Uma pergunta faz-se cada vez mais freqüente no momento das entrevistas preliminares: qual é a diferença entre um psiquiatra, um psicanalista, um psicólogo e um terapeuta? A experiência recente nos mostra que é também em geral a primeira pergunta feita por um político que pretende legislar sobre as psicoterapias. Para este último, bancamos os pedagogos; depois de termos explicado os quatro diferentes modos de formação acabamos nos engajando imprudentemente em dar algumas precisões. Para os psiquiatras, é muito simples, ora são psicanalistas, ora psicoterapeutas de base, ora prescrevem medicamentos, ora terapeutas TCC2, ora liberais, ora universitários; para os psicanalistas é um pouco mais complicado, eles são ora psiquiatras, ora psicólogos, ora psicoterapeutas, ora estão nos anuários, ora fora dos anuários, ora em formação, ora junguianos; no que concerne os psicoterapeutas eles são ora psicólogos, ora psiquiatras, ora fonoaudiólogos, psicomotricistas, fisioterapeutas, enfermeiros, ora padres, ora charlatães, ora da FFDP3, ora da AFFOP4, ora fora dos anuários. O pior são os psicólogos, ora clínicos ou da saúde, ora sociais ou diferencialistas, ora cognitivos, ora psicanalistas, mutiladores dos psicanalistas, ora hospitaleiros, liberais, universitários ou alunos, ora de Paris VII ou de Paris VIII, ora do SIUERPP5 ou da SFP6, certamente da SNP7, da SPPN ou da AEPU8, ou de uma dúzia de outras organizações. Resumindo, pouco a pouco, o olhar do interlocutor se embaça, e a sua escuta se desconecta. Da próxima vez, preferindo evitar fazer a pergunta, ele faz de conta que entendeu.
No entanto, a pergunta insiste cada vez mais freqüentemente no momento das entrevistas preliminares. As pesquisas demonstram que as pessoas em psicanálise e em psicoterapia têm apenas uma vaga idéia da técnica utilizada por aquele a quem se dirigiram. Quando não são nem psis eles mesmos e, nem professores, a maior parte dos demandantes confunde as diferentes categorias de psis. Até mesmo profissionais apresentam, com cada vez mais freqüência, dificuldades quando se trata de traçar balizadores precisos entre suas práticas. Uma das distinções mais sólidas, situada entre a psicanálise e a psicoterapia, muito simples no tempo de Freud, não cessa de se complexificar. Após a Segunda Guerra mundial, a oferta de psicoterapias está ao alcance das massas, novos métodos aparecem, em particular as terapias humanistas e a TCC; a psicanálise estende-se para além das neuroses; daí em diante, a nítida clivagem entre a psicanálise e as psicoterapias se embaça, ao mesmo tempo se desenvolve um campo psi com contornos incertos.
Existem atualmente duas grandes maneiras de apreender o campo psi, seja compreendê-lo a partir das técnicas utilizadas, tentando contê-lo numa teoria de influência, seja ao caracterizá-lo a partir dos usuários, como o local a endereçar a demanda de psicoterapia. A primeira tese, defendida por um autor como Nathan9 (1998, 2001) considera que as psicoterapias e as psicanálises são apenas diferentes modalidades de influência, quer dizer, técnicas de sugestão. Fica, portanto, difícil delimitar o campo psi em relação à publicidade e à tortura, de forma que para limitá-lo é necessário adicionar a influência terapêutica. Fora o caráter intrinsecamente contestável desta abordagem, que apreende o demandante como um objeto plástico e não como um sujeito dotado de fantasmas e com uma dinâmica própria, parece difícil conceber uma unidade no campo psi fundada num princípio que a maior parte dos profissionais, certos ou errados, recusa como causa determinante da sua prática. Em contrapartida, é a partir da demanda de psicoterapia que os políticos identificam cada vez mais o campo psi: é esta demanda que eles pensam proteger enquadrando através da legislação as possibilidades de resposta. As discussões no Senado e na Câmara dos Deputados buscam seus limites entre os charlatães e as seitas, e a medicina. Apoiando-se na demanda, o legislador constata que ela se endereça essencialmente a quatro profissões, elas mesmas repartidas em múltiplas associações. O campo psi possui hoje em dia uma consistência política e social ancorada numa demanda de psicoterapia em considerável aumento. Mesmo aqueles que gostariam de desconhecer a existência deste campo são capazes de discernir que seus elementos estão em interação quando eles se preocupam com a especificidade da sua formação e prática. Não há psicanálise sem a recusa da hipnose, não há terapia humanista sem a crítica à psicanálise e não há nascimento da psicologia clínica sem o apoio na psicanálise. Cada um sabe que o ponto mais sensível reside hoje em dia, no lugar que se convém dar ou não aos psicoterapeutas.
A psicoterapia como prática autoritária e violenta
A partir de pesquisas que privilegiam o estudo das terapias tradicionais, um autor como Nathan considera que o princípio motor das psicoterapias encontra-se na influência. Esta abordagem possui o mérito de construir uma teoria geral das psicoterapias autoritárias à qual não falta pertinência. Segundo ele, o terapêutico se define pela violência: “Tratamento, ele afirma, é sempre um ato de pura violência contra a ordem do universo. E nenhuma terapêutica é mais violenta do que aquela que pretende tratar a alma” (Nathan, 1998, p. 11). É lógico, desde então, considerar nesta perspectiva que “o estudo das técnicas de tortura” poderia provar-se heurístico para apreender as psicoterapias, visto que, segundo observa uma colaboradora de Nathan, “torturar, é antes de tudo saber modificar o outro”.
A abordagem de Nathan fornece uma teoria geral da psicoterapia que possui certa elegância. Ela integra os dados admitidos hoje em dia, exceto pelo INSERM10, da equivalência de sua eficácia, para concluir que as teorias dos curandeiros são apenas “ferramentas auxiliares”. Por trás da diversidade das práticas, um único princípio explicativo, a influência. “As terapias tradicionais, segundo ele, [...] não são nem engodos, nem sugestão, nem placebos”, mas, “técnicas de influência, na maior parte do tempo eficazes (Nathan, 2001, p. 31)”. O que ele entende por influência? De fato, segundo ele, somos todos capazes de fazer uso da sugestão, em contrapartida, a influência necessitaria de um saber que permitisse tecnicizar a relação terapêutica. Nesta perspectiva, as psicoterapias se reduzem às técnicas de sugestão sobre um sujeito maleável. Segundo Nathan, o usuário da psicoterapia não é um sujeito dotado de fantasmas, mas um doente plástico: “O doente, segundo ele, poderia ser considerado nesta perspectiva como uma entidade movida por um singular tropismo atraindo-a sempre em direção aos sistemas de pensamento. É por este motivo que os doentes são militantes espontâneos das filosofias e das ideologias” (Nathan 1998, p. 95). Nathan insiste sobre o fato de que a influência terapêutica não é o acompanhamento do doente em suas elaborações interiores, mas a modificação do núcleo de uma pessoa” (2001, p. 94 e 108). A fim de incluir a psicanálise neste sistema é preciso considerar que nesta opera-se a “co-construção de um sentido” e não a descoberta de um sentido oculto (Ibid., p. 272).
Não há a menor dúvida que um dos fatores comuns das psicoterapias reside na sugestão, e não na toda poderosa influência nathaniana, já que o paciente não é um objeto plástico à espera de um conteúdo teórico. Exemplos simples, emprestados à prática da psicoterapia mais pura, a hipnose, mostram facilmente que a participação do sujeito é essencialmente no processo, porque já constatamos várias vezes que mesmo nos sujeitos mais hipnotizáveis, aqueles que mais estariam à espera da teoria do terapeuta, mesmo nestes, a sugestão encontra limites próprios aos fantasmas e às resistências de cada um.
Ao querer enquadrar toda a psicoterapia na influência, Nathan mostra-se conduzido a sustentar a tese extrema de que o encontro não intervém em nada no tratamento. “Em qualquer sistema terapêutico, segundo ele, o paciente nunca demonstra ter qualquer interesse na pessoa do terapeuta, mas sempre na teoria e ao aparelho institucional que este terapeuta representa” (Nathan, 1998, p. 291). Igualmente, a teoria da interpretação proposta por Nathan prova ter uma grande pertinência relacionada, não ao conjunto das psicoterapias, mas às técnicas autoritárias de que algumas se utilizam. A interpretação, ele afirma, constitui “um fragmento de iniciação” (Ibid., p. 19-20). Não saberíamos explicitar melhor que a psicoterapia, em tal abordagem, não é somente sujeitamento ao Outro mas, à medida que ela se forja um conhecimento melhor dela mesma, torna-se a organização deste sujeitamento. Podemos adivinhar os perigos aos quais isto pode dar ensejo.
Em respeito às origens das psicoterapias modernas na hipnose, não é sem fundamento afirmar que a psicoterapia é fundamentalmente violência e que ela só pode ser exercida através da intervenção de técnicas autoritárias. Esta tese encontra ainda hoje em dia sua confirmação, na prática da psicoterapia dita “de base”, em tratamentos podendo gerar falsas lembranças induzidas ou nas TCC. Ela representa, entretanto, deliberadamente o impasse nas técnicas que romperam com seus enraizamentos na hipnose: a especificidade da psicanálise escapa-lhe tanto quanto a emergência nos anos 1950 a corrente das psicoterapias de relação. De fato, apoiando-se nos estudos das psicoterapias tradicionais, Nathan faz-se teórico e zelador da psicoterapia autoritária. Por trás de um discurso terceiro mundista, preocupado com as diferenças, se esconde uma rejeição da subjetividade, solo propício para as práticas autoritárias. Donde as afinidades institucionais desta corrente com aqueles que reduzem as psicoterapias a uma teoria da aprendizagem. Para esta abordagem, a psicanálise é apenas uma TCC que se ignora.
À teoria da influência não falta pertinência, mas ela deixa escapar a mutação das psicoterapias que se produziu após a segunda guerra mundial.
O nascimento das terapias relacionais
A divisão entre os psicanalistas e os psicoterapeutas operava-se facilmente no tempo de Freud: à neutralidade benevolente de alguns se opunha à orientação persuasiva de outros. Ocorre que o sucesso da psicanálise modifica progressivamente os dados. Nos anos 1950, ela alcança nos EUA uma difusão que se amplifica, a tal ponto que os métodos da psicanálise geraram uma nova corrente no campo psicoterapêutico, em ruptura ao fundamento adquirido na hipnose.
É na junção de um humanismo cristão e de uma decepção em respeito à psicanálise que se opera esta mutação na obra de Carl Rogers11. Ela passa a ter uma audiência internacional a partir dos anos 1960. Diferentemente de seus predecessores, Rogers não se apresenta como um mestre: ele introduz a neutralidade benevolente freudiana na psicoterapia nomeando-a “não diretiva”. Ele considera que uma atitude de compreensão empática do terapeuta, em relação ao quadro de referência interna do paciente, permite liberar forças poderosas de mudança que existem em todo ser humano. Seu postulado de que todo organismo tende ao crescimento o conduz a fazer pouco caso do inconsciente e da vida pulsional. Segundo ele, o ser humano é naturalmente positivo, fundamentalmente socializado, direcionado a seguir em frente, racional e realista. A confiança de Rogers no outro não é compatível com os comportamentos rudes dos hipnotizadores e de seus epígones, expoentes da psicoterapia persuasiva. Ele não se apresenta como um modelo de equilíbrio, solidamente adaptado à realidade, ele acredita ter passado por uma experiência psicoterapêutica, e sente ter sido modificado pelos tratamentos que conduziu.
Nos anos 1970, no terreno de uma psicanálise revisitada e com a ajuda de diversas instituições, nascem as psicoterapias relacionais, caracterizadas por uma grande prudência daquele que as dirige em relação aos poderes da sugestão. Ela não é mais utilizada para operar uma modelagem predeterminada do paciente, ela é posta a serviço de um processo de mudança que acontece numa relação. O que quer que advenha numa psicoterapia autoritária, o mestre mantém-se intacto; em contrapartida, na psicoterapia racional o paciente influencia o terapeuta. Desde então, apareceram conceitos novos, ignorados pelos hipnotizadores: a empatia, a colaboração e a aliança.
O crescimento das terapias relacionais acontece num quadro maior das psicoterapias ditas humanistas que se desenvolvem na Califórnia nos anos 1970. Elas partilham em geral um otimismo de base que as incita a supor que um sujeito localizado em condições ambientais suficientemente boas evolui naturalmente em direção à saúde e à realização de si mesmo. Desde então, elas não se supõem mais autoritárias: elas buscam gerar um processo de mudança que coloca em jogo uma dinâmica própria ao sujeito.
O limite entre psicoterapias e psicanálises se embaça
Nos anos 1970, noções como a neutralidade benevolente ou a necessidade de uma experiência pessoal, inseriam-se no campo das psicoterapias, destacando-as de sua origem adquirida na hipnose. Por outro lado, os psicanalistas da IPA constatam que “práticas empíricas da experiência imemorial da psicoterapia basearam-se na teoria e encontraram legitimidade, senão legalidade, na técnica, portanto, na teoria psicanalítica, ao preço de remanejamentos que mudaram o sentido e o seu significado” (Brusset, s/d, p. 565). As influências entre psicanálise e psicoterapia provam-se recíprocas. Elas vão estender-se até os nossos dias a tal ponto que algumas psicanálises se tornarão indissociáveis das práticas psicoterapêuticas. Inversamente, algumas psicoterapias vão parecer pouco diferentes de uma psicanálise aplicada à terapêutica.
Operar a separação entre psicanálise e psicoterapia, apoiando-se na sugestão como critério diferencial, torna-se difícil quando alguns psicanalistas concebem o fim do tratamento à maneira de uma identificação ao ego forte do analista. É com este propósito que Lacan denuncia o risco de uma ressurgência das “surpreendentes mistificações da psicoterapia autoritária” (Lacan, 1958, p. 171). Ademais, a anexação da empatia dos psicoterapeutas na psicanálise gera a tese segundo a qual a contratransferência não deve mais ser concebida como um fator de resistência, mas como uma fonte de luz sobre o funcionamento do analisando. Freud nunca considerou que a contratransferência pudesse ser utilizada de maneira dinâmica no desenvolvimento do tratamento. Ferenczi foi o primeiro a incitar a que se pusesse em prática a subjetividade do analista no tratamento, preconizando em suas últimas pesquisas uma “empatia do analista”, a saber, colocar-se no lugar do paciente e “entrar naquilo que ele sente” (Ferenczi, 1920-1933, p. 372). Foi nos anos 1950 que Racker12 e Heimann13 desenvolveram a teoria em apoio na contratransferência, mas era necessário que interviesse a influência das técnicas provenientes da psicoterapia para que a contratransferência tomasse, nos anos de 1960, um lugar preponderante. É no campo da psicanálise norte-americana, a mais sensível ao desenvolvimento californiano das terapias humanistas no mesmo período em que elas se desenvolveram, que a contra-transferência impõe-se como um instrumento maior de direção de tratamento.
No seio da IPA, as circunstâncias tornam-se ainda mais favoráveis à criação de práticas intermediárias entre a psicanálise e a psicoterapia. A partir dos anos 1950, um analista como Knight14 cria a famosa “psicoterapia de apoio”, a qual ele distinguiu da psicoterapia expressiva (cuja forma mais completa seria a da psicanálise). Em seguida, à medida que os pacientes que estavam aptos a se inserir no “tratamento típico” começaram a rarear, seja em razão das modificações das indicações, seja em razão do encargo financeiro que impunha cinco sessões por semana, a categoria dos “psicoterapeutas analíticos” toma um grande impulso. O campo de transição que se abre entre as psicoterapias analíticas e a tratamento típico não cessa de crescer devido às pesquisas recentes feitas pelo IPA.
Alguns chegam a considerar que as distinções entre diferentes psicanálises e psicoterapias analíticas deixaram de ser pertinentes. A pesquisa de Wallerstein15, dirigida por trinta anos pela Fundação Menninger, conduziu-o a uma descoberta muito significativa, talvez, segundo ele, a mais central de todas, que é
a inevitável incorporação e a infiltração das técnicas ditas de apoio, mesmo onde há esforço em aplicar com a maior pureza a psicanálise propriamente dita e, inversamente, a infiltração das intervenções baseadas na expressão de abordagens terapêuticas superficiais firmemente centradas no apoio. Vivemos ou pelo menos eu vivo hoje em dia, afirma Wallerstein em 2001, com abordagens técnicas contínuas, com intervenções diferentes, com interpretações mais expressivas àquelas mais abertamente centradas no apoio e propostas com maior flexibilidade levando em consideração [...] as exigências clínicas momentaneamente mutáveis do paciente (Wallerstein, 2001, p. 88-89). |
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A partir de então, as opiniões convergem para notar que as evoluções recentes da técnica analítica, no campo da IPA, originam-se das psicoterapias. Elas concordam em dar ênfase a uma maior implicação da subjetividade do analista no tratamento. Além disso, os mais recentes avanços representados pelos adeptos de uma abordagem interpessoal (Ogden16, Renik17), acentuam a implicação da subjetividade do analista em relação à do paciente, apagando cada vez mais as diferenças entre a psicoterapia e a psicanálise. Uma das últimas diferenciações clássicas cai nos trabalhos de Renik, quando ele considera que não é pertinente destinar à psicanálise objetivos que vão para além da terapêutica. Ele não hesita em afirmar que um “tratamento que obtém o benefício terapêutico esperado pelo paciente em apenas uma sessão, constitui uma autêntica psicanálise” (Renik, 2001, p. 229-237). A partir de então, parece-lhe claramente que a distinção entre psicanálise e psicoterapia não tem mais razão de ser. É possível ainda hoje em dia, sustentar que existe uma especificidade da psicanálise em relação às psicoterapias relacionais? Podemos praticar a psicanálise sem que haja a intervenção da sugestão insidiosa inaugurada pelo apoio na contratransferência? Freud já tinha percebido que seria muito ilusório crer que poderíamos eliminar totalmente a sugestão da prática analítica: “A aplicação da nossa terapia em numerosos doentes, ele constatava desde 1918, nos obrigara largamente a aliar o puro ouro da análise ao cobre da sugestão direta” (Freud, 1918, p. 141). Ainda que a recusa em utilizar os poderes da sugestão seja o que caracteriza a posição do psicanalista, não é concebível que ela não intervenha no tratamento. Algumas necessitam até recorrer às intervenções sugestivas, em particular às dos psicóticos, quando se trata de limitar o gozo excessivo que causa o sofrimento do sujeito. Psicoterapia e psicanálise não são práticas que se excluem, no entanto, elas são fundamentalmente diferentes. É preciso concluir, com J.-A. Miller, que “existe uma região das psicoterapias que nada têm a ver com a psicanálise, assim como, existe uma região no campo freudiano que é exterior à psicoterapia e existe uma região de interseção” (Miller, 1991, p. 8).Desde então, é preciso conceber que “o terapeuta senta-se às vezes na poltrona do analista” de forma que a separação entre psicoterapia e psicanálise acontece no seio da comunidade dos analistas e também no seio de cada tratamento (Soler, 1992, p. 124).
Se nos orientamos na perspectiva de uma interpretação preocupada em estimular o trabalho do sujeito, e não de precedê-lo, constatamos que a fronteira entre psicanálise e psicoterapia deveria algumas vezes situar-se de maneira surpreendente. De fato algumas psicoterapias não diretivas, de inspiração rogeriana, como o notável tratamento de Dibs, conduzido por V. Axline18 mostram-se muito mais semelhantes ao ensino freudiano do que algumas psicanálises, de inspiração kleiniana, dirigidas, segundo a opinião dos seus colegas, “exercendo um autoritarismo insensato” (Bollas, 2001, p. 235), de maneira muito intervencionista e, muito rápida “a antecipar sobre as descobertas que o paciente poderia fazer ele mesmo” (Spillius, 2001, p. 261). Inversamente, Axline constata que, “ninguém sabe realmente tanto sobre o mundo interior de um humano a não ser o indivíduo ele mesmo”, de maneira que ela se esforça em não dirigir o seu paciente “numa via mais do que em outra” interditando-se em recorrer “ao elogia, à sugestão e, à questões”(Axline, 1964, p. 68).
No que diz respeito às práticas orientadas na direção da terapêutica, a extensão da psicanálise se fez de dois modos diferentes. No campo da IPA, inovações técnicas provenientes da psicoterapia inseriram-se no método freudiano inaugurando as psicoterapias psicanalíticas onde a contratransferência constituiu-se como instrumento determinante e a compreensão desdobrou-se sem limite. Inversamente, no campo lacaniano, a tendência é desenvolver os princípios provenientes da descoberta freudiana em atividades terapêuticas, onde a contratransferência mantém-se como obstáculo e a consideração ao gozo prima sobre a do sentido. A partir de então, não se trata mais de psicoterapia psicanalítica, mas de psicanálise aplicada à terapêutica.
A psicoterapia é incansável
As objeções éticas nomeadas pela prática psicoterápica deveriam implicar renuncia a esta? Sabendo-se que ela é ineliminável da psicanálise, percebemos de saída que seria difícil sustentar uma posição tão radical. Nem todo sujeito em sofrimento está em condições de formular uma demanda de análise e nem todo terapeuta saberia ser analista, o que torna a psicoterapia incontornável.
As psicoterapias autoritárias, isto é, a hipnose, as TCC, a psicoterapia dita de base, afirmam altivamente serem autodidatas. Elas declaram satisfazer-se com a garantia de um diploma. Ora, quem solicita apenas este último ou uma formação clínica, sente-se incitado a tomar uma posição de maestria, a qual se encontra reforçada pela inclinação do paciente em idealizar o terapeuta. Nestas condições, torna-se muito fácil para este render-se à ilusão de que possui um verdadeiro saber sobre a causa das perturbações. A experiência dos primeiros tratamentos controlados demonstra o quanto é difícil, mesmo para um sujeito em formação analítica, não colar-se à imagem ideal que freqüentemente é construída pelo próprio paciente. Não estar à medida de responder adequadamente as demandas desse é vivido como um doloroso defeito de saber, como uma maestria ainda insuficiente, que um suplemento de formação poderia resolver. A experiência de mutação subjetiva inerente à experiência da psicoterapia relacional ou da psicanálise permite certo distanciamento das ilusões de maestria quando se experimenta pessoalmente o limite daquele que conduz o tratamento. Não somente os diplomas dos médicos e dos psicólogos não conferem nenhuma proteção ao paciente no que se refere aos riscos de doutrinamento, mas garantem aos seus portadores o falacioso sentimento de serem os detentores de um saber sobre o funcionamento do outro, no qual ao final acabam acreditando, encorajados nesse sentido pela espera dos pacientes.
A experiência recente demonstra que mesmo as formações universitárias, consideradas de maior excelência, somente adicionam nesse aspecto garantias mínimas. Dezenas de milhares de pacientes norte-americanos nestas últimas décadas tiveram esta cruel experiência. Eram qualificados e bem formados os psicólogos e os médicos que, com sua conduta orientada pelas psicoterapias, geraram as três grandes epidemias de patologias iatrogênicas difundidas nos EUA desde os anos 1970: as personalidades múltiplas, as falsas lembranças e os seqüestros extraterrestres. As duas primeiras tiveram algumas vezes conseqüências judiciárias e sociais dramáticas onde pais foram falsamente acusados de incesto ou de satanismo em seguida a construções sugeridas por terapeutas aos seus pacientes. Quanto à última, que pretende descobrir a fonte de diversas perturbações psíquicas em seqüestros pelos extraterrestres aos quais os doentes teriam sido submetidos contra a sua vontade, tem sua origem maior nos trabalhos de uma das maiores autoridades em matéria de saúde mental: John E. Mack, professor de psiquiatria em Harvard. Ele também é psicoterapeuta e caçador de vítimas dos extraterrestres. Para aquele que supuser que se trata de um exemplo muito excepcional, sinalizemos que sua colega Judith Herman, também professora em Harvard Medical School, provou ser uma das mais fervorosas divulgadoras da precisão das lembranças de abuso sexual geradas pelos tratamentos hipnóticos orientados. Enfim a principal responsável pela multiplicação das perturbações da personalidade múltipla, Cornelia Wilbur, era professora de psiquiatria na Universidade de Kentucky.
Analogia da formação dos psicoterapeutas com a dos psicanalistas
No início do século XXI um campo psi se constitui devido a um fenômeno social, a inflação da demanda de psicoterapia. É esta demanda que lhe confere uma consistência e não a diversidade de profissionais que respondem com métodos freqüentemente intrincados. O campo psi não possui unidade epistemológica, porém ele delimita um fenômeno social e político.
Confrontado a tentações científicas que buscam meios de submetê-lo a uma política gerencial avaliativa, o campo psi está se reformulando. Uma clivagem maior acontece entre aqueles que sustentam esta política, geralmente teóricos da psicoterapia enquanto aprendizagem ou influência, e aqueles que a rejeitam, ou seja, os psicoterapeutas relacionais e os psicanalistas.
Certamente, os psicoterapeutas relacionais gozam em geral de uma reputação pouco lisonjeira junto aos outros psis, os quais ignoram freqüentemente os esforços feitos por aqueles nos últimos dez anos em estruturar sua profissão, tanto a nível nacional como internacional, sobre um modelo altamente inspirado no dos psicanalistas. Continuemos a acreditar na idéia de que os psicoterapeutas são charlatães por que suas associações preconizam uma formação de Bac+7, na qual quatro anos são em formação específica de psicoterapia acompanhada de uma experiência pessoal aprofundada em uma delas, seguida de dois anos de supervisões, e não demoraremos em perguntar aos psicanalistas o que eles teriam de melhor à propor. Se os psicoterapeutas são condenados à clandestinidade, os psicanalistas serão os charlatães de amanhã.
Certamente, falta muito ainda a ser feito para que a profissão de psicoterapeuta esteja à altura de suas aspirações. Quando alguns psicoterapeutas registrados oferecem de sete a oito métodos, passamos a duvidar de que tenham uma experiência pessoal e que, ainda por cima, tenham sido supervisionados em cada uma delas pelo menos durante dois anos. No entanto, a maior parte deles não professa a objetividade científica das terapias cognitivas comportamentais, eles têm uma experiência com a transferência, com o controle dos tratamentos, e colocam uma experiência de mutação subjetiva no centro da sua formação. Da atitude dos outros psi a este respeito depende por um lado, a evolução desta profissão, ou ela se orienta, como a maioria o deseja, na direção das formações inspiradas na psicanálise, ou então, volta para a clandestinidade lado a lado com os curandeiros.
Não nos esqueçamos que a psicoterapia é irredutível, ela vem de tempos remotos, nenhuma sociedade a ignora; a psicanálise comparativamente é uma prática recente, culturalmente circunscrita, cujo futuro é incerto. Ela apresenta, contudo, o mérito de fornecer uma teoria geral das psicoterapias relacionais, enquanto que nenhuma delas pode pretender-se a um poder heurístico equivalente. As psicoterapias relacionais, mesmo as mais sólidas, não escondem o seu enraizamento no tratamento psicanalítico, porém sua originalidade essencial consiste em amputá-la. A terapia gestaltista, centrada na interpretação do aqui agora, ocupa-se do enraizamento histórico do fantasma; a abordagem de Rogers, que é centrada na pessoa, priva-se da interpretação das formações do inconsciente. Outros métodos consistem apenas numa medíocre simplificação da psicanálise, tal como a análise transacional, que transpõe a segunda tópica freudiana em três estados do ego: os pais, o adulto e a criança. Não é irracional confiar nas potencialidades dos conceitos psicanalíticos para influir nas práticas dos psicoterapeutas, à condição de aceitar dialogar com eles, sem a priori estigmatizá-los como se fossem charlatães.
A maior clivagem do campo psi não é inerente a categorias profissionais: ela separa os adeptos das psicoterapias autoritárias, fundadas na imposição pelo mestre-terapeuta numa técnica normatizada, e aqueles que se apóiam na demanda para obterem uma mutação subjetiva, os psicanalistas e psicoterapeutas relacionais. As psicoterapias autoritárias situam o saber que comanda o tratamento do lado do terapeuta, elas preconizam a univocidade da palavra, elas buscam a medida. As outras localizam o saber do lado do demandante; são estas que colocam em jogo o equívoco da palavra, dando ênfase à existência de uma parte inestimável. Esta clivagem ética atravessa um campo psi que existe para os políticos e os usuários, mas prova-se menos perceptível para os profissionais em razão da ausência de unidade epistemológica. Apreender este campo a partir de uma clivagem ética conduz a tirar conseqüências políticas de outra ordem, que não a partir de análises em termos de especificidades profissionais do qual seria necessário demonstrar algum privilégio neste domínio. A criação do SIUERPP e a sua adesão é a melhor demonstração de que privilegiamos uma escolha ética sobre a identidade profissional, senão seríamos todos membros da AEPU e satisfeitos com isto. O SIUERPP repousa sobre uma escolha ética a favor de uma clínica do sujeito e em oposição a uma abordagem científica e autoritária.
Ora, na sua grande maioria, os psicoterapeutas operam a mesma escolha. Quanto à clivagem maior que separa o campo psi, eles se agrupam do mesmo lado que nós, o que, sem negar as diferenças, não pode ser apagado quando o enquadramento das psicoterapias toma uma dimensão política.
Ainda que o campo psi não tenha unidade epistemológica, a imbricação dos atores é de tal ordem que toda modificação de um de seus elementos do campo repercute sobre os outros. Acontecimentos ocorridos nos EUA nos últimos dez anos demonstram isto claramente. Os psicanalistas norte-americanos se ressentem duramente, ainda hoje em dia, das conseqüências de fenômenos gerados pelos psicoterapeutas, do qual em nada participaram, mas com os quais foram amalgamados pela mídia e o grande público. Com efeito, muitos universitários concordam hoje em dia em colocar na conta dos freudianos a responsabilidade das três grandes epidemias de patologias iatrogênicas que apareceram nas últimas décadas do século XX: as personalidades múltiplas, as falsas lembranças induzidas e os seqüestros extraterrestres. Ninguém duvida de que se tratou de perturbações geradas por condutas fortemente sugestivas das psicoterapias. Em sua maioria foram os hipnoterapeutas que se comprometeram com estas práticas. As conseqüências foram pesadas às vezes: famílias, processos, passagens ao ato, tratamentos devastados, etc. Esses fenômenos foram extensamente veiculados pela mídia e contribuíram para lançar um certo descrédito sobre as psicoterapias. A quase totalidade dos autores anglo-saxões que se detiveram a estudá-los (Loftus19, Spanos20, Hacking21 Ofshe22 e Watters) silencia o fato de que os psicanalistas não participaram em nada para serem responsabilizados das conseqüências que advieram às noções freudianas de recalque e denegação. É verdade que os psicoterapeutas tiveram acesso a estes conceitos para justificar supostas lacunas mnemônicas de seus pacientes, utilizando-os para supri-las ao sugerirem uma etiologia fantasiosa de suas perturbações. O fato destes profissionais terem contribuído com impasses em aportes essenciais da descoberta freudiana, negligenciando a dimensão do fantasma, doutrinando seus pacientes, é ignorado não somente pela mídia, mas como também, pelos especialistas que operam amálgamas sumários entre psicanalistas e psicoterapeutas. A existência de um campo psi conduziu os psicanalistas a serem hoje em dia afetados por fenômenos, completamente independentes de sua prática. Alguns deles denunciaram muito cedo, a responsabilidade dos psicoterapeutas na gênese das epidemias iatrogênicas, não impedindo a instalação do descrédito que se abateu sobre o conjunto dos “freudianos”. As modificações que acontecem no campo psi interagem para além das razões avançadas pelos profissionais ao tentarem diferenciar suas práticas. Elas não se limitam a efeitos imaginários: elas têm incidências concretas quando influem sobre a natureza das demandas.
Em suma, a escolha é entre um esplêndido isolamento dos profissionais legitimados pela legislação, buscando fazer crer ao grande público que dispensam os psicoterapeutas, embora praticantes das psicoterapias, e uma aposta sobre a potência heurística dos conceitos psicanalíticos para temperar as práticas psicoterapeuticas.
A este respeito, um único ponto recobre a quase unanimidade dos psis: a necessidade de uma experiência de mutação subjetiva na formação. Seria paradoxal que fosse precisamente sobre este ponto de quase consenso que os psicólogos clínicos estabelecessem um impasse. A partir de então, podemos apenas incitar a continuar fazendo aquilo do qual temos experiência, quer dizer, continuar a formar psicólogos clínicos, lembrando-os que têm um esforço a mais a produzir para tornarem-se psicanalistas ou mesmo tempo psicoterapeutas.
Preconizar, além disso, uma atenuação no ostracismo dos psicanalistas e dos psicólogos em relação a estes últimos, é convocar uma recomposição do um campo psi para que seja mais solidário contra aquilo que tende a se abater sobre as instituições de tratamento, as escolas, as universidades e o enquadramento das psicoterapias, a saber, a política gerencial avaliativa e os discursos científicos em que ele se sustenta.
Traduzido por Kátia Danemberg.
Revisado por Tania Coelho dos Santos. |
Notas
1. Texto publicado originalmente em Cliniques méditerranéenes. Psychanalyse et psychopathologies freudiennes: soigner, enseigner, évaluer. Paris: Érès, n. 71, 2005, p. 233-248.
2. TCC: Terapia cognitivo-comportamental.
3. FFDP: La Fédération Française de Psychothérapie (FFdP).
4. AFFOP: Association Fédérative française des organismes de psychothérapie.
5. SIUERPP: Seminário Inter-Universitário e de Pesquisa em Psicopatologia e Psicanálise (Seminaires Inter-Universitaires Eitropeens de Recherches en Psychopathologie et Psychanalyse), criado em 2000 por Roland Gori, juntamente com Pierre Fedida, Mareike, Wolf e outros. Os SIUERPP reúne professores e pesquisadores de diversas universidades européias e das mais diversas orientações no campo da psicopatologia e da psicanálise (http://siueerpp.org/spip.php?rubrique7).
6. SFP: Societé Freudienne de Paris.
7. SNP: Sindicato nacional dos psicólogos praticantes na França (Syndicat National des Psychologues Praticiens).
8. AEPU: Association Des Enseignants De Psychologie Universitaires.
9. Tobie Nathan (1948-): é representante mais conhecido da etnopsiquiatria na França. É professor de psicologia na Universidade de Paris VIII. Criou o primeiro ambulatório de etnopsiquiatria na França (1979), no Hospital Avicenne.
10. INSERM: Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale.
11. Carl R. Rogers (1902-1987): pioneiro no desenvolvimento da chamada Psicologia Humanista.
12. Heinrich Racker (1910-1961). Psicanalista argentino de origem austríaca. Doutor em filosofia, tornou-se psicanalista sob a orientação de Jean Lampl-de-Groot e depois com Angel Garma e Marie Langer, na Argentina. Seu principal trabalho é o estudo sobre a técnica psicanalítica da transferência e da contratransferência publicada em 1968.
13. Paula Heimann (1899-1982): doutora em medicina e membro da Sociedade britânica de psicologia e do Royal College of psychiatrists. Discípula de Melanie Klein, contribuiu para o desenvolvimento da prática clínica com importantes trabalhos sobre a contratransferência.
14. Robert Palmer Knight (1902-1966): médico diretor do Austen Riggs Center em Stockbridge, Massachusetts (EUA), e figura dominante no mundo da psicanálise americana.
15. Robert S. Wallerstein: psicanalista americano, chefiou o Psychotherapy Research Project da Menninger Foundation. Foi presidente da International Psychoanalytic Association (http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_S._Wallerstein)
16. Thomas H. Ogden: psicanalista da Associação Psicanalítica Americana (San Francisco, EUA).
17. Owen Renik: médico, analista da San Francisco Psychoanalytic Society. Foi editor chefe do The Psychoanalytic Quarterly. Chefia o Department of Psychiatry do Mount Zion Hospital, San Francisco. Mantém prática clínica privada em San Francisco.
18. Virginia M. Axline (1911-1988): psicóloga e criadora da Play Therapy. Escreveu o livro Dibs In Search Of Self (Dibs em busca de si mesmo).
19. Elizabeth F. Loftus (1944-): psicóloga da memória e da falsa memória.
20. Nicholas P. Spanos (1942–1994): PhD, professor de psicologia e diretor do Laboratory for Experimental Hypnosis, na Carleton University, de 1975 até sua morte em 1994.
21. Ian Hacking (1936-): filósofo canadense especializado em filosofia da ciência. Leciona filosofia na Universidade de Toronto.
22. Richard Ofshe (1941-).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRUSSET, B. (s/d) L’Or et le cuivre (La psychothérapie peut-elle être et rester psychanalytique?), in: Revue française de psychanalyse, 1991, vol. 3, p. 565.
FERENCZI, S. (1920-1933) Sigmund Freud – Sandor Ferenczi. Correspondance. Paris: Calmann-Lévy, 2000.
FREUD, S. (1918) Les voies nouvelles de la thérapeutique psychalalytique, in: La technique psychanalytique, Paris: Puf, 1953.
LACAN, J. (1958) La psychanalyse vraie et la fausse, in: Autres Écrits. Paris: Le Seuil, 2001.
MILLER, J.-A. Psycothérapie et psychanalyse, in: La cause freudienne. Paris: Difusión Navarrin Seuil, n. 22, 1992.
NATHAN, T. (1998) Éléments de psychothérapie, in: Nathan, T. Psychotherapies. Paris: Odile Jacob, mars/1998.
___________. (2001) Influence qui guérit. Paris: Odile Jacob, avril/2001.
RENIK, O. (2001) The Patient’s Experience of Therapeutic benefit, in: Psychoanalytic Quaterly, 2001, LXX.
SOLER, C. (1992) L’intraitable, in: La cause freudienne. Paris: Difusión Navarrin Seuil, n. 22, 1992.
SPILLIUS, E. Bott. (2001) Développements actuels de la psychanalyse kleinienne, in: Revue Française de psychanalyse, 2001, número fora de série.
WALLERSTEIN, R.R. (2001) La Trajectoire de la psychanalyse: où en-sommes nous aujourd’hui?, in: Revue française de psychanalyse, 2001, número fora de série.
Texto recebido em: 05/03/2009
Aprovado em: 25/03/2009
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