O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

 

Relatório do GT/37: psicanálise e laço social: formação, produção e intervenções sobre a desinserção social

Rapport du GT/37 : psychanalyse et le lien social: formation, production et discours sur la desinsertion sociale

Report GT/37: psychoanalysis and the social bond: training, production and speeches on the social desinsertion



Coordenadores:

Tania Coelho dos Santo
taniacs@openlink.com.br


Jésus Santiago
santiago.bhe@terra.com.br

Presentes: Ana Lydia Santiago Antônio Márcio Teixeira, Analícea Calmon dos Santos, Cláudia Palma, Maria José Gontijo Salum, Rita Maria Manso de Barros, Sérgio Laia.

Membros inscritos: Margarida Elia Assad, Marta Regina D’Agord, Márcia Rosa Vieira, Leny Mrech, Fernanda Otoni Brisset.

I - Proposta de discussão

Durante essas conversações clínicas e outras reuniões de trabalho, pudemos avaliar a consistência e a efetividade da pesquisa em psicanálise aplicada nas diferentes interfaces com o direito, a educação, a medicina e o trabalho nas grandes corporações.  Dessas diferentes experiências de pesquisa-intervenção pudemos extrair um novo significante para orientar a reorganização do novo GT: [des]inserção social. Avaliamos que diferentes campos da vida institucional do país (saúde, educação, cultura, lazer, direito) têm problematizado sua atuação com a preocupação - de forma mais ou menos explícita – com os efeitos de inclusão ou de exclusão de suas práticas sobre o sujeito. Surgiu, então, a seguinte pergunta: a ideologia que orienta as práticas institucionais no sentido de produzir a inclusão e evitar a marginalização social apóia-se em princípios compatíveis com a ética do psicanalista?

A resposta a essa questão nos levou a diferenciar nosso vocabulário. No lugar de nos servir dos termos usualmente convocados – inclusão e exclusão -, partimos da perspectiva mais apropriada ao campo da psicanálise que considera que o sujeito é sempre singular e que sua inserção no laço social é sempre, mais ou menos, precária. Demarcamos assim nossa diferença com respeito às ideologias individualistas e igualitárias que – em nome dos direitos humanos – visam homogeneizar as necessidades e demandas do sujeito.  Como o uso do termo desinserção não goza de uso consagrado na língua portuguesa, decidimos adotá-lo para problematizar o conceito psicanalítico de laço social. Ele está bem estabelecido no campo da medicina. Por exemplo, no Dicionário digital de termos médicos significa “desligamento cirúrgico de uma estrutura anatômica de seu ponto normal de aderência, seja músculo, tendão ou ligamento”. Certo pesquisador da USP fala do surgimento da economia graças à sua desinserção de outros campos. Na educação, esse termo é mencionado geralmente entre aspas. Nos estudos de sociologia do trabalho, fala-se muito em inserção, desinserção e reinserção do trabalhador. No campo da psicanálise, esse termo começa a ser empregado para designar, por exemplo, os efeitos do desencadeamento de uma psicose nas relações com o ambiente social.  Ao colocar o [des] entre colchetes pretendemos indicar que existe uma inquietação com o uso desse significante e não uma adoção clara e definitiva. Essa atitude inquieta nos permite interrogar o que entendemos por inserção e [des]inserção no laço social.  Como distinguir a singularidade do sujeito, seu modo único de usufruir da vida, da noção de [des]inserção social? Quando é que podemos afirmar que um sintoma conecta (ou desconecta) o sujeito do laço social? Qual o estatuto próprio dessa noção no campo da psicanálise?

O novo GTvai ensejar um amplo espectro de pesquisas. Monografias de especialização, dissertações de mestrado e teses de doutorado em torno do tema da inserção e da [des]inserção social. Podemos antecipar que serão apresentados muitos trabalhos em eventos científicos que vão gerar uma grande quantidade de artigos em coautoria que serão publicados em coletâneas do GT ou em nas revistas científicas de psicologia bem avaliadas. Podemos predizer que essa produção terá impacto inovador no ensino e na pesquisa em psicanálise aplicada. Acreditamos que já é hora de precisar o uso adequado dos termos inserção e [des]inserção no laço social, no campo da psicanálise, evitando a importação impensada e confusa do uso desse termos em outros campos do conhecimento. Esse esforço é essencial para manter a coerência e a coesão dos conceitos, além da orientação prática correta em psicanálise.

II - Problemática: o conceito de desinserção

Partimos de uma crítica da perspectiva orientada pelas ideologias individualistas igualitárias – que em nome dos direitos humanos – almejam promover a homogeneização dos laços sociais e das subjetividades, ditas excluídas, por meio de estratégias de inclusão. Partimos do princípio que toda e qualquer individualidade empírica é desinserida do laço social. Do ponto de vista da psicanálise freudiana, a identificação é o nome do processo por meio do qual um grupo elege um mesmo ideal do eu como referência. A identificação a um mesmo ideal coletivo insere o indivíduo num laço social. O conceito de identificação é equivalente ao que entendemos por inserção, pois diz respeito ao laço social enquanto uma formação de compromisso entre as aspirações individuais e as exigências coletivas. O conceito de inserção no laço social, no âmbito da psicanálise, tem uma afinidade de estrutura com o que é um sintoma.

O avanço do discurso do capitalismo e das ideologias individualistas e hipercompetitivas que a ele se associam conduziu ao enfraquecimento dos ideais do eu e à produção de novos sintomas e novos laços sociais, cuja estrutura não é mais a da solução de compromisso mencionada acima. Por quê? Os sintomas baseados na identificação ao ideal do eu exigiam dos indivíduos a renúncia a certas satisfações mais imediatas em benefício da conservação da família e da sobrevivência das gerações futuras.

A liberação da sexualidade na sociedade de consumo estimula a busca de uma satisfação mais urgente ao preço de menos sacrifício da satisfação de cada um. No lugar do ideal do eu, os novos laços sociais se constituem com base no usufruto de um mesmo objeto. Pode ser a criança (objeto dos pais), pode ser o álcool ou a droga nas toxicomanias (objeto das drogadições), pode ser o luto nas depressões (ideal como objeto perdido), pode ser ainda o objeto fascinante das compulsões. A precariedade dos laços sociais nos novos sintomas é bastante evidente uma vez que mobiliza constantemente políticas públicas assistenciais e medicamentosas. Do ponto de vista do psicanalista, não se pode intervir diretamente sobre os novos sintomas visando dissolvê-los, pois entendemos que esses sintomas, embora se traduzam numa certa desinserção social, são a única forma que o sujeito encontra de conservar o laço com algum objeto. Desinseridos dos laços sociais fundados sobre o ideal do eu, estes indivíduos estão inseridos, entretanto, num laço com algum objeto de satisfação pulsional.

III - Metodologia: as vertentes da formação

Nossa orientação é pragmática. Ela nos exige estabelecer uma relação de necessidade entre a vertente de formação dos psicanalistas e a vertente de aplicação da psicanálise. A primeira, diz respeito diretamente aos efeitos de retificação das relações do sujeito com o inconsciente e com a pulsão por meio da experiência analítica. A segunda, concerne à invenção de dispositivos clínicos para a obtenção de efeitos terapêuticos e de novas formas de inserção social na psicanálise aplicada.

IV - Intervenções e produção científica

Na pesquisa em psicanálise aplicada, desenvolvemos intervenções analíticas no âmbito das diferentes instituições públicas de saúde, de educação e judiciárias. Para exercer a prática analítica hoje é preciso levar em conta que a inserção do sujeito no laço social não se faz mais, necessariamente, com base na relação ao ideal do eu. Verificamos que a lógica implacável das formações sociais contemporâneas não cessa de produzir desinserção, marginalização, precariedade simbólica, pobreza e muitas outras formas de fragilidade do laço social fundado no ideal do eu.

Por essa razão é preciso considerar a outra face desse mesmo processo que é a importância crescente do laço do sujeito com um objeto de satisfação. Em nossas intervenções, apostamos que é possível modificar o sintoma que desinsere, para levar o sujeito a inventar uma maneira de fazer dele uma forma de laço social que lhe permita inserir-se.

V - Plano de trabalho

Publicações:

Nos próximos dois anos pretendemos organizar uma nova coletânea de artigos, sobre o tema “Psicanálise e laço social: inserção e desinserção”.

Como o grupo reúne editores de quatro revistas científicas, serão organizados números especiais sobre esse tema nas revistas:

  • aSEPHallus - Revista eletrônica do Núcleo Sephora de pesquisa (Tania Coelho dos Santos/UFRJ);
  • Estudos Lacanianos (Antônio Teixeira/UFMG);
  • Cartas de Psicanálise (Márcia Rosa Vieira/UFMG);
  • Plural Revista de Psicologia (Sérgio Laia/FUMEC).

Organização de eventos:

Vamos organizar mesas redondas nos principais eventos científicos, enfatizando o debate de nosso tema do ponto de vista ético, político e internacional em congressos, jornadas, simpósios, encontros, etc...

  • Impacto de nossas pesquisas na desinserção social: Encontro americano do Campo freudiano – dias 11 e 12/6 de 2011;

  • Os efeitos da pesquisa universitária sobre a desinserção social: I Congresso latinoamericano de Psicanálise na Universidade - dias 3, 4 e 5/06/2011;

  • Fórum sobre o autismo na Argentina;

  • O sintoma: inserção e desinserção: Encontro nacional do Campo Freudiano - dias 19, 20/11/2010;

  •  V Colóquio da residência em psicologia clínica e saúde mental, na Bahia, em 10/2010;

  • Jornada da Seção Minas Gerais: “O inconsciente: modo de inserção ou de desinserção do psicanalista?”, em 10/2010.