O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

 

A droga a serviço da pulsão de morte

Alexandra de Gouvêa Vianna
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-Rio (Rio de Janeiro, Brasil)
Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio (Rio de Janeiro, Brasil)
Membro do Projeto Despertar1 e do Projeto Acolher2
Participante da Escola Letra Freudiana (Rio de Janeiro, Brasil)
e-mail: agvianna@gmail.com

Resumo

O artigo delineia um estudo sobre as toxicomanias pelo viés psicanalítico, onde o foco é a investigação da função que a droga ocupa para o sujeito. O objeto de estudo em questão é o sujeito que apresenta uma compulsão pela droga. Logo, não trataremos dos efeitos orgânicos produzidos pela substância, mas dos efeitos produzidos no sujeito da psicanálise. Para tanto, lançaremos um olhar sobre o uso da droga através dos conceitos de pulsão de morte, supereu, gozo e função paterna. Partindo da hipótese de que a fragilidade ou inoperância da função paterna propicia a compulsão ao objeto droga como um modo de dar conta da angústia provocada pelos efeitos da castração, o artigo apresenta como proposta de direção do tratamento a convocação da função paterna como um viés clínico para a produção de um corte nesse circuito.

Palavras-chave: psicanálise, drogas, pulsão de morte, gozo, supereu, função paterna.

 

O tema do artigo surgiu a partir da escuta de sujeitos que estão às voltas com o diagnóstico de dependência química. Mas não proponho aqui pensarmos na questão das drogas pelo viés de um diagnóstico médico-psiquiátrico. Ao contrário, escrevo a partir da minha experiência clínica com toxicômanos, na qual escuto o sujeito para além de qualquer diagnóstico endereçado a ele ou mesmo sustentado pelo próprio. Entretanto, é sabido que cada significante direcionado a um analista diz respeito a uma verdade que o sujeito carrega sobre si próprio. Por esse motivo proponho a escuta desse diagnóstico pela via do significante, para que o sujeito esteja implicado no que ele porta como discurso.

Uma das fórmulas repetidas entre companheiros de salas de mútua ajuda define a dependência química como uma doença progressiva, incurável e de determinação fatal, que mata desmoralizando. Essa frase carrega um peso muito forte e vai ao encontro do discurso popular de que a dependência química designa não apenas uma doença incurável, mas ainda de caráter moral. Diferentemente dos usuários esporádicos e sociais, os toxicômanos abusam do consumo da substância a ponto de causar constrangimento a si próprio e aos outros. É por essa razão que eles não circulam impunemente pelo social. Ao contrário, são vistos como moralmente desprezíveis e rotulados como delinquentes.

Mas não são apenas os efeitos orgânicos que estão em jogo nas toxicomanias. Essa nomeação, assim como qualquer outra, lhe confere um lugar. Em seu discurso, uma vez toxicômano, para sempre toxicômano. Logo, ele deve dedicar a vida ao cuidado de sua doença, pois se coloca em estado de recuperação permanente. Para tanto, não há espaço para ocupar outros lugares. Se não é possível conciliar estudo, trabalho e relacionamentos amorosos com o tratamento, então ele poderá abrir mão de tudo isso. Ao fazer essa escolha, o sujeito opta pela droga como uma forma de existência. Assim, para ele não há uma identidade possível a não ser a de toxicômano.

Assim, é importante levar em consideração o valor de identidade que as toxicomanias conferem, pois o reforço do diagnóstico de dependência química enquanto identidade cristaliza ainda mais o indivíduo nessa posição. Faz-se necessário, em contrapartida, apontar como direção para o tratamento outros modos de inserção no social. Visto que a droga cumpre a função de encobrir o embaraço do sujeito com o seu desejo inconsciente, será a partir da escuta da relação - sempre singular - construída com a droga que torna possível pensar a direção do tratamento.

Por conseguinte, o intuito deste estudo é focar no sujeito e não na droga considerada isoladamente, uma vez que a droga em si não diz nada sobre o sujeito. Como escreve o psicanalista francês Marcos Zafiropoulos, “o toxicômano não existe” (Zafiropoulos, 1994, p. 18). O que existem são sujeitos que fazem uso de diversos tipos de droga de formas sempre singulares.

Em sua abordagem sobre o que define como um “amortecedor de preocupações” (Freud, 1930[1929], p. 85), Freud ressalta a droga como um dos principais recursos para lidar com o mal-estar da cultura:

“Contudo, os métodos mais interessantes de evitar o sofrimento são os que procuram influenciar o nosso próprio organismo. Em última análise, todo sofrimento nada mais é do que sensação; só existe na medida em que o sentimos, e só o sentimos como conseqüência de certos modos pelos quais nosso organismo está regulado.

O mais grosseiro, embora também o mais eficaz, desses métodos de influência é o químico: a intoxicação. Não creio que alguém compreenda inteiramente o seu mecanismo; é fato, porém, que existem substâncias estranhas, as quais, quando presentes no sangue ou nos tecidos, provocam em nós, diretamente, sensações prazerosas, alterando, também, tanto as condições que dirigem nossa sensibilidade, que nos tornamos incapazes de receber impulsos desagradáveis” (Freud, 1930[1929], p. 85-86).















A descoberta da droga é marcada por uma promessa de liberdade: seus efeitos produzem uma sensação de prazer imediato, além de proporcionar um alívio frente às exigências da realidade. Esse é o grande atrativo da droga. No entanto, ao comprar essa promessa de liberdade o sujeito se depara com a prisão da droga.

Imerso no mal-estar da civilização, o toxicômano é aquele que foge de qualquer tentativa de elaboração psíquica, e de consumidor passa a ser consumido pela droga. Dessa forma, podemos dizer que a queixa inicial do toxicômano não é da ordem do sintoma que emerge do desejo inconsciente, mas de escravidão a um objeto. A droga se apresenta em seu discurso como um artifício que mascara o sintoma, impedindo que o mesmo seja transformado em enigma.

Ao recusar as técnicas sublimatórias da civilização e se lançar nas toxicomanias, o sujeito assinala para uma tentativa de tratamento médico do seu mal-estar, abdicando de seu lugar enquanto sujeito desejante. Logo, o artifício da droga detém a função de prótese reparadora do embaraço do sujeito em relação com o seu desejo inconsciente.

Embora a ingestão da substância propicie um efeito imediato de prazer, a compulsão que deriva do seu uso contínuo produz sofrimento, pois aprisiona o sujeito a um modo de satisfação libidinal exclusivamente através da droga. Esse aprisionamento remete a outra modalidade de obtenção de prazer regulada pelo regime do gozo. Neste circuito, só o recurso solitário da droga satisfaz.

Com isso, o sujeito passa a não reconhecer outras formas de busca de prazer. Aqui nos deparamos com o paradoxo das promessas da droga: embora o consumo da substância garanta de imediato o alívio da dor, quando a pulsão destrutiva fala mais alto a compulsão pela droga se instaura. De alívio da dor, a função do uso da droga sob o regime do gozo se reverte para uma busca de satisfação no sofrimento.

A compulsão à droga não decorre, portanto, apenas do encontro com a substância. É o sujeito que faz dela o seu objeto privilegiado de um mecanismo que é próprio da pulsão: a compulsão à repetição, cuja principal característica é a irresistível atração pelo sofrimento, como assinala Rudge (1998). E a compulsão à droga não foge a essa regra.

Quando escutamos as recaídas (termo utilizado pelos pacientes para se referirem à compulsão à droga) a partir do contexto da história do sujeito, notamos que elas seguem um padrão que não diz respeito exclusivamente ao que é da ordem da dependência orgânica. De modo recorrente, o uso da droga está relacionado a um momento em que o sujeito se vê sem recursos para lidar com as exigências e frustrações da cultura, buscando nela um artifício de suspensão diante da angústia. Logo, as recaídas cumprem a função de regulação da angústia provocada pela relação do sujeito com o desejo. Nesse sentido, a recaída promove uma suspensão que o liberta de seu mal-estar, ainda que momentaneamente. E a compulsão que resulta da busca constante deste artifício faz com que o sujeito se oculte na droga e deixe de se apropriar de outros recursos para lidar com a angústia.

Inem (2004) enfatiza que o toxicômano realiza um fazer em detrimento do dizer em sua tentativa de tamponar a falta engendrada pela castração, operando uma narcose do desejo. Para a autora, nas toxicomanias o sintoma se apresenta em sua vertente de gozo, “cuja insistência pulsional obriga o sujeito a repetir o impossível de ser articulado na cadeia significante” (Inem, 2004, p. 91). No entanto, a angústia sempre retorna para ele, evocando a castração:

“Assim, o dito de um sujeito, ‘tive uma recaída’, ao se referir ao ato de voltar a usar drogas, pode ser relacionado ao retorno, à ‘re-caída’ na angústia, à evocação da castração, o que faz com que recorra e/ou re-caia na mesma estratégia para evitar se confrontar com o ‘rochedo da castração’” (Inem, 2004, p. 92).






A compulsão à droga opera um curto-circuito na relação com o desejo e destitui o sujeito de sua posição desejante. Como escreve Braunstein (2007), o objeto da toxicomania é diferente do objeto da pulsão ou do fantasma, pois mascara o desejo inconsciente por se tratar de um objeto da necessidade. Por não deter o valor de objeto fálico, a droga não constitui um objeto sexual substitutivo: “é, pelo contrário, um substituto da sexualidade mesma, um modo de afastar-se das coações relacionais impostas pelo falo” (Braunstein, 2007, p. 281). Nesse sentido, a droga se assemelha ao auto-erotismo, no qual o acesso ao gozo não passa pelo corpo do outro.

Segundo o autor, a drogadicção consiste em um método de subtração do sujeito do intercâmbio simbólico e produz uma separação – ainda que precária e alternativa - no que diz respeito aos efeitos da operação de alienação significante: “na intoxicação não há um morto, mas um ‘dar-se por morto’” (Braunstein, 2007, p. 280). O toxicômano degrada o seu corpo e o reduz à miséria de sua servidão orgânica.

A suspensão frente à angústia e ao desejo através do uso da droga se aproxima da concepção de uma força que conduz o ser vivo para o estado inorgânico, metáfora utilizada por Freud (1920) ao se referir à pulsão de morte. A destituição de si mesmo enquanto sujeito desejante que deriva do ato de se drogar é o que aponta para as toxicomanias como um artifício a serviço da pulsão de morte.

Este recurso se apresenta como resposta às exigências que advém do ideal do eu. Essa instância é a responsável por apontar os caminhos que conduzem o sujeito em sua eterna busca de aproximar-se de seu eu ideal, que promoveria a satisfação narcísica. Assim, quando a angústia provocada pelas exigências do ideal do eu torna-se insustentável, o sujeito recorre às drogas para anestesiar-se. Até um certo limiar, a angústia coloca o sujeito em movimento. Contudo, quando esse limiar é ultrapassado o sujeito esbarra em um ponto de impedimento onde se aprisiona à droga.

É sob este aspecto que proponho um olhar sobre as toxicomanias a partir do conceito de pulsão de morte em seu caráter conservador de resistência à mudança e repetição do mesmo, uma vez que a pulsão de morte e a compulsão à repetição vêm dar conta na teoria dessa força que produz sofrimento. A droga resguarda apenas momentaneamente o sujeito da dor, pois passado o seu efeito a angústia retorna. Nesse circuito vicioso, a compulsão à droga conduz a um aprisionamento na dor.

O aparelho psíquico é regulado pelo princípio de prazer, que busca evitar o desprazer ou produzir um sentimento de prazer (Freud, 1920). No entanto, a tese na qual o prazer está relacionado à diminuição da tensão e o desprazer ao seu aumento mostra-se insuficiente para dar conta das complexidades dos processos mentais. Com isso, Freud (1920) alega que seria incorreto atestar que há uma predominância do princípio de prazer no aparelho psíquico, embora possamos dizer que haja uma tendência nesse sentido que é frequentemente contrariada por certas forças pulsionais. Freud ilustra esse fenômeno através da repetição dos sonhos na neurose traumática que reencenam o trauma, contrariando o princípio de prazer e a função de preservação do sono que Freud também atribui aos sonhos, pois ao produzirem desprazer despertam o sujeito. Os sonhos traumáticos persistem e contrariam o princípio de prazer porque a pulsão insiste.

Freud (1920) atribui a compulsão à repetição ao recalcado, o que explica a sua contradição: embora provoque desprazer para o sistema consciente, a compulsão à repetição satisfaz o sistema inconsciente. Por servir como um veículo para a pulsão de morte, as manifestações da compulsão à repetição revelam uma atração pelo sofrimento, que pode ser referida ao sentimento de culpa.

Segundo Garcia-Roza (2003), a repetição nada mais é do que a atualização do material recalcado através da atuação. Essa atualização não é reproduzida como lembrança, mas como ação. A repetição não é percebida pelo sujeito enquanto tal em função do seu mecanismo defensivo inconsciente, pois caso fosse reconhecida perderia a sua eficácia.

Embora a repetição no processo analítico represente um sinal de conflito psíquico e aponte para uma forma de resistência, é ao mesmo tempo um grande instrumento terapêutico, pois consiste em um equivalente simbólico do desejo inconsciente.

No artigo de 1920, o conceito de pulsão sofre uma torção na obra freudiana que desencadeará em um novo dualismo pulsional: a pulsão de vida e a pulsão de morte, que correspondem a dois aspectos complementares da pulsão. A pulsão de vida refere-se à construção no nível da atividade pulsional, buscando combinar indivíduos, famílias, povos, em uma unidade (Rudge, 1998). Já a metáfora em questão na pulsão de morte sugere uma tendência à dissolução do eu, visando o retorno do funcionamento do aparelho psíquico sob o regime do processo primário. A pulsão de morte veio dar um lugar teórico ao poder de uma pulsão destrutiva ou agressiva na vida psíquica (Rudge, 1998). Assim é estabelecido o campo da destrutividade do homem como um verdadeiro tema de interesse clínico, que foi impulsionado pelos casos de neuroses traumáticas, manifestações masoquistas, reação terapêutica negativa e auto-ataques analisados por Freud. O sadismo presente na pulsão sexual é atribuído, a partir desse novo dualismo, à pulsão de morte.

Rudge (1998) ressalta o supereu como uma ferramenta teórica fundamental para entender como age a força pulsional que conduz ao sofrimento, pois essa instância opera como um mediador indispensável dessa força. É, então, a partir do enlace da pulsão de morte com o supereu que daremos prosseguimento ao trabalho.

Freud descreve em 1926 a reação terapêutica negativa e o masoquismo como manifestações da tirania de um supereu sádico sobre o eu. Dentre os cinco tipos de resistência distinguidos nesse mesmo artigo, o que deriva do supereu se apresenta como o mais radical. A resistência que emerge do supereu está relacionada ao sentimento de culpa e à necessidade de autopunição, opondo-se a qualquer movimento para o sucesso, inclusive no que diz respeito à direção do tratamento psicanalítico. Vale notar que na vocação para o fracasso está implícita a concepção do masoquismo como originário (Freud, 1924).

Em “Análise terminável e interminável”, Freud (1937) assinala, como representantes da pulsão de morte, o sentimento de culpa e a busca por punição, ambos inconscientes, que apenas tornam-se reconhecíveis quando a pulsão de morte está ligada ao supereu. Ou seja, a pulsão de morte se faz ouvir quando ligada ao supereu. Logo, essa última instância torna-se a responsável pela eficácia das manifestações que advém da pulsão de morte e da compulsão à repetição.

O supereu constitui-se a partir das primeiras palavras ouvidas pela criança de suas figuras parentais, perpetuando-se como uma marca no sujeito da identificação com os pais. Como escreve Rudge (2006):

“A identificação com o adulto que dá origem ao supereu é basicamente identificação com seu desejo em relação à criança, embora saibamos que o ódio recalcado do próprio sujeito virá a colorir em tons mais fortes a hostilidade do supereu, que, portanto, não será forçosamente proporcional ao ódio de fato apreendido nos cuidadores. Os mandatos superegóicos resultam de identificações com o que, nos pais, é desejo inconsciente, e subjugam o sujeito com especial eficácia porque operam, em sua quase-totalidade, de forma inconsciente” (Rudge, 2006, p. 85).










O caso clínico de um jovem de 19 anos atendido por mim ilustra bem os efeitos da ligação da pulsão de morte com o supereu. Certa vez, ele relatou que apenas quando a sua mãe visse uma fotografia dele morto na capa de um jornal ela passaria a olhar para ele. E os esforços desse jovem para que algo próximo a isso ocorra não são poucos.

Nas toxicomanias, a ligação da pulsão de morte com o supereu provoca o aprisionamento do sujeito à droga, no qual ele se anula enquanto sujeito e de consumidor passa a ser consumido pela droga. Esse fenômeno pode ser compreendido como uma forma de autopunição movida pelo sentimento de culpa, embora apenas na singularidade de cada caso seja possível apreender a função que a droga ocupa para o sujeito.

Não obstante, na compulsão à droga o sujeito se encontra impedido de alcançar uma elaboração psíquica. Impossibilitado de passar à palavra, ele passa ao ato. Desse modo, é a partir de uma aposta na escuta psicanalítica que o sujeito ocultado na droga poderá emergir.

Segundo Aulagnier (1985), a satisfação proveniente da pulsão de morte não depende de um objeto, mas de um ato. Ou seja, é a única pulsão efetivamente autônoma, ao contrário da pulsão de vida que necessita investir em objetos para alcançar satisfação. A ausência de objetos que poderiam ser investidos por Eros a fim de satisfazer um certo número de ideais é o fator que deixa uma via livre para a pulsão de morte, cuja meta corresponde ao desejo do não-desejo ou à recusa de desejar. A pulsão de morte se manifesta como resposta ao excesso de sofrimento engendrado pelo excesso de trabalho psíquico vivido pelo sujeito.

“Na neurose, a pulsão de morte só pode triunfar porque o eu recusa o sofrimento causado pela ausência de um prazer ao qual ele não quer renunciar, embora a eventual realização de um tal prazer implique a culpabilidade de se ter transgredido a interdição do incesto” (Aulagnier, 1985, p. 162).







Com isso, a contrapartida para que haja um equilíbrio na economia libidinal do sujeito está em Eros, cuja meta é a preservação da vida através do investimento em objetos que proporcionem a satisfação narcísica. Esses investimentos são referidos pela autora como implicação pulsional. A ausência desses objetos impede que Eros cumpra os seus objetivos.

Já no registro da psicose, a implicação pulsional corre mais riscos de não encontrar o suporte necessário para a sua preservação, pois o próprio corpo e o Eu do sujeito psicótico encontram-se fragmentados. O conflito decorrente desses riscos impossibilita que o eu experimente a satisfação narcísica, pois o próprio eu, sempre aberto para o sofrimento, corre o risco de se tornar incapaz de se disponibilizar a Eros como fonte de prazer e como objeto de investimento. Logo, tal conflito diz respeito à relação do eu com seus investimentos narcísicos e identificatórios.

Sobre o toxicômano, Aulagnier (1985) escreve que ele goza das representações e pensamentos que atribui às drogas. Ou seja, o seu gozo não diz respeito diretamente ao desejo sexual em função do superinvestimento na droga, que exclui do espaço psíquico outros pensamentos com finalidade sexual. Assim, a demanda de um prazer sexual dirigida ao eu do outro é silenciada, em proveito de um prazer que depende somente do próprio sujeito, o que aponta para uma clivagem entre o sexual e o narcísico.

O prazer se torna uma fonte de conflito quando o eu se vê obrigado a abrir mão do prazer imediato produzido pela satisfação das necessidades do corpo, ou da satisfação que deriva de sua atividade de pensar. Para o toxicômano, toda a espera de prazer, seja narcísico ou sexual, é insuportável, pois a espera é vivida com a convicção de que o prazer lhe será recusado. A relação desses sujeitos com o prazer exige uma exclusividade que está presente na relação do eu com a sua própria atividade de pensar e na sua relação com o corpo:

“ou se goza do pensamento, e as demandas do corpo são vividas como se fossem um adversário que deveria ser reduzido ao silêncio, ou então goza-se do corpo e neste caso é a atividade de pensar que deverá ser silenciada” (Aulagnier, 1985, p. 164).






A problemática do toxicômano localiza-se na aliança que realiza entre as exigências do corpo e as do pensamento, que somente é alcançada quando “se consegue fazer do prazer de um desses dois registros o que responde a uma necessidade para o segundo” (Idem, grifo da autora). Dessa forma, a droga se torna ao mesmo tempo objeto de prazer para atividade de pensar, e objeto de necessidade e de sofrimento para o corpo. Um processo semelhante ocorre no apaixonamento, no qual o gozo sexual exige a atividade de pensar no objeto amado de maneira exclusiva e obsessiva no registro de uma necessidade, e a ausência desse objeto vem acompanhada de grande sofrimento.

Nesse regime, Eros e Tanatos entram em conflito, pois buscam se apropriar simultaneamente de ambos os territórios: satisfazer as exigências do corpo e as do pensamento. Esse conflito se tornaria insustentável se não existissem momentos de trégua, que permitem o encontro com um objeto, com uma meta ou com uma atividade.

Tendo em vista que o supereu está por trás da compulsão à droga através da sua ligação com a pulsão de morte, tomaremos como um percurso teórico-clínico uma análise dessa instância e da função paterna, a fim de trabalharmos a direção do tratamento nas toxicomanias.

De acordo com Freud (1909[1908]), aos poucos a criança liberta-se da submissão à autoridade dos pais para dar lugar a uma atitude crítica, imprescindível para a internalização das normas da cultura e subsequente separação da figura parental, a fim de constituir-se como um sujeito distinto. Contudo, como escreve o autor, há “uma classe de neuróticos cuja condição é determinada visivelmente por terem falhado nessa tarefa” (Freud, 1909[1908], p. 219), o que é notório nos toxicômanos que não se intimidam em levar até o fim o desejo de todo neurótico de apreender o bem soberano que conduziria à plenitude. Ao fazer um uso compulsivo da droga, objeto interditado, o sujeito transgride as normas da cultura e perturba o seu laço com o social. Por se ver impossibilitado de ficar sem a droga e com isso ser impelido ao uso a despeito de qualquer julgamento – ou, ao contrário, pela satisfação de ser um fora-da-lei – o verdadeiro toxicômano marca o seu laço com o social através da delinquência. Ele se agarra à sua onipotência para lançar-se em jogos cada vez mais arriscados. O envolvimento com o tráfico, roubos e meios que não economizam criatividade para garantir o acesso à droga usualmente fazem parte de seu repertório. Ao se comportar como um transgressor, o sujeito clama para que lhe sejam impostos limites; caso contrário, não seria necessário atrair tanto a atenção de sua família e da sociedade. Logo, o toxicômano expressa um apelo no ato delinquente para que, de fora, seja contido.

O toxicômano desperta o fascínio naqueles que temem a lei, o que faz dele um herói, nas palavras de Melman (1992). O fascínio é suscitado pelo caráter transgressor, que revela uma pretensa falta de temor à castração, pois é precisamente em busca da lei que o toxicômano dirige os seus atos. Com isso, não é o valor material do objeto que importa, mas a sua condição de ser raptado ou violado, o que configura a delinquência como uma reivindicação do objeto do qual foi privado, seja como um meio de resgatá-lo de forma subversiva, seja como vingança por algo tão essencial ter-lhe sido negado.

Ao apreender um objeto que mascara a falta, o sujeito revela que conserva a ilusão de completude narcísica. Dessa forma, as toxicomanias assinalam para uma tentativa de manter-se apartado da rivalidade sexual, evitando o encontro com a falta.

Notamos, portanto, a construção de relações de dependência marcadas pela ilusão de completude – a qual não reconhece a falta como o que dirige o desejo-, o que possui relação com a insuficiência de um pai simbólico que introduza o sujeito na lógica da castração.

O que faz da droga um objeto capaz de escamotear a falta e oferecer a ilusão de completude é a sua não interdição pela lei paterna, que falha na tarefa de impedir o acesso imediato ao objeto. Caberia à função paterna remeter o sujeito à castração através da interdição do objeto, permitindo que a falta seja reconhecida como o que dirige o desejo. A falta é estruturante na medida em que assinala os meios para a inscrição no social. Entretanto, diante da insuficiência do registro de um pai simbólico, o toxicômano recorre à transgressão para reivindicar um vestígio do pai através do que Melman (1992) nomeia de transmissão de uma insígnia. Com isso, o sujeito lança mão do ato transgressor – que opera segundo o registro do real – para que o seu apelo à interdição seja atendido, o que lhe designaria um lugar no qual pudesse se apropriar do desejo do Outro. Através da lei, o pai concede a possibilidade de o sujeito constituir-se como um ser imperfeito, porém dotado da linguagem como um recurso à subjetivação. Enquanto não é escutado pelo pai, o toxicômano procura ser atendido por outras instâncias, seja através da escola, do Estado ou do analista.

Lebrun (2010) chama a atenção para o fato de que o declínio do patriarcado não tem equivalência com o declínio da função paterna.

“É, então, essencial discernir a função do pai no social – dita função patriarcal –, que vai de par com uma lógica do ponto fixo exógeno, com a função paterna, entendida não como o papel do pai, mas como o lugar que um qualquer – frequentemente, o genitor, mas sem que isto seja indispensável – ocupe para a mãe e para a criança, que estruturalmente permita que se instale no aparelho psíquico a capacidade de substituição significante, dito de outro modo, a competência metafórica” (Lebrun, 2010, p. 18).









Segundo o autor, o declínio da função paterna está relacionado à impossibilidade de o pai impor um limite no filho por temer a perda do seu amor, uma vez que o social acredita ter-se emancipado desse lugar de pai como detentor do limite. Como consequência, vê-se dificultada a inscrição do limite no aparelho psíquico da criança, permitindo que ela permaneça no lugar de criança-rei.

Não obstante, para que o desejo seja instaurado, é imprescindível a renúncia do gozo imediato e absoluto. Esse é o interdito do incesto que introduz o sujeito na ordem simbólica. Quem ordena essa renúncia é o pai, enquanto representante da Lei da linguagem.

“O objeto inteiramente satisfatório, das Ding, a Coisa, como Freud a denomina, é representado pela Mãe, que ocupa o lugar daquilo a que o sujeito, para existir como tal, deverá renunciar. Está fora de questão para um homem ou para uma mulher encontrar uma vida relativamente satisfatória se eles não deixarem a cama da mãe” (Lebrun, 2010, p. 31).







O autor atenta, com isso, que estamos de saída marcados pela insatisfação e condenados a um eterno trabalho de luto. Ao mesmo tempo, esse processo é o que instaura o desejo, sempre condicionado ao que a linguagem porta de não-coincidência, de mal-entendido, que derivam do interdito do incesto: “Com efeito, ficamos sempre determinados por aquilo a que foi preciso renunciar, e é apenas a partir daí que podemos sustentar o que se chama de desejo” (Idem.). Estando submetido à lei do significante, o sujeito renuncia ao regime de imediatismo na busca pelo objeto que possa produzir satisfação.

É através do mito de Édipo que Freud sinaliza a perda da Coisa metaforizada pela Mãe, ao designar o pai como quem demarca que a mãe e a criança não são tudo um para o outro. Logo, o pai se apresenta como o representante da linguagem. Notamos aqui a passagem inaugurada por Lacan na teoria psicanalítica. Enquanto na concepção freudiana é o pai quem impede o acesso à Mãe, à Coisa, para Lacan é o fato de sermos falantes que introduz a lógica do interdito. A partir da leitura do mito de Édipo, Lacan introduz os conceitos de Nome-do-Pai e metáfora paterna. Todavia, a figura do pai não perde o seu lugar de destaque, na medida em que é frequentemente por meio da sua fala que ocorre a inscrição no campo da linguagem.

A inscrição do significante fálico, segundo Lebrun (2010), atesta que o sujeito pagou a sua dívida com a linguagem, pois barra o gozo pulsional que regeu, até a inscrição da Lei, o todo de sua existência. Nesse sentido, as toxicomanias consistiriam em um paradigma de emancipação contra a subordinação ao Patriarcado. Para o autor, a modernidade nos dá o ultimatum de encontrarmos outros pontos de apoio não apenas na figura do pai. A problemática se coloca na medida em que o social de hoje não significa mais do mesmo modo o “Não!” primordial que funda a “terceiridade”3.

“Esse ‘Não!’ se encontra como que deslocado: ele não é mais, como na sociedade organizada em torno da religião, tornado presente ao sujeito pela consistência do significante fálico que o Pai tinha a responsabilidade de representar; esse ‘Não!’, em contrapartida, encontra-se sempre aí, mas doravante, unicamente no processo da significação fálica, somente é presentificado ao sujeito a par do procedimento que instala a significação fálica” (Lebrun, 2010, p. 56-57).









A crise da representação fálica lança a seguinte questão: como é possível transmitir a terceiridade, que constitui um traço específico do ser humano? Talvez a resposta encontrada pela sociedade contemporânea esteja na crença dos poderes da ciência que prometem livrar o sujeito de qualquer dor ou frustração gerada pelos efeitos da castração.

O verdadeiro não-dito do ato toxicomaníaco, de acordo com Santiago (2001), abriga uma contestação à Lei paterna, expressa na ruína de seu próprio corpo: “No fundo, esse artefato atua segundo o registro preciso de um símbolo em que se operou a completa expulsão de qualquer conteúdo representativo, de qualquer valor de sentido” (Santiago, 2001, p. 175). As toxicomanias podem ser referidas, portanto, a uma forma de expressar um apelo ao pai, com o intuito de amenizar a angústia que decorre da ameaça de castração.

Em seu trabalho sobre a função da psicanálise na criminologia, Lacan (1950) atribui o ato criminoso às tensões também criminosas no romance familiar como resposta ao complexo de Édipo. Impossibilitado de dar um sentido à castração pelo uso da fantasia, a transgressão atualiza os conflitos edípicos, enquanto remete ao Outro uma pretensa completude forjada através do uso de drogas. No entanto, o que ele porta de fato é o horror da castração e a impossibilidade conferir um contorno à falta. A busca pela adaptação ao real é prerrogativa de todo neurótico, que encontra e constrói meios singulares de lidar com a frustração, como através do sintoma. Entretanto, diante da falta de acesso ao objeto simbólico – interpretada como uma dívida que foi contraída com ele – a saída é se fazer notado pela transgressão como um meio de produzir um furo no campo do Outro, que lhe assegure um lugar para constituir-se como um sujeito desejante. Enquanto incorpora o objeto não interditado, o sujeito confia ao Outro o deciframento de sua ação como uma possibilidade de restituir o registro simbólico.

Ainda que aparentemente de forma contraditória, o toxicômano busca ser escutado através de seu ato transgressor. Contudo, assim como a Lei paterna, a droga também fracassa e o apelo proferido no ato transgressor pode não ser reconhecido. Nesse sentido, é preciso caminhar aquém da urgência imposta pelo sujeito, para que seja possível levantar a questão sobre o que o sustenta no seu lugar de toxicômano, uma vez que esse lugar o conduz inevitavelmente à frustração, pois o circuito da droga o lança novamente à angústia sempre que a abstinência se impõe para preservar a sua vida.

Embora não seja possível fazer uma descrição precisa sobre as toxicomanias – pois se assim o fizéssemos perderíamos de vista o sujeito em questão – na maioria dos casos de compulsão à droga é possível notar que o toxicômano visa se esquivar da questão que norteia o seu desejo e do mal-estar que advém do encontro com o social. Por esse motivo, rompe com o laço social através do ato transgressor. Não obstante, a transgressão exprime um apelo à função paterna para que opere um corte na relação destrutiva com a substância. Nessa medida, as toxicomanias designam um meio de atrair a atenção para o sofrimento em que o sujeito se encontra: o toxicômano grita com a droga. Impossibilitado de operar outro modo de resposta – como o sintoma – que viabilize a elaboração do que é da ordem do intolerável, a droga se apresenta como um recurso de suspensão diante do sofrimento, ao mesmo tempo em que exprime um apelo ao pai.


Notas

  1. O Projeto Despertar faz parte do Núcleo de Assistência em Saúde Mental Casa Verde, situado à Rua jornalista Orlando Dantas, 5. Botafogo, Rio de Janeiro, Brasil, CEP: 22231-010 - www.hospitaldiacasaverde.com.br

  2. O Projeto Acolher é composto por psicanalistas oriundos das mais diferentes formações e experiências clínicas, o Projeto Acolher é uma iniciativa que pretende constituir um lugar de exercício, interlocução e produção de saber, tendo a Psicanálise como esteio e possibilidade de articulação com outros saberes, práticas e discursos. Os encaminhamentos se dão através de uma parceria que o Projeto mantém com organizações não governamentais, associações de moradores, entidades ou pessoas jurídicas, além do contato com profissionais da rede pública e/ou privada que desejam encaminhar seus pacientes para um atendimento psicanalítico. Tais atendimentos são realizados nos consultórios particulares dos analistas participantes do Projeto disponibilizados em diferentes pontos da cidade. Contatos: 0**21 8184-4161. E-mail: oprojetoacolher@gmail.com

  3. Lebrun (2010) usa esse conceito para referir-se ao lugar do terceiro.



Referências bibliográficas


AULAGNIER, P. (1985) Os destinos do prazer. Alienação, amor, paixão. Rio de Janeiro: Imago.
BRAUNSTEIN, N. (2007) Gozo. São Paulo: Escuta.

BITTENCOURT, L. (1994) A paixão triste ou a narcose do desejo. Algumas relações entre toxicomania e depressão, in BITTENCOURT, L. (org.). A vocação do êxtase: uma antologia sobre o homem e suas drogas. Rio de Janeiro: Imago, p. 49-65.

FREUD, S. (1909[1908]) Romances familiares, in Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. IX, p. 219-224.

FREUD, S. (1920). Além do princípio do prazer, in Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XVIII, p. 11-78.

FREUD, S. (1924) O problema econômico do masoquismo, in Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XIX, p. 173-188.

FREUD, S. (1926 [1925]). Inibições, sintomas e ansiedade, in Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XX, p. 79-172.

FREUD, S. (1930 [1929]). O mal-estar na civilização, in Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XXI, p. 65-148.

FREUD, S. (1937). Análise terminável e interminável, in Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XXIII, p. 223-270.

GARCIA-ROZA, L.A. (2003) Acaso e repetição em psicanálise. Uma introdução à teoria das pulsões. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

INEM, C. L. (2004) Corpo em evidência, corpo de gozo, in ALBERTI, S.; RIBEIRO, M.A.C. (orgs.). Retorno do exílio. O corpo entre a psicanálise e a ciência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, p. 89-94.

LACAN, J. (1950) Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia, in Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p.127-151.

LEBRUN, J.-P. (2010) O mal-estar na subjetivação. Porto Alegre: CMC.

MELMAN, C. (1992). Alcoolismo, delinquência e toxicomania: uma outra forma de gozar. São Paulo: Escuta, 2000.

RUDGE, A.M. (1998) Pulsão e Linguagem. Esboço de uma concepção psicanalítica do ato. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

RUDGE, A.M. (2006) Pulsão de morte como efeito do supereu, in Revista Ágora [online]. Rio de Janeiro: Contracapa. IP/UFRJ, vol.IX, no.1, janeiro a junho de 2006, p. 79-89. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982006000100006&lng=en&nrm=iso

SANTIAGO, J. (2001) A droga do toxicômano: uma parceria cínica na era da ciência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

ZAFIROPOULOS, M. (1994). O toxicômano não existe. Fenomenologia da Experiência Toxicomaníaca e Referências Psicanalíticas, in BITTENCOURT, L. (org.). A vocação do êxtase: uma antologia sobre o homem e suas drogas. Rio de Janeiro: Imago, 1994, p. 17-32.


Resumos


The drug at the service of the death drive


This paper outlines a psychoanalytical study on drug addiction mainly through investigating the function that the drug has for the subject. The object of this research is the subject’s compulsion for the drug. The paper will address the effects produced on the subject from the psychoanalytical point of view and not the physiological effects produced by drugs. For this purpose, drug addiction will be viewed through the concepts of death drive, superego, jouissance and paternal function. Assuming that a weakness or ineffectiveness of the paternal function promotes a compulsion towards drugs to help cope with the distress caused by the effects of castration, this paper suggests that evoking the paternal function can produce an end to this circle.

Keywords:
psychoanalysis, drugs, death drive, superego, jouissance, paternal function.


La drogue au service de la pulsion de mort


L’article présente une étude psychanalytique de la toxicomanie, où l’accent de l’enquête est sur la fonction qui prend la drogue sur le sujet. L’objet d’étude en question est le sujet qui a une compulsion pour la drogue. Nous ne traiterons pas de les effets produits par la substance organique, mais de ses relations avec le sujet de la psychanalyse. À cette fin, nous allons lancer un coup d’oeil à la drogue à travers les concepts de pulsion de mort, surmoi, jouissance et function paternelle. En supposant que la faiblesse ou l’inefficacité de la fonction paternelle fournit la compulsion pour la drogue, l’article presente comme proposition pour la direction du traitement la convocation de la function paternelle comme un biais clinique pour produire une coupe dans ce circuit.

Mots-clés:
psychanalyse, drogues, pulsion de mort, jouissance, surmoi, function paternelle.


Citacão/Citation:
VIANNA, A.G. A droga a serviço da pulsão de morte. Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VI, n. 12, mai. a out. 2011. Disponível em www.isepol.com/asephallus
Editor do artigo: Tania Coelho dos Santos.
Recebido/Received: 18/03/2011 / 03/18/2011.
Aceito/Accepted: 14/05/2011 / 05/14/2011.
Copyright: © 2011 Associação Núcleo Sephora de Pesquisa sobre o moderno e o contemporâneo. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permites unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the author and source are credited.