar) e a do desejo do Outro (segundo andar).
Seguem-se duas figuras do segundo grafo2:

2a.jpgSEM06 fig2

Mas em relação a esse arbitrário do desejo do Outro o que fazer? Consentir ou lutar? Nessa cena do ato III, Hamlet consente. Assim também no grafo dois, o arbitrário no outro não é relativizado. Nessa cena, o desejo da mãe retoma aqui o valor de algo que de nenhuma maneira pode ser alterado.

E será da demanda do espectro do pai de “ficar entre” que Lacan extrai sua interpretação de que Cláudio está no lugar de falo imaginário, pois Gertrudes encontra-se ligada a Cláudio por uma razão que, ela mesma, não consegue explicar qual é. Uma razão inominável – o falo.

Essa leitura enquadra no só-depois (après-coup) a cena final do ato III em que Hamlet encontra Cláudio rezando de joelhos, vulnerável, e não o mata – sabe que não se consegue matar o falo, que o falo não pode ser atingido, que o falo é uma sombra. Cláudio continua intocável, já que Hamlet parece reconhecer que há outra razão desconhecida para não conseguir matá-lo. Cláudio, portanto, está em posição fálica, desconhece a lei da castração, por isso tentar matá-lo é em vão. Hamlet reconhece a impossibilidade de entrar em disputa com o falo e não empregaria mais seus esforços em tentar fazer a mãe mudar de atitude. Hamlet se renderia ao inelutável, a esse desejo que não saberia ser sublevado – o desejo da mãe.

Assim, na leitura lacaniana, esse drama é uma construção da falta no Outro, e, até o final do ato III, em Cláudio se personifica que há Outro do Outro.

A metamorfose do quinto ato

Eis que Hamlet, face ao inelutável, faz um solilóquio que vai ser a mediação para o quinto ato. Trata-se do ato IV, na quarta cena, em que Hamlet é posto num navio para a Inglaterra, a mando de Cláudio, e vê Fortimbrás, que está ali no plano de retaguarda da tragédia. Hamlet se surpreende ao ver as tropas de Fortimbrás irem para a Polônia lutar para conquistar algumas terras de pouco valor, arriscando suas vidas por quase nada, e lamenta não conseguir cumprir sua tarefa de matar o tio quando possui todos os meios e razões para fazê-lo.

O inelutável no desejo do Outro, personificado em Gertrudes, é um arbitrário, mas um arbitrário que não sabe de si, que está também submetido, em insocorridade (Hilflosigkeit). Mas o que falta para que se produza esse intervalo e para que se desvele que o Outro não sabe? O que faz com que no grafo completo encontremos uma torsão de S(A) para S()? Como se introduzirá essa falta no Outro? É no retorno da linha do discurso sobre a cadeia significante, no segundo patamar do grafo, que acontece a transformação de S(A) em S(), junto com o fantasma. Essa transformação corresponde à metamorfose hamletiana na cena 1 do ato V, e que servirá de um apoio à elaboração lacaniana da relação entre falo e objeto a no Seminário 6.

Na elaboração de sua análise de Hamlet como a tragédia do desejo, em um primeiro momento, Lacan mostrou que o falo era o objeto do desejo de Gertrudes. Na etapa seguinte, Lacan vai mostrar como Ofélia se insere como objeto no desejo de Hamlet.

É no quinto ato, nessa metamorfose, na cena do cemitério, que o objeto no desejo vai se manifestar. E o objeto no desejo será Ofélia já morta. Com essa expressão, objeto no desejo, Lacan aponta para o caráter transitório e móvel dos objetos nessa grande instância que é o desejo. Ou seja, não existe nenhum objeto que capte o desejo de um sujeito, os objetos entram e saem, transitam na esfera desejante.

Vamos à cena da metamorfose: Laertes se joga no túmulo de Ofélia dizendo “Esperem um pouco para atirar a terra até que eu a agarre mais uma vez em meus braços”. Hamlet se aproxima do túmulo e pergunta: “Quem é aquele cujo luto carrega tal ênfase?” Mas, antes de ouvir alguma resposta, é ele mesmo quem responde: “Pois sou eu, Hamlet, o dinamarquês” (Shakespeare, 2003, ato V, cena 1, 220-225).

Os críticos descrevem essa metamorfose como invejosa, mas Lacan prefere nomear essa cena de “ciúme do luto”, destacando que se trata de uma triangulação da qual faz parte Ofélia morta. Desse modo, não é uma relação invejosa em que Hamlet invejaria a posse de um objeto por Laertes, mas uma relação de ciúmes em que o terceiro é ativo, ou seja, o terceiro, Ofélia, falta ativamente. É pela ausência que Ofélia se faz presente e, nessa ausência, se produz a falta no Outro, encarnado em Laertes.

A elaboração da fórmula do fantasma

Vamos retomar a análise que Lacan fez do sonho do paciente de Ella Sharpe para acompanhar a construção da fórmula do fantasma. Para chegar ao algoritmo com quatro elementos em relação de substituição simbólica, Lacan utiliza uma referência à obra As confissões, de Santo Agostinho, na qual se encontra a observação: “Vi e observei uma criança, cheia de inveja, que ainda não falava e já olhava, pálida, de rosto colérico, para o irmãozinho de leite” (Santo Agostinho, 1988, p. 30).

Para tanto é preciso apresentar o algoritmo da operação de substituição simbólica irá gerar a fórmula do fantasma.

anexo fórmula

O desejo se inscreve nessa relação quádrupla que faz com que o sujeito, através da imagem do outro (as sucessivas identificações que irão se chamar “eu”) encontre, para se substituir, uma forma para este algo de profundamente pálido, profundamente angustiado, que é a sua relação ao desejo. Na relação vertical em cada um dos lados do algoritmo, há relação de substituição simbólica (de equivalentes). Esa regra de três representa o equilíbrio entre o sujeito e o outro, seu semelhante. Esse equilíbrio sustenta o falo imaginário (I).

Lacan interpreta essa cena como a relação do sujeito com sua própria imagem, quando o sujeito vê seu semelhante [i(a)] numa certa relação com a mãe como primitiva identificação ideal, como primeira forma do um, de totalidade. A imagem do outro [i(a)] se forma na relação imaginária com o objeto, na qual o sujeito, como i, sofre a decomposição passional observada por Agostinho. Mas [i(a)] também pode ocorrer em uma relação simbólica com o objeto, quando o sujeito, em S, remete a apreensão do objeto [seio] à ordem simbólica. Dessa forma, o objeto poderá ser colocado em uma relação com algo de outro que possa lhe ser substituído. O objeto tomará, então, valor significante, se tornará um elemento significante.

No caso da análise de um sonho de um paciente de Ella Sharpe, é na medida em que o significante falo permanece inerente ao Outro (I), sem poder ser colocado em jogo, que o sujeito se encontra a si mesmo numa postura que é a postura em pane.  O que o paciente demonstra no seu fantasma de sonho é que ele não pode consentir que “para o que é da mulher, ela é sem tê-lo. Para ele, ela não deve ser sem tê-lo” (Lacan, 2002, p. 244). No sonho, a sua mulher está fora de jogo, ela sequer olha. É aí que Lacan observa que o falo é colocado ao abrigo. Para esse sujeito, o falo está na mulher e ele não quer que ela o arrisque. O falo não está em parte alguma, mas quando o sujeito o supõe em I, o Outro todo poderoso, estamos em um predomínio imaginário. O sujeito recusa a castração do Outro. O falo deve ser perdido para que o sujeito possa fazer uso de suas insígnias fálicas. Ora, esse sujeito, o paciente de Ella Sharpe, não usa as insígnias fálicas, ele preserva o falo no Outro imaginário.

O algoritmo serve para pensar quando o sujeito supõe o falo em (I), o Outro imaginário e todo poderoso. Mas quando o falo estiver perdido, o objeto (a) poderá substituir a totalidade (I). E considerando que a imagem do outro [i(a)] pode substituir o sujeito ($), chegamos à fórmula resultante, a fórmula do fantasma: $ à a.
Retomando Hamlet, Laertes pode ser situado em i(a), o parceiro especular de Hamlet. E Ofélia pode ser situada em (I), o falo. Ofélia morta poderá ser comparada à afânise do Falo e sua substituição simbólica será o objeto a. Laertes em luto por Ofélia (I) seria substituível por Hamlet em luto por Ofélia (a).

O desejo se inscreve nessa relação quádrupla que faz com que o sujeito, através da imagem do outro (as sucessivas identificações que irão se chamar “eu”) encontre, para se substituir, uma forma para este algo de profundamente pálido, profundamente angustiado, que é a sua relação ao desejo. Hamlet encontra em Laertes a imagem que lhe permite se afirmar como sujeito no desejo, e, sincronicamente, Ofélia poderá surgir como objeto no desejo.

A perda do Falo e sua substituição por (a) no algoritmo acima equivale à substituição de S(A) para S() na passagem do segundo grafo para o grafo completo, apresentado a seguir. No terceiro grafo, Lacan apresentará a interrogação ao Outro: o que queres? Pergunta que, como vimos acima, é enunciada e também respondida por Hamlet. No grafo completo, a pergunta permanece, pela interrogação marcada no alto do grafo.

21a.jpg

No grafo completo apresentado acima3, a intenção é apresentada através da linha cheia que, depois de atravessar o ponto A, toma a forma de gancho interrogativo (Che vuoi?). Equivale ao mais além da demanda, ao mais além do consentimento à arbitrariedade do Outro. Nesse mais além da demanda, se estrutura a tensão e a intenção humana na fragmentação significante, na medida em que se persegue uma vontade própria além da arbitrariedade do Outro.

O circuito pontilhado, inconsciente, que começa em [1] e que, passando ao nível da mensagem S(A) [2], vai ao nível do código do inconsciente $ à D [3], diante da demanda, retorna em direção ao desejo (d)[4],  e de lá ao fantasma $ à a [5].

A interrogação do sujeito sobre o que quer é representada pelo gancho interrogativo no segundo plano do grafo e também pelo desejo que vai ser reencontrado debaixo dessa interrogação. O desejo vai situar-se sobre a linha de retorno em relação a essa linha intencional.  É nesse sentido que o desejo é homólogo à relação do eu (moi) com a imagem.

O grafo nos ensina que o desejo, flutuando no além do Outro, é submetido a uma regulação que é determinada por algo que se desenha como a via de um retorno do código do inconsciente [$ à D] em direção à mensagem do inconsciente sobre o plano imaginário.

Rabaté (2001), ao propor a sua “leitura da leitura” de Lacan, diz-nos que Lacan estava muito menos tomado pela interpretação freudiana quando começou a sua análise sobre Hamlet do que pela análise de Ella Sharpe sobre o sonho de um paciente, “Dream Analysis” (Sharpe, 1961), bem como as suas notas sobre Hamlet. Segundo Rabaté, muito desse Seminário é dedicado à gramática do fantasma, na qual o sujeito barrado ou Hamlet aprenderá a vincular seu desejo a um objeto que causará o desejo e que o forçará a agir de acordo. Ora, nessa análise de Rabaté encontramos, mais uma vez, a importância de relacionar Hamlet à estrutura do grafo do desejo. A expressão “objeto causa do desejo” é correlativa à expressão “um sujeito afetado pelo significante”, indicando que a temporalidade do grafo é relativa a um encontro assintótico. O sujeito é sujeito quando barrado, isto é, quando se encontra em face de um objeto, mas esse objeto não é passível de um encontro existencial, pois o objeto é causa do desejo porque perdido. Não que o neurótico não se iluda com um encontro, no passado mítico, com o objeto, o que é uma forma de sustentar a ilusão de que, no futuro, seria possível recuperar o objeto. Eis o jogo entre sincronia e diacronia que Lacan destaca no seu Seminário sobre o desejo, mostrando que, em Hamlet, não há recuperação. Por isso, Hamlet é a tragédia do desejo, e não pode ser reduzido a uma interpretação clínica segundo a qual Hamlet seria um personagem que representaria um neurótico.

Lacan avançou sua teorização sobre o grafo do desejo com a sua leitura estrutural do drama Hamlet, mostrando que se pode olhar para o drama Shakespeariano identificando a posição ética em relação ao sujeito de desejo. A elaboração, durante esse Seminário, da fórmula $ à a, foi localizada, no grafo, na sequência da pergunta que o sujeito coloca ao Outro, Che vuoi? O que queres tu? Esta pergunta(inspirada em Cazotte, 1772), em que o sujeito busca a última palavra, mas que não tem nenhuma chance de encontrar senão através do percurso analítico, percurso no qual o sujeito percorrerá o circuito da cadeia significante superior, a cadeia inconsciente. Eis, para Lacan, a dimensão ética do desejo.

A torsão no grafo: a falta no Outro

Como vimos, o falo idealizado era Claudio. Mas a entrada em cena de Laertes enlutado por Ofélia, introduz a falta no Outro. Essa metamorfose de um Outro não barrado (garantido por Claudio) a um Outro barrado (Laertes que perdeu Ofélia) é homóloga, no grafo do desejo, à transformação de S(A), no segundo grafo, em S() no grafo completo.

Ofélia morta cumpriria a função do falo enquanto significante. “O falo enquanto é o elemento significante, subtraído à cadeia da fala enquanto ela engata toda relação com o outro” (Lacan, 1958-59, lição de 12/11/1958). Alguns elementos do drama dão consistência a essa interpretação, dos quais destacamos o principal: como Hamlet sabe que a morta é Ofélia, senão pelas palavras de luto de Laertes?

Para pensar o objeto no desejo, Lacan se dedica à elaboração em torno ao que denomina de um curto circuito imaginário, na relação a meio caminho deste circuito do desejo do Outro (d) com aquilo que está diante do sujeito, o fantasma, $ à a.

  “E a estrutura do fantasma, sua estrutura geral, é o que eu exprimo – ou seja, uma certa relação do sujeito ao significante, é o que é expresso pelo S barrado, é o sujeito conquanto ele é afetado irredutivelmente pelo significante, com todas as conseqüências que isto comporta, em uma certa relação específica com uma conjuntura imaginária em sua essência, a, e não o objeto do desejo, mas o objeto no desejo”  (non pas l'objet du désir, mais l'objet dans le désir) (Lacan, 1958-59, lição de 22/4/1959).

Para analisar essa relação ao significante, como pura diferença, Gilson (1984), refere-se à torsão da fita de Moebius:

  "Esta estructura del fantasma es un tiempo de detención, un tiempo suspendido de donde el sujeto no puede instituirse en una acción como deseo sino con la condición de perder el sentido de esta posición primordial. Lacan pone, aquí, el acento sobre la afánisis, es decir lo que el sujeto, en su desvanecimiento, pierde: es el sentido de su posición. Hay un punto imaginario donde el ser del sujeto, en su densidad máxima, no puede en ningún caso en último término ser nombrado, pero que se revela en esta función de corte, tal como la torsión se perderá en la banda moebiana. Es en el punto de desaparición del sujeto paralelo al ombligo del sueño que el sujeto ve, en última instancia, el engendramiento infinito del deseo hacia otro deseo, es lo que Freud llama, en su artículo sobre lo Inconsciente de 1917: la  Hilflosigkeit, ante lo cual estamos sin recurso en ese momento ahí, el deseo del Otro(Gilson, 1984, p. 247).

É também através da topologia que Carbajal et al (1984) e Eidelsztein (1992) analisam essa virada do grafo, para eles, trata-se de um “oito interior”. Essa estrutura seria resultante da conexão das arestas pendentes das duas cadeias significantes. Como na figura que segue (Eidelsztein, 1992, p. 166):

Neste drama shakespeariano, o encontro de Hamlet com o luto de Laertes por Ofélia introduz a dimensão inencontrável do objeto a. A intervenção do elemento imaginário na relação do eu ao outro vai permitir ao sujeito tentar remediar a Hilflosigkeit (insocorridade) na relação com o desejo do Outro. É por isso que a personagem Ofélia é um ponto chave para compreendermos o objeto a: Hamlet se enluta e deseja um objeto já perdido, impossível de alcançar. Hamlet, nesse momento, encontra-se frente a frente com a impossibilidade de completude, eis o sentido da Hilflosigkeit (insocorridade) freudiana.

Não há Outro do Outro

Então, se Lacan descreveu o desejo em Hamlet como desejo de morte, é porque morte é finitude, é falta no Outro. O desejo em Hamlet é desejo de morte porque o desejo é desejo de falta. Lacan observa que se Hamlet sempre está na hora do Outro, esta hora é uma miragem. Pois não há Outro do Outro. A hora é a hora de Hamlet. E não há senão uma única hora: a hora de sua perda. E todo o drama Hamlet mostra o encaminhamento implacável de Hamlet nessa direção. Ofélia é um elemento de articulação essencial no caminho que “Hamlet percorre para seu encontro mortal, a realização de um ato que ele cumpre de alguma forma contra a sua vontade” (Lacan, 1958-59, lição de 15/4/1959).

Mas aqui é preciso uma análise gramatical, trata-se do desejo em Hamlet, a tragédia, e não do desejo de Hamlet o personagem, no sentido do genitivo subjetivo. Retornamos ao mote: Hamlet é a tragédia do desejo. E prossigamos, se Hamlet é a tragédia do desejo, e se o desejo em Hamlet é o desejo de morte, o que é trágico, no sentido grego do trágico, não é Hamlet o personagem, mas o desejo. É assim que deve ser interpretada a afirmação de que Hamlet é a tragédia do desejo.

Freud leu em Hamlet o mito edípico; Hamlet não conseguia vingar a morte do pai, pois atingiria um outro de si mesmo, seu eu infantil, seu duplo fálico. Lacan vai ler Hamlet em relação ao testemunho de Santo Agostinho. “Vi e observei uma criança, cheia de inveja, que ainda não falava e já olhava, pálida, de rosto colérico, para o irmãozinho de leite” (Santo Agostinho, 1988, p. 30). Esse outro que tem a posse do objeto seria um duplo que forma Um, o falo, com o outro. Mas quando, ao outro, foi subtraído o objeto?

É essa falta que explica que a Ofélia pranteada por Laertes se torna a Ofélia desejada por Hamlet.  Laertes foi para Hamlet um duplo ao qual falta o objeto. Então o desejo, ao depender de um duplo, está destinado a ser desejo mimético? Hamlet não imita o luto de Laertes, que quer agarrar Ofélia em seus braços; pelo contrário, Hamlet se distancia daquele ao enunciar: “Eu amo Ofélia; quarenta mil irmãos não poderiam, com toda essa quantidade de amor, chegar à minha soma” (Shakespeare, 2003, ato V, cena 1, 236-238). Eis o elemento significante, a diferença, e que é o que distingue a Ofélia de Hamlet da Ofélia de Laertes. Se a leitura de Hamlet por Girard fica ofuscada pelo fenômeno da disputa, a leitura de Hamlet com Lacan nos permite pensar a partir da diferença, da identificação ao que é único.

Vimos que, ao longo do Seminário 6: o desejo e sua interpretação (1958-59), Lacan não se guiou por outro fio condutor que não fosse o desejo. Isto explica a sequência de assuntos dos quais o seminário trata: da análise do sonho de um paciente de Freud à análise do sonho do paciente de Ella Sharpe para o estudo de Hamlet. Esses temas esclarecem e apóiam o grafo do desejo.

Dez anos depois, no Seminário 16: de um Outro ao outro (1968-69), Lacan encontrará, através de seus estudos de lógica, uma outra forma de explicar a falta no Outro. É quando ele estabelecerá uma homologia entre as falhas da lógica e as falhas da estrutura do desejo. Com a teoria da incompletude dos sistemas matemáticos, Kurt Gödel (1906-1978) revelou que o axioma que constitui um sistema não é um elemento do sistema, mas lhe é exterior. Um sistema consistente é, portanto incompleto. Lacan estabelecerá uma homologia entre o teorema da incompletude e o desejo. Revelará que há uma estrutura de desejo incompleta e consistente, pois o objeto a causa do desejo, não será reencontrado em uma série metonímica de objetos. O que o sujeito reencontra, a cada vez, é a falta do objeto.

Dessa forma, o objeto a dará consistência à estrutura de desejo, mas o que esse objeto faz é dar a forma (em-fôrma) da estrutura, mas ele é exterior à estrutura. Lacan inventará o neologismo “êxtimo” para se referir ao que é ao mesmo tempo íntimo e exterior à estrutura.

O passo seguinte será a análise da denegação no neurótico enquanto recusa do princípio de não contradição (cujo enunciado é “algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo”). Através da denegação, o neurótico e o perverso criariam a ilusão de que, em um momento inicial, o objeto esteve lá, mas foi perdido. Mas a falta vai perdurar na estrutura discursiva, gramatical. Pois a censura sobre o agente na estrutura gramatical do enunciado, por exemplo, na formulação “Bate-se em uma criança”, permite que o desejo tenha consistência, perdure. Assim, a falha da estrutura do desejo será sustentada pela estrutura gramatical. Enfim, com os instrumentos da lógica, Lacan estabeleceu, inicialmente, uma homologia, para, em um segundo momento, usar, na clínica, os resultados obtidos pelo uso psicanalítico que conseguiu fazer desses instrumentos lógicos.


Notas

  1. As referências ao Seminário 6: o desejo e sua interpretação (1958-59), de Jacques Lacan, são citadas da edição não-comercial (Lacan, 2002) e cotejadas com as versões do texto do mesmo seminário disponíveis em <<www.gaogoa.free.fr>>.
  2. A figura acima à esquerda foi obtida na versão de Staferla do Seminário 6, de Lacan (disponível em www.Gaogoa.free.fr/). A figura à direita tem por fonte Gilson, 1984.
  3. A figura e a descrição, com números, expostas acima, foram obtidas na versão de Staferla do Seminário 6, de Lacan, disponível em www.gaogoa.free.fr/ .


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Resumos

Hamlet and the graph of desire

This paper focus on Shakespeare's Hamlet in rapport with the graph of desire. Lacan does not consider the main character as a clinical case, but the drama itself as the tragedy of desire. Two scenes are examined in parallel with steps of the graph of desire: 1) the scene of the dialogue of Hamlet with Gertrude in the third act of the drama, where the subject's desire is captured by the Other’s demand, as in graph two of Lacan; 2) the fifth act scene on Ophelias’s grave, the metamorphosis of Hamlet by Laertes’ grief, can be located on homology with the question "Che vuoi?" in the third graph and the turns of S(A) into S(), the barred Other, in the complete graph. The work questions a key issue in the study of the graph of desire, namely, the turns of S(A), in the second graph, into S() in the complete graph. Therefore, the interpretation of the scene of Hamlet’s metamorphosis contributed to the conception of topological twisting in the graph of desire.

Keywords: psychoanalysis, graph of desire, literature, topology.

Hamlet et le graphe du désir

L'article analyse le Hamlet de Shakespeare en rapport avec le graphe du désir. Lacan met l'accent sur l'ouvre Hamlet comme la tragèdie du désir et non sur le personnage comme un cas clinique. Deux scènes sont mises en rapport avec les étapes du graphe: 1) dans le troisième acte, le dialogue de Hamlet avec Gertrude, où le désir du sujet est capturé par la demande de l'Autre, comme le montre le graphe deux; 2) dans le cinquième acte, la scène de la métamorphose de Hamlet en face du deuil de Laertes par rapport à Ophelia peut être situé en homologie à la question "Che vuoi?" dans le troisième graphe et la transformation de S(A) en S(), l'Autre barré, dans le graphe complet.  L'article travail un enjeu crucial pour l'étude du graphe du désir: la transformation de S(A), au second graphe, en S(), dans le graphe complet. Nous concluons que l'interprétation de la scène de la métamorphose du désir en Hamlet a contribué pour l'élaboration de la conception de la torsion topologique du graphe du désir.

Mots-clés: psychanalyse, graphe du désir, literature, topologie.

 

Citacão/Citation: D’AGORD, M.R. de L.; UMPIERRE, A.S. Hamlet e o grafo do desejo. Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VII, n. 13, nov./2011 a abr./2012. Disponível em www.isepol.com/asephallus

Editor do artigo: Tania Coelho dos Santos.

Recebido/Received: 21/10/2012 / 10/21/2012.

Aceito/Accepted: 14/12/2012 / 12/14/2012.

Copyright: © 2012 Associação Núcleo Sephora de Pesquisa sobre o moderno e o contemporâneo. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permites unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the author and source are credited.