A lógica do tratamento do Pequeno Hans segundo Lacan1
The logic in the treatment of Little Hans, according to Lacan


Jacques-Alain Miller

Diretor do Departamento de Psicanálise/Universidade de Paris VIII
Psicanalista, Membro da École de la Cause Freudienne
Fundador da Associação Mundial de Psicanálise

jam@lacanian.net

Resumo

Proponho que reflitamos sobre a articulação da lógica do tratamento e da estrutura do discurso no Seminário IV de Jacques Lacan. Em segundo lugar, não trata de lógica propriamente dita, trata da mãe. O pequeno Hans não se liberta da dominação da mãe. O fio que percorre a procura da relação de objeto é também o do poder da mãe, o mestre-mãe. A mãe não é só mestre, é também amor. A tese essencial de Lacan nesse Seminário é de que a satisfação essencial é a satisfação do amor. Se fosse necessário determinar qual é o fio que corre ao longo deste Seminário, eu diria que se trata das conseqüências clínicas terríveis da sexualidade feminina para qualquer sujeito no sentido em que cada sujeito é filho de uma mãe.

Palavras-chave: estrutura do discurso, relação de objeto, satisfação do amor, sexualidade feminina.

 

The logic in the treatment of Little Hans, according to Lacan

Abstract

Let’s reflect on the articulation of the logic of treatment and structure of speech in Jacques Lacan‘s fourth Seminar. The second theme, which is not about logic itself, it’s about the mother. Little Hans does not break free from his mother’s domination. The thread of the search for the object’s relationship is also the mother’s power, the master mother. The mother is not only the master, it’s also love. Lacan’s main thesis in this Seminar is that the essential satisfaction is the satisfaction of love. Had it been necessary to determine the direction along this Seminar, I would say it’s about the terrible consequences of female sexuality for any subject in the sense that we are all children of a mother.

Keywords: Structure of speech, object relationship, love satisfaction, female sexuality.


Dediquei-me, durante o mês passado, a terminar a redação em francês do Seminário IV de Lacan, a relação de objeto. E para concluir este trabalho, que acabei um pouco antes de vir a Buenos Aires, pretendo lhes oferecer hoje uma introdução à leitura e ao estudo desse Seminário. Deu tudo certo. Nenhum tema, ao que me parece, convém melhor como abertura às nossas jornadas sobre a Lógica do tratamento. Retornar ao Seminário ministrado por Lacan em 1956 e 1957 significa retornar ao momento do nascimento de uma noção de lógica do tratamento. De fato, a metade deste Seminário elabora o tratamento do pequeno Hans e essa elaboração se faz a partir de uma perspectiva lógica, a tal ponto que ele termina com os primeiros ensaios do que Lacan denomina como lógica de borracha; reencontramos esta expressão no Seminário e me pareceu que ela merecia ser o título de um dos últimos capítulos (Lacan, 1998, p. 524). Uma lógica elástica como a topologia, uma lógica que seria suficientemente flexível para acompanhar as produções fantasmáticas do sujeito, do pequeno Hans, e formalizar as diferentes etapas de sua investigação. Eu acredito que esta perspectiva elabora, efetivamente, uma lógica suficientemente flexível para acompanhar as produções fantasmáticas. Isto constitui a essência do problema que vamos abordar durante estas jornadas.

Vamos tentar falar precisamente. O que significa “lógica do tratamento”? Para elaborar um pouco mais este significante, é útil, como sempre, opô-lo. Proponho a seguinte oposição para situar o significante lógica do tratamento: lógica do tratamento diz uma coisa diferente de estrutura do discurso. Proponho que reflitamos sobre a oposição, sobre a articulação da lógica do tratamento e da estrutura do discurso. Este será o primeiro dos três temas que vou abordar.

A estrutura do discurso, para retomar o significante introduzido por Lacan em O avesso da psicanálise (1968-70), refere-se às coordenadas fundamentais que tornam possível o tratamento psicanalítico em si mesmo. A estrutura do discurso analítico que Lacan deu neste Seminário é, na realidade, muito conhecida. Em resumo, é uma fórmula que utilizamos em nosso trabalho, é uma forma de escrever a estrutura do discurso analítico.

A primeira forma proposta por Lacan da estrutura do discurso se encontra no esquema L, construído ao longo dos três primeiros anos de Seminário, e que ele relembra ao começar seu Seminário, Livro IV: A relação de objeto (1956-57). No esquema em forma de Z, vocês se lembrarão dos quatro termos que lá figuram. É uma outra forma que Lacan deu à estrutura do discurso, que figura sob uma forma mais completa em seu escrito “A carta roubada”, publicado durante o ano de seu Seminário IV; Lacan o comenta na ocasião. Estes dois esquemas são muito populares (muito conhecidos?), muito úteis (o constatamos com o passar do tempo), nos dão uma formalização sincrônica da situação analítica, uma formalização que poderíamos chamar de estática.

A tentativa de Lacan no Seminário IV é diferente. Notemos que é uma tentativa inacabada. É uma tentativa, um esboço eu diria, de formalização dinâmica, de formalização diacrônica, isto é, uma tentativa de não só escrever as coordenadas permanentes, fundamentais do tratamento, mas também de formalizar, o que é dito no tratamento, o transitório do que é dito, de formalizar o que se passa, de formalizar o que acontece, não só a estrutura. Formalizar de uma certa maneira os eventos do dito no tratamento, quer dizer que a noção central com a qual Lacan trabalha é a da estrutura com suas transformações, sim, da estrutura, mas com suas transformações.

Conhecemos essa noção sob a forma da estrutura permutável, por exemplo em O Seminário, O avesso da psicanálise. Nós sabemos que estes termos podem trocar de lugar, mas que essa troca não permite formalizar o final do tratamento analítico, dado que são – segundo o próprio Lacan – trocas que nos fazem sair do discurso analítico, que permitem situar os outros discursos. É uma estrutura com suas transformações e permutável, mas cujas permutações a retiram do domínio analítico. Ao contrário, encontramos no Seminário IV de Lacan – e, acredito que em mais nenhum lugar, sob essa forma – uma tentativa, eu diria, de dinamizar o esquema L, isto é, de utilizar o esquema L ao menos para formalizar a mudança de posição subjetiva de um ponto de vista clínico.

Lacan o faz nesse Seminário, logo de início, a respeito da jovem homossexual de Freud, que ocupa três lições, e é um nó deste Seminário. Há diversas razões que justificam sua presença. Lacan formaliza a história clínica da paciente relatada por Freud, a partir de transformações permutáveis no esquema L, isto é, segundo o próprio Freud, podemos observar na história clínica anterior à análise, uma mudança de posição subjetiva, uma mudança de escolha de objeto, após o nascimento de um irmão. De tal forma que, segundo Freud, isso acentua um antes e um depois do caso. Anteriormente, seu objeto era um filho imaginário, recebido do pai, encarnado no filho da vizinha, isto é, no lugar do objeto, no ângulo superior do esquema Z, encontramos este filho, esta criança imaginária, e em seguida, o objeto muda e vemos aparecer diversas mulheres de tipo maternal, e finalmente, uma mulher, objeto de um amor sublimado, sacrificado. De tal maneira que, nesse mesmo lugar, podemos inscrever primeiramente uma criança imaginária e em seguida uma mulher real, como diz Lacan. É a utilização, a tentativa de formalizar não somente uma estrutura estática, mas também etapas, isto é, obter a formalização da história clinica de um caso a partir desse desenho formalizado. Não é a única ocasião em que se encontra isso neste Seminário IV, Lacan volta a fazê-lo mediante outro texto de Freud que também se presta a essa idéia de estrutura com suas transformações. Ele volta sua atenção para o texto de Freud “Bate-se numa criança” (1919), onde o próprio Freud apresenta este fantasma como resultado de suas transformações. “Meu pai bate numa criança que eu odeio”, “o pai me bate”, e na terceira forma, “bate-se numa criança”.

Aqui, podemos realmente escrever uma seta de transformação que permite passar de uma fórmula à outra, sem chegar, talvez a formalizar essas três etapas do esquema. Lacan não tenta, mas isso nos mostra uma segunda tentativa de seguir as transformações de uma formação do inconsciente. É necessário articular o fato de que alguma coisa permanece constante, e que ao mesmo tempo, alguma coisa muda. O que é que permanece constante? São os lugares, as relações, e as relações entre os lugares. O que muda são os termos que ocupam esses lugares. E, como eu já mencionei, essa inspiração, aventada em O Seminário, O avesso da psicanálise, já inspira o Seminário IV de Lacan. Toda a idéia de que houve uma revolução lógica em Lacan nos anos sessenta, nada mais é que uma má leitura de Lacan. Esta inspiração lógica e estruturalista com transformações já está toda presente aqui.

É o que nos permite dizer que justamente na estrutura, a transformação é uma permutação, que falar de permutação é a tentativa, a maneira de dinamizar a estrutura, e eu diria, uma certa solução estrutural da articulação do um e do múltiplo; os lugares são fixos, e, com a permutação dos termos, obtemos variáveis. Como isso termina, se há lugares e termos que se permutam nesses lugares? O problema, justamente, é que temos a impressão de que isso nunca termina. Se o vocabulário é limitado, se os termos são em quantidade limitada – nesse caso, são limitados a quatro termos – há uma circularidade: podemos continuar a revezar os termos nos locais, e a circularidade é infinita. Não há nenhum princípio de estancamento em uma estrutura com tão grande permutabilidade. Se o vocabulário é potencialmente ilimitado, se existe muito mais do que quatro termos e as letras do alfabeto, se o vocabulário se estende, por exemplo, como a cadeia dos números, então a permutação não para nunca. Temos um exemplo disso nas Mitológicas de Lévi-Strauss. Ele estuda a estrutura e suas transformações dos mitos americanos de uma pequena parte da América do norte e um pouco da América do sul e, para tanto precisa de quatro volumes para mil mitos, que são apenas uma pequena seleção no conjunto dos mitos e suas possíveis variantes.

Temos outro exemplo, quando Lacan, no seminário sobre “A carta roubada”, constrói uma estrutura com permutações de mais (+) e de menos (-): ele nos apresenta um funcionamento circular no qual não há nenhuma razão para parar e justamente, ele o apresenta para ilustrar o infinito da repetição e de uma repetição indestrutível. Isto constitui um problema inicial quando tentamos pensar a lógica do tratamento a partir de uma estrutura com transformações. Por quê? De onde virá o princípio de um termo e um final que não seja acidental ou ligado ao cansaço?

Para poder pensar uma lógica do tratamento nestes termos, é necessário primeiramente pensar que para um sujeito há um número limitado de significantes que se permutam, ou, ao menos um número limitado de significantes essenciais que se permutam. Em segundo lugar, é preciso pensar, nesta perspectiva, que quando todas as permutações forem realizadas, haverá uma mudança qualitativa. De forma que possamos dizer: “não há mais, e pronto”. É preciso supor um efeito da soma, e, ademais, um efeito da soma subjetivada. É neste sentido que se poderá legitimamente dizer: “conclusão”.

Referir a lógica da cura a uma estrutura com transformações, é muito diferente de referi-la a uma dedução linear, como uma linha desde as premissas até a conclusão, onde podemos chegar em um dado momento, como na conclusão de um argumento. Isto não é uma referência a um argumento, supõe um processo onde o quod erat demonstrandum não pode chegar, a não ser se for para fixar o absurdo. Isto quer dizer que se isso acontece em uma estrutura com transformações, é necessariamente uma demonstração pelo absurdo, isto é, por um “não há”, não se trata de uma demonstração positiva.

É exatamente o que diz o resumo da pesquisa sobre Hans que escreveu Lacan em seu texto “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud” (1957), no mesmo ano do Seminário do pequeno Hans. Há aí dois parágrafos importantes, que eu acho que todos devem conhecer aqui, pois é destes dois parágrafos que eu pincei a expressão “resolução curativa” (1998, p. 524) que foi utilizada como tema do condensado argentino para o Encontro Internacional sobre Conclusão do Tratamento. Lacan diz lá que “O Pequeno Hans [...] desenvolve, [...] sob uma forma mítica, todas as permutações possíveis de um número limitado de significantes” (1998, p. 519). O que se obtém é a solução do impossível, a saber, que a demonstração que traz o tratamento concebida a partir da lógica do tratamento releva da demonstração pelo absurdo: ela se conclui por um “não há”, por um “não é o caso colocado na hipótese”.

Esta tem sido a orientação fundamental de Lacan desde seu estudo do tratamento do pequeno Hans. A transformação da impotência em impossibilidade, como ele a formulará nos anos setenta (1969-70) já está presente nesse Seminário IV. Lá encontramos também inscrita a formulação do fim da análise como percepção, subjetivação do “não há relação sexual”. E também a travessia do fantasma, pois, no pequeno Hans, seguimos as permutações fantasmáticas mesmo que não possamos situar uma travessia do fantasma.

O problema nessa perspectiva do tratamento, que chamamos de lógica do tratamento, ainda é a repetição. Como cessa a repetição? Como se conclui o fato de que o inconsciente como tal, repete? Em que medida a repetição para, é a questão da conclusão do tratamento, se levarmos o termo conclusão a sério. A questão da conclusão do tratamento, no meu ponto de vista atual, deve estar ligada à repetição. Em que medida cessa a repetição, em que medida o tratamento permite eliminar a repetição? Em que medida a conclusão do tratamento tem uma incidência na repetição do significante como repetição de gozo? Há algo inacabado no Seminário IV. Há somente um esboço da lógica, de uma lógica do tratamento.

É uma questão para nós saber se é uma via a retomar ou se há obstáculos fundamentais que impedem que se vá na direção de uma lógica do tratamento distinta da estrutura do discurso. Lacan esboça uma lógica do tratamento e nós podemos dizer que é o único esboço de lógica do tratamento, propriamente dito, em Lacan. Houve dois rebentos no ano seguinte. Primeiramente, a metáfora paterna, a fórmula da metáfora paterna tal qual ela figura no famoso escrito “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”, que é a colocação por escrito dos resultados obtidos por Lacan a partir do tratamento do pequeno Hans que ele escreveu no ano seguinte, em dezembro de 1957 e janeiro de 1958. Evidentemente, este escrito trata do tema do Seminário III sobre a psicose. O caso do presidente Schreber retira toda sua formalização do caso do pequeno Hans. Lacan utiliza também o esquema L da estrutura do discurso para dar-lhe o estatuto de estrutura clínica, e quando ele transforma seu esquema L em esquema R, ele passa de um esquema de estrutura do discurso a um esquema de estrutura clínica. Além disso, ele formula a metáfora paterna propriamente dita, que escreve a relação do sujeito com a mãe, transformada pela inclusão do significante de pai.

Podemos dizer que no ano seguinte, no Seminário V, As formações do inconsciente, que ele já anunciara no ano do pequeno Hans, a construção de Lacan sobre o Witz surgiu dos Witz do pequeno Hans. No ano seguinte, ele elabora o grafo do desejo, que é também uma estrutura com transformações, e que dá alguma coisa – apesar de estar distante da experiência – de uma lógica do tratamento. Em todo caso, ele distingue um nível 1 do tratamento, de um nível 2, e nós podemos dizer que o nível 1 é concluído com o significante da identificação I(A), e que o nível 2 se conclui com o significante da inconsistência do Outro, S ().

De certa maneira, esse grafo do desejo é uma transformação do esquema L de Lacan, isto é, ele articula a estrutura da intersubjetividade – intersubjetividade complexa, imaginária e simbólica, que existe nesse esquema – com a estrutura do significado e do significante, e ele combina, se é que podemos dizer isso, os dois. De tal forma que, se devêssemos resumir a lógica do tratamento apresentada por Lacan através do grafo do desejo, seria com esta fórmula: o tratamento é fundamentalmente a transformação de A em ou também, a passagem do imaginário ao simbólico.
É assim que poderíamos resumir o tratamento do pequeno Hans, como um processo de simbolização. Vale a pena parar um momento para uma reflexão a este respeito, pois é o único momento em Lacan que temos uma lógica do tratamento que seja mais do que uma bela expressão, mas de fato um trabalho baseado em um tratamento. Trata-se de um processo de simbolização sobre um elemento essencial: o falo. Poderíamos, por conseguinte, resumir o tratamento do pequeno Hans da seguinte maneira: do falo imaginário ao falo simbólico, e poderíamos situar o momento exato da doença do pequeno Hans, ou de seu sintoma, seja na aparição do falo como elemento real, seja em seu gozo fálico, seja na aparição de sua irmã menor, que são os elementos que desestabilizam sua posição. Poderíamos dizer também, mesmo que Lacan não empregue este termo no Seminário, que a fórmula da lógica da cura é também do phallus imaginário ao phallus simbólico. É somente depois do Seminário VIII, sobre A transferência, que Lacan utilizará o símbolo φ.

O privilégio do tratamento do pequeno Hans é que ele é, praticamente, uma cura por excelência. Há um sintoma perfeitamente manifesto e este sintoma desaparece. Há cura. O sintoma fóbico desaparece. Há resolução curativa. O tratamento do pequeno Hans, mesmo tendo interesse para nós como um exemplo único, tem entretanto um limite, no nível do que podemos dele extrair; nesse caso, a lógica do tratamento se confunde com a elaboração da metáfora paterna; é dizer que nesse caso, no caso de uma análise infantil, a lógica do tratamento é idêntica à metáfora paterna. Ocorre que nesse tratamento, para cuidar do sintoma fóbico, o poder simbólico do significante pai substitui o poder imaginário da mãe. Pode-se dizer também, segundo a opinião de Lacan, que no caso do pequeno Hans a metáfora paterna não se constitui de forma plena, mas de forma oblíqua, desviada. Todavia, poder-se ia dizer que, se se tratasse de uma cura analítica propriamente dita, ela deveria ter começado após - após a resolução curativa obtida nesse caso, para restabelecer o equilíbrio – a orientação desta metáfora paterna desviada do pequeno Hans. Evidentemente, quando nós dizemos que iremos, na pratica analítica, além do Édipo, o que nós dizemos é justamente que nós podemos tomar a lógica do tratamento do pequeno Hans como modelo da lógica do tratamento propriamente dito. A importância do Seminário IV se observa no fato de que neste Seminário, segue-se a Freud em “Inibição, sintoma e angústia”, Lacan diz que o sintoma fóbico tem o papel do Nome-do-Pai e é somente um tempo para compreender, para chegar a formular que o Nome-do-Pai não é mais do que um sintoma. Quinze anos foram necessários para chegar a essa formulação, mas, desde o Seminário IV, temos elementos para deduzi-las. O Nome-do-Pai e o sintoma têm algo a ver um com o outro na medida em que um pode substituir o outro. Nós supomos que, se o Nome-do-Pai é um sintoma, é um sintoma que deve ser qualificado de uma certa maneira para ser distinguido, mas isso não impede que ele possa ser também patológico. A posição de Lacan neste Seminário é de que o pequeno Hans elabora um pequeno Nome-do-Pai.

Com isso, eu passo ao segundo tema. O segundo tema, que não trata de lógica propriamente dita, trata da mãe. A mãe é o personagem central do Seminário IV. Existe um preconceito segundo o qual Lacan não diria nada sobre a mãe e que o lacanismo teria sido empregado para restabelecer a função do pai. Não! O Seminário IV, do início ao fim, é uma teoria da mãe. Devo dizer que esta convicção orientou-me, por exemplo, na escolha da ilustração da capa da edição francesa, que não é o cavalo evidentemente. O cavalo está presente como significante. Ademais, Lacan - trata-se de um excursu - se refere no Seminário ao cavalo que figura no quadro de Ticiano, de Venus e Vulcano com um cavalo. Verifiquei em todos os catálogos de Ticiano e acredito que se trate, na realidade de um quadro de Veronese que se denomina Vênus e Marte ligados por Eros. Neste quadro existe, de fato, bem no fundo, um cavalo e um pequeno anjo, um pequeno Eros que tenta equilibrar-se sobre o cavalo, signo fálico codificado. Isto teria sido uma bela capa, é um quadro doce, mas, não me pareceria que seria necessário ilustrar o cavalo em primeiro lugar e, além de tudo, esse Seminário é tudo menos doce. Não vou dizer-lhes qual foi a capa que escolhi, pois isso ainda não foi feito. Veremos.

Foi o tema da mãe que unificou a pesquisa naquele ano. E se não é tão fácil ver a trajetória lógica de Lacan, não a lógica do tratamento, mas a lógica do Seminário propriamente dito. Se fosse necessário determinar qual é o fio que corre ao longo deste Seminário, desde o início, e que condiciona tudo o que Lacan escolhe como exemplo, eu diria que se trata das consequências clínicas terríveis da sexualidade feminina para qualquer sujeito no sentido em que cada sujeito é filho de uma mãe. Ao centro deste Seminário, há aquilo que, no centro da metáfora paterna, Lacan designa como DM, desejo da mãe, e, como saliento frequentemente, este Desejo da mãe, com um D maiúsculo, não é o desejo da mãe que conhecemos desde As formações do inconsciente que Lacan elaborará no ano seguinte, não se trata deste desejo correlativo da demanda, que é essencialmente o espaço entre o significante e o significado. Em O Seminário IV, eu posso dizer que se vê o momento em que surge, provavelmente, o termo demanda para Lacan, quando ele se dá conta de que em inglês, a exigência se diz demand, também utilizável para apetite.

O desejo em As formações do inconsciente é a parte que resta fora da interpretação, de tal forma que Lacan pode concluir disso que o desejo, segundo sua interpretação, não é o DM, o desejo da mãe, mas sim uma outra coisa. Ele se refere ao desejo da mãe enquanto mulher. Isto quer dizer que ele se refere à castração feminina, seja à mãe enquanto sujeito correlato de uma falta, não uma falta de ser mas, de fato, uma falta de objeto. Isto é a primeira parte do Seminário que intitulei “Teoria da falta de objeto”, que Lacan opõe à maioria dos teóricos da relação de objeto. Ele o elabora com as diferentes modalidades dessa falta: a castração, a frustração, a privação. Creio que conhecemos muito bem este mecanismo, a construção deste quadro.

Mas qual é sua finalidade neste Seminário? Trata-se de desenvolver a tese, segundo a qual, é determinante para um sujeito a relação da mulher com sua falta, que poderia se escrever assim: S ◊ (-), relacionada à falta, não qualquer uma, mas aquela que se escreve (-). A questão que Lacan trabalha neste Seminário, a questão fundamental da psicanálise da criança, é de saber como ela se inscreve nessa relação. Por que não poderíamos escrever, desta vez, o sujeito criança articulando-o com a articulação do sujeito feminino com sua falta: Sc ◊ (Sm ◊ (-))? É por isso que a elaboração teórica fundamental da primeira parte é a da frustração. É certo que se trata da frustração da criança em relação à mãe, e Lacan dá uma nova elaboração ao Fort! Da!, pois o fort-da que Lacan utilizou no Seminário IV para demonstrar que sob a repetição, há a frustração do sujeito. Mas, além da frustração do sujeito-criança, a frustração da mãe enquanto mulher percorre todo esse Seminário.

Estamos habituados à outra face da sexualidade feminina que é o suplemento, o mais-de-gozar. Mas no Seminário IV, a outra face é a insatisfação, segundo Lacan, a insatisfação constitutiva do sujeito mulher. É nesse sentido que o capítulo central deste Seminário, o capítulo XI, eu denominei: “O falo e a mãe não-realizada” (1956-57, p. 179).

A mãe lacaniana corresponde à formula quaerens quem devoret2, ela procura alguém para devorar; Lacan a apresenta a seguir como o crocodilo, o sujeito com a boca aberta. De tal maneira que, sob o conjunto do mecanismo do quadro e de suas permutações, o elemento central é o devoramento, a relação oral com a mãe enquanto devoramento, devorar a mãe e ser devorado por ela. No complexo do cavalo, ou complexo dos cavalos, o elemento que parece à Lacan merecer um matema, é a mordida, a tal ponto que Lacan o indica com uma matema “m”. Este está igualmente presente em tudo aquilo que concerne ao casco do cavalo e Lacan mostra que a palavra “casco”3 (1956-57, p. 335) designa ao mesmo tempo a pinça ou as tenazes. Em conseqüência, a questão infantil, tal qual Lacan a situa (é quase possível dizer a questão infantil como se fala da questão histérica ou da questão do obsessivo) é de saber como saciar o desejo da mãe ligado a sua falta. Há muitas transformações que Lacan situa nesse Seminário, mas a transformação que me parece central, muito esclarecedora, é a da mordida da mãe no fechamento da torneira da banheira (1956-57, p. 331 e 341). Como o diz Lacan? Ele diz que o desmonte, o banho do pequeno Hans que é interrompido pelo fechamento da torneira nem dado momento, é quase o que encarna a passagem do imaginário ao simbólico. Assim como o diz Lacan – esta é a única citação que eu farei – “não é a mesma coisa morder gulosamente a mãe, apreensão de seu significado natural, até mesmo de temer, em retorno, esta famosa mordida que encarna o cavalo – ou de desaparafusar a mãe, soltar-lhe as engrenagens, mobilizá-la neste assunto, fazer com que ela entre também no conjunto do sistema, e, pela primeira vez, como um elemento móvel e ao mesmo tempo, equivalente aos outros.” (Ibid., p. 405).

Podemos dizer que o ponto mais avançado que o pequeno Hans conseguiu atingir é, devemos admitir esta fórmula assim – a transformação da mordida no fechamento da torneira da banheira. Isto quer dizer que a mãe, com sua potência opaca, ameaçadora, que parte, que vai e que volta (e com ela se vai toda a casa, é esse o temor do pequeno Hans), essa partida ameaçadora da mãe, transforma-se no desmonte de um aparelho que não é toda a casa, que esta banheira lhe dá seu lugar, pois, como o próprio pequeno Hans observa, é o lugar onde, numa banheira que ele ama, seu traseiro encontra seu exato lugar (1956-57, p. 333). Portanto, O Seminário IV, é um seminário sobre a sexualidade feminina. Tendo começado a redigi-lo, eu percebi que, para Lacan, a questão essencial da psicanálise com crianças era a sexualidade feminina. Não se trata da mulher em sua relação com o gozo, trata-se da mulher em sua ligação com o falo, isto é, ao significante fálico que faz dela um ser da falta. E, há evidentemente uma relação entre esta falta fálica e o suplemento de gozo que Lacan fixará muitos anos mais tarde.

Este Seminário é também um Seminário sobre a criança na medida em que a criança é uma solução a esta falta feminina. Lacan se refere, evidentemente, à equivalência, à equação, à Gleichung formulada por Freud, criança = falo. Mas não é nada mais do que uma substituição. Freud, ele próprio, só introduz a criança como substituto ao falo que falta. Justamente, um substituto que não basta, de tal forma que ao lado da metáfora paterna nós podemos escrever a metáfora infantil da mulher, que é uma outra forma da equivalência freudiana criança/-, e que corresponde ao estatuto que Lacan dará, muito tempo depois à criança, de objeto pequeno a. Talvez isto seja visto com mais facilidade quando está escrito: a criança como substituto da falta fálica: E/-. A questão é de saber como a criança descobre que não basta fechar o buraco, como ela descobre que o parceiro de sua mãe como mulher é sua falta, isto é, a falta de falo. É isto que ordena a pesquisa de Lacan. Ele se interroga, em detalhes, como uma criança pode descobrir a relação de sua mãe com o falo e sua própria falta. Não há então primary love no amor recíproco.

De forma similar, Lacan convoca o caso da fobia da pequena inglesa, caso de fobia que se inicia quando a mãe se manifesta diminuída em sua potência, onde o que parece ser o motor em causa é a aparição de sua falta. É assim que se justifica a escolha do caso da jovem homossexual no qual vemos que quando ela é confrontada ao fato de que o filho imaginário do pai, encarnado para ela no filho real da vizinha do qual ela se ocupa, é dado à mãe, uma mudança clínica ocorre que se esclarece com a equivalência freudiana entre a criança e o falo.

É também o que justifica os capítulos que Lacan dedica à perversão, às vias perversas do desejo e ao objeto fetiche, uma clínica onde se vê o sujeito se identificar ao falo da mãe, ou identificando-se à mãe, sobre o eixo imaginário, de tal forma que Lacan apresenta o fetichismo como uma solução possível para a criança que descobre a relação de sua mãe com a falta. Por essa razão, ele situa a prevalência do imaginário nas perversões. A tal ponto que eu me permiti, no último capítulo, colocar em evidência, similarmente à fórmula de Joyce, o sintoma a fórmula de Hans, o fetiche. Hans, o fetiche, não Hans, o fetichista. Ao contrário, e Lacan o situa de maneira muito precisa, há toda uma parte do estudo do pequeno Hans que se refere às calcinhas da mãe, que têm valor numa oposição significante, e que são diferentes se estiverem ou não vestidas na mãe. Quando a mãe não as está vestindo, o pequeno Hans as rejeita. E como o diz Lacan, é a orientação fundamental de que esta criança não será um fetichista, ou pelo menos um fetichista normal, isto é, que para ele o falo será aquele da equivalência girl= falo, situada por Fenichel em um artigo citado por Lacan.

O título do último capítulo “Hans o fetiche”, eu o intitulei exatamente “De Hans-o-fetiche a Leonardo-em-espelho”. Lacan termina este Seminário com o caso de Leonardo Da Vinci, de Freud, ao qual ele dá sua versão da inversão de Leonardo, deixando em suspenso a questão de sua inversão sexual, e utilizando este termo para por em evidência a característica prevalente da relação imaginária para Leonardo. É fato que ele tinha por hábito dirigir-se a si mesmo por “tu”, e escrevendo páginas nas quais ele se refere a si mesmo por “tu”. Lacan lembra que da natureza ele fazia, não um grande Outro, mas um outro imaginário e simétrico, de tal forma que ele situa Leonardo em seu esquema Z.

É no caso de Leonardo Da Vinci que encontramos as figuras da “mãe dupla”, da Virgem e Santa Anna, e esta mãe dupla se articula com a dupla mãe do pequeno Hans. É desta forma que Lacan situa o desvio da metáfora paterna em Hans que, no lugar de acessar plenamente o Nome-do-Pai, desdobra a mãe entre sua mãe e a mãe de seu pai, a avó que tem a autoridade. Ele escreve MM, duplo M maiúsculo, esta avó, mãe do pai, lugar da autoridade que faz a lei do pai. Todos os domingos o pai e o pequeno Hans vão visitá-la e é neste traço que Lacan situa a força, a autoridade desta senhora. Temos a dupla mãe de Leonardo, a dupla mãe do pequeno Hans, e também a dupla mãe de André Gide. Quando Lacan lê André Gide, ele reconstrói sua mãe dupla através de sua mãe biológica e sua tia. Há uma série tripla: Hans-Leonardo-André Gide. Através destas considerações, eu estou também completando um pouco o que eu não tive tempo de dizer em meu seminário sobre André Gide, publicado há alguns anos na revista Malentendido. Esta mãe dupla é a fórmula da metáfora paterna desviada, fórmula indicada quando não há foraclusão propriamente dita do Nome-do-Pai, e quando a transmissão do Nome-do-Pai não parece passar pelo pai real, no sentido do real que Lacan utilizava nesta época. Devo dizer que isso me surpreende. Há anos que situamos o aporte de Lacan a respeito da outra mãe na histeria, mas não demos uma importância equivalente à mãe desdobrada, à função da mãe dupla. A mãe dupla não responde a um delírio da criança, mas de fato é uma invenção que lhe permite obter uma derivação feminina do Nome-do-Pai. Evidentemente as consequências não são as mesmas, mas podemos ver no caso de pequeno Hans aquilo que Lacan não hesita em chamar de carência do pai real. No pequeno Hans, há um chamado constante ao Nome-do-Pai, um chamado constante a um pai terrível, muito mais terrível do que este pai doce, que assim que algo lhe é dito corre para referir-se ao professor Freud.

No caso de André Gide, vemos que o pai está presente, mas é um companheiro de jogos. É a figura materna que suportou os imperativos da lei, a autoridade simbólica. As consequências não são as mesmas, Hans vai gostar das mulheres e Gide dos menininhos. Não! A heterossexualidade do pequeno Hans não o impede de permanecer, fundamentalmente, numa posição feminina, à tal ponto em que ele se situa como a filha de duas mães. Já Gide demonstra que goza de seu pênis como uma mulher, transbordando de gozo. Isto nos permite dizer que encontramos a dupla mãe, a cada vez que a metáfora paterna se realiza com os elementos femininos da história do sujeito. O pequeno Hans, segundo Lacan, não sai da dominação, o fio que percorre a procura da relação de objeto é também o do poder da mãe, que uma vez Lacan qualificou como mestre, o mestre-mãe.

É o que resta em sua teoria como mãe real, uma mãe não saciada, mas também todo-poderosa. O apavorante desta figura de mãe Lacaniana é exatamente este caráter todo-poderoso, concomitantemente à sua não realização. Evidentemente, sob esta figura encontramos a figura kleiniana da mãe e, em certo sentido, no Seminário IV encontramos a reelaboração de Lacan da doutrina de Melanie Klein. Isso não se percebe com muita facilidade quando ela está exposta nos Escritos sob a forma da dialética necessidade, demanda, desejo. Mas, no Seminário IV nós temos o esqueleto. Nada mostra melhor este esforço de ligação com Klein do que esse breve momento no qual Lacan tenta tornar compatível seu estádio do espelho com a posição depressiva. É quase cômico. Pois a criança lacaniana do espelho, do estádio do espelho, é totalmente o contrário da criança kleiniana. A criança kleiniana é depressiva, enquanto a experiência fundamental da criança lacaniana é o júbilo, o triunfo no momento em que experimenta a completude de sua imagem e seu domínio sobre sua imagem.

Mas, não compreendemos como uma mãe devorante pode ter um filho triunfante, a tal ponto que Lacan diz que quando a criança encontra sua imagem completa no espelho, é o triunfo. Mas, quando ele encontra a imagem completa sob a forma do corpo materno, ele constata que essa imagem não lhe obedece, de tal maneira que todo o poder materno se reflete como sua posição depressiva. Diante de sua própria imagem, o sujeito pode experimentar um triunfo, mas diante da imagem da mãe ele é fundamentalmente depressivo. O pequeno Hans está muito mais ao lado da criança lacaniana, no sentido de que ele se defende bastante bem, mas, certamente é uma criança sob uma ameaça encarnada pelo cavalo. Podemos então dizer que isto é uma correção kleiniana do estádio do espelho, e eu não ouvi falar nela ter sido utilizada até o presente momento. Lacan corrige também o comentário do Fort-da. Tanto no “discurso de Roma”, no Seminário II, quanto no Seminário sobre “A Carta roubada”, o Fort-da parece ser o exemplo freudiano da introdução do sujeito na ordem simbólica e ele nos apresenta o binário significante mínimo, isto é, o Fort-da, como repetição.

Neste Seminário, Lacan elabora o Fort-da como frustração e o que muda é que não se trata de um funcionamento cego, automático, lógico, de um algoritmo acéfalo, este funcionamento simbólico passa, ao contrário, por um ser, por uma dominação. O Fort-da pode assemelhar-se a um funcionamento unicamente simbólico, onde a criança reproduz no semblante a partida e o retorno da mãe, e num jogo no qual, ao utilizar um objeto qualquer, ele acompanha a aproximação e a desaparição do objeto de uma vocalização binária. É nisso somente que o Fort-da constitui-se numa simbolização da mãe.

Lacan necessita de uma mudança no estatuto da mãe. Quando a mãe não responde, ele diz que ela se transforma em real, isto é, em potência. De sorte que há algo como um cruzamento entre a satisfação e a mãe; quando a satisfação é real, a mãe é simbólica, e quando a mãe se torna real a satisfação se torna simbólica. Uma satisfação simbólica, o que é? A mãe não é só mestre, é também amor. A tese essencial de Lacan nesse Seminário é de que a satisfação essencial é a satisfação do amor. A exigência do amor é a exigência simbólica, a exigência do signo do amor. A exigência do signo do amor pode se conservar em toda sua intensidade no interior de um sujeito.

No Seminário IV temos uma clínica centrada sobre o amor, a tal ponto que Lacan situa a satisfação real, quando ela é obtida, como um substituto da satisfação simbólica. O que quer dizer que poderíamos escrevê-lo: satisfação real/satisfação simbólica. Isso é muito importante, Lacan o diz em uma frase, ele diz que toda frustração da satisfação simbólica, toda frustração de amor numa criança, é compensada por uma satisfação real, mas é um “plano B”, um recurso, um mal menor. Não temos de ficar fascinados com a satisfação real da criança no seio, pois a tese de Lacan é que esta satisfação real da criança é uma substituição, uma compensação da frustração real do amor. A intensidade da satisfação real vem do fato de que é um substituto da satisfação simbólica. É por essa razão que se erotizam as atividades do ser. A oralidade, por exemplo, não é somente comer para viver, a oralidade se erotiza na medida em que ela vem compensar a satisfação simbólica.

Dizer isso é dizer que a pulsão não é pura necessidade. O que surpreende nesse Seminário é que a pulsão parece ser a conseqüência da exigência de amor, é a forma que Lacan escolhe para dizer que o lugar do grande Outro já está presente na pulsão. Ademais, quando o pulsional aparece, ele tem sempre sua função ligada ao desenvolvimento de uma relação simbólica. Evidentemente, quando Lacan diz “amor” nesse seminário, trata-se do Eros freudiano. Este tema é importante na lógica do tratamento. É um pouco um excursus, mas há o exemplo que toma Lacan, um caso de exibicionismo apresentado por Melittta Schmideberg, que Lacan trata como um exibicionismo reacional, com a aparição ou o deslocamento de uma zona erógena (1956-57, cap. IX). De fato, quando nesse tratamento aparece o pulsional, num dado momento o sujeito cai na bulimia e, em outro momento, após haver realizado com dificuldade o ato sexual, o sujeito vai expor seu órgão diante de um trem internacional que passa na região. Lacan, ao invés de dizer que há uma regressão, diz que todas essas emergências devem ser situadas como estando enlaçadas com a relação simbólica à qual elas se reduzem. É um tema que eu não posso desenvolver agora. Parece-me, que na lógica do tratamento, deve-se situar esses fenômenos de redução simbólica, é uma coisa recorrente neste Seminário de Lacan, no fantasma, mesmo no fantasma apresentado por Freud.

A lógica do fantasma leva a um empobrecimento da estrutura do fantasma. Como Lacan o demonstra, há na primeira forma do fantasma uma relação intersubjetiva rica que se transforma numa fórmula sem sujeito: “Bate-se numa criança”, onde não há mais intersubjetividade. Isto quer dizer que no fantasma há toda a complexidade do simbólico e uma redução pontual dessa complexidade. A mesma coisa ocorre quando surge, no lugar de toda a complexidade simbólica, um acting-out, uma passagem ao ato ou a regressão pulsional ou quando, na perversão, Lacan apresenta a imagem como molde da perversão, a redução de toda uma história simbólica que se mantém como um resto. Assim, ele deduz e acentua a prevalência do modo imaginário na perversão.

Em outro momento, a respeito da jovem homossexual, ele fala da projeção do simbólico sobre o eixo imaginário. Eu não vou poder desenvolver isso, mas é como se houvesse momentos em que se pudesse situar e condensar esse fenômeno, momentos em que a relação simbólica se dobra sobre o imaginário ou sobre o pulsional mas, a cada vez, trata-se de uma redução simbólica. Mesmo que isso possa ser semblante, mesmo que sejam pontos de densidade máxima, trata-se de alguma coisa que parece real e ao mesmo tempo é semblante.

Vou parar por aqui. Não dediquei meu seminário desse ano a isso, de maneira que tenho muito a dizer e não calculei bem o tempo, mas gostaria de dar uma abertura para a leitura do Seminário. Só vou adicionar o seguinte: Leonardo Gorostiza falou da dificuldade do tema da lógica, do estudo da lógica. Portanto, eu concluo dizendo que antes do Seminário IV, há só um caso de Freud que Lacan parece abordar na inspiração da lógica do tratamento. É sua pequena “Intervenção sobre a transferência” (1951), a respeito do caso Dora. Nessa pequena “Intervenção sobre a transferência” pode-se dizer que ele lê o caso Dora com a Fenomenologia do espírito, de Hegel, isto é, que ele localiza as inversões dialéticas.

No Seminário IV, e para desenvolver o único exemplo que temos de lógica do tratamento, podemos dizer que Lacan lê Freud com Lévi-Strauss, mais exatamente com um artigo intitulado “A estrutura dos mitos” datado de 1955. Recomendo o estudo desse artigo, em que se vê a tentativa de Lévi-Strauss, na qual Lacan se inspirou na questão da permutação, de escrever a fórmula do mito, na idéia de que todo mito é redutível a uma fórmula. Não tenho o tempo de demonstrar que essa fórmula inspira a fórmula da metáfora paterna em Lacan, que é uma fórmula de equivalência. Armado de Lévi-Strauss, Lacan (1956-57, p. 329) tenta ordenar a estrutura dos mitos elaborados por Hans e seguir as tentativas de solução do pequeno Hans, concluindo com uma fórmula que é também a metáfora paterna.

Na lógica do tratamento, trata-se de saber se podemos retomar o tema deixado por Lacan, sabendo que, para nós, a lógica do tratamento não é uma elaboração da metáfora paterna, que a metáfora paterna não é a conclusão do tratamento. Mas temos de saber se o método vale, isto é, se além da estrutura do discurso, há uma lógica formalizável do tratamento. Um eco do caso do pequeno Hans se faz ouvir no ensinamento de Lacan até A lógica do fantasma, seu Seminário de 1966-67. O caso do pequeno Hans já é uma lógica do fantasma, vocês conhecem a importância dessa lógica do fantasma, pois é ao concluir esse Seminário que Lacan propõe o passe, de tal forma que podemos estudar juntos o Seminário IV: a relação de objeto, o Seminário 14: a lógica do fantasma e o texto sobre o passe. De certa maneira, em A lógica do fantasma, à distância do tratamento, através do grupo de Klein, Lacan elabora um certo tipo de estrutura com suas transformações, mas à distância dos eventos do tratamento.

O que é apaixonante nesse Seminário IV, é que Lacan não fica à distância da experiência e que ele formaliza os próprios elementos do tratamento, a ponto de definir “m” como a mordida do cavalo. É fato que Lacan abandonou essa perspectiva de expor a lógica do tratamento dessa forma e que ficou adstrito à elaboração da lógica do discurso. Minha questão, ao abrir esta jornada, mas não somente essa jornada, pois o tema da lógica do tratamento vai balizar as jornadas de todas as escolas pertencentes à Associação Mundial de Psicanálise, a questão, a verdadeira questão aberta que lhes proponho para estas jornadas é de saber se há possibilidade, necessidade, dever, ou se há impossibilidade de retomar a inspiração de Lacan em O Seminário IV para elaborar uma lógica do tratamento.

 

Questões

Jacques-Alain Miller – Agradeço a Germán por propor uma questão, pois se o Outro não responde, ele se transforma em uma potência devorante, então, obrigada.

Germán Garcia – Minha questão está ligada com a lógica modal e o tempo. Lacan, quando introduz os quatro modos – o possível, o impossível, o necessário e o contingente – não estaria ele propondo o desenvolvimento de uma temporalidade, de uma lógica temporal, sob a forma daquilo que termina e do que não termina? Isso é tudo.

J.-A. Miller – Sim, mas o que deve ser notado, é que nessa construção, Lacan permanece muito afastado dos detalhes do tratamento. Provavelmente devamos concluir que é, por exemplo, para a supervisão, para uma outra dimensão.

No caso do pequeno Hans, entre o dia 1º de janeiro e o dia 1º de maio, temos muitos elementos e muito interesse em dar conta de tudo isso, de cada detalhe dito e posto em relação. Creio que não se pode – eu o li e reli muitas vezes, tanto em francês quanto em referência ao alemão para redigir o seminário de Lacan – devo dizer que não é possível lê-lo sem espanto, sem desejar fazer a mesma coisa em um tratamento. Nós nos sentiríamos indignos por não elaborar um tratamento desta mesma maneira. Seria necessário ver se se trata de um fantasma, ou se essa orientação que consiste em dar conta de tudo só tem valor em um contexto tão especial quanto esse, isto é, no princípio da análise, onde a primeira criança genial inventou a análise com crianças.

É verdade que se pode dizer que isto é possível para um tratamento de crianças e não de adultos. Mas por que? Qual seria a razão que o tornaria impossível? Devo dizer a este respeito que estou muito longe da questão das modalidades... Trata-se de uma lógica do detalhe, trata-se de assumir esses detalhes. Lévi-Strauss já dizia, tempos depois, que era a superioridade do estruturalismo sobre o formalismo, ele o dizia numa introdução a Vladimir Propp que havia proposto uma formalização dos contos de fadas. Ele diz muito bem: para o formalista há uma forma e os detalhes são como matéria amorfa que não importa; para um estruturalista, ao contrário, não há esta distinção manifesta entre matéria e forma e a estrutura se encontra nas próprias coisas, isto é, tudo conta; não é possível se contentar com uma fórmula abstrata.

É uma orientação admirável. É a questão que me coloco, não sei o que vocês pensam sobre isso, se nós não deveríamos reencontrar a inspiração de apresentar um tratamento ou uma sessão de tratamento, fazer esse esforço de apresentá-la inventando ao menos o vocabulário próprio para cada caso, tentando simbolizá-lo e matematizá-lo a partir de um detalhe do caso, e de encontrar a cada vez o objeto a, o sujeito barrado, isto é, é fundamental se referir à estrutura do discurso, mas seria muito mais leve se pudéssemos elaborar a lógica de um tratamento em particular, situando os significantes-mestres, tais como a mordida, que é, se é que podemos dizer isso, um significante-mestre.

G.Garcia – Amanhã vou lhes fazer uma exposição sobre o termo “resón” (em espanhol: resonar = ressoar), que Lacan toma emprestado de Francis Ponge, justamente apontando que Lacan se engana em traduzi-lo por “razão”4. Francis Ponge faz um jogo de palavras entre razão e “réson”. Em muitos de seus últimos seminários, Lacan retorna à questão de como fazer para encontrar a ressonância, pois o que é possível dizer do detalhe é correlativo da interpretação, é somente ao escutar o “m” da mordida que se pode dizer alguma coisa ou interpretar alguma coisa. Parece-me, então, que este caminho, cuja presença o senhor apontou no estudo do pequeno Hans, vai no sentido da questão de Lacan sobre a maneira de encontrar a ressonância, por intermédio da qual, alguma coisa que produziu um nó na linguagem possa nela se desfazer.

Mirta Vásquez – A questão toca em uma coisa que apontou, que me surpreendeu na leitura do Seminário IV no que concerne à mãe como personagem central. Não é exatamente isso que me surpreendeu, em todo caso, na versão em espanhol. Há um lugar em que Lacan diz que a noção central do Seminário é a falta, não é? A falta como objeto, a falta de objeto.

J.-A. Miller – De que falta se trata exatamente?

M. Vásquez – Da maneira como compreendo, ele se refere à falta fálica. O senhor disse que é necessário visualizar a conseqüência clínica da sexualidade feminina em cada sujeito. Eu havia entendido que seria preciso enxergar a conseqüência clínica da castração da mãe para cada sujeito. Pergunto–lhe, então, se para o senhor a castração da mãe é equivalente à sexualidade feminina.

J.-A. Miller – Não, em seguida, Lacan dirá a mesma coisa de maneira mais dramática. Ele dirá: todo sujeito que fala perde um pouco de gozo; isto é a castração. Somos castrados pelo simples fato de falar. Nessa perspectiva, algo se perde e algo se ganha, é claro. Mas, a dramaticidade que há, por exemplo, nesse Seminário desaparece. Devo dizer que nesse Seminário a função do pai aparece como sendo a de salvar a criança do desastre e da via sem saída da relação com a mãe. Isto é, aquilo que Lacan apresentará em seguida como falta produzida pelo significante como tal, está em direta relação neste Seminário com as conseqüências patológicas da relação com a mãe. De tal modo ele aparece e é a inspiração da metáfora paterna, o fato de que a única maneira para a mãe de evitar as conseqüências patológicas para a criança é fazendo valer o Nome-do-Pai.

É claro que é necessário reelaborar todo o Seminário, que é nele mesmo uma reelaboração de Melanie Klein. Penso que, de certa maneira, graças a Lacan, estamos além de certas coisas. Mas não há só progressos, pois perdemos as intuições que fazem parte deste Seminário. Por exemplo, a dramaticidade da posição da mãe em relação à criança que, de certa maneira, está muito próxima da clínica cotidiana. Se pensamos que há um perigo em utilizar de forma abstrata categorias que para Lacan são muito próximas da experiência, retornar a estes detalhes e a esta inspiração, especialmente nesse Seminário, me parece valer a pena.

Quanto à castração da mãe, a questão é saber se há uma figura de mãe, da mãe que tem filhos, que possui o necessário para alimentá-los, da mãe que é boa o suficiente, que é uma mãe que tem. O que Lacan lembra é que a mãe é uma mulher e que por trás de toda mãe há uma Medéia, está sempre na ordem do possível. Mesmo se a mãe for exemplar, a criança ainda é só um substituto, a tal ponto que é necessário assumir a questão que aqui se apresenta: a maternidade é a via única ou a via privilegiada de exercício da feminilidade?

É evidente que Lacan foi surpreendido por essa orientação: “todas elas querem se dar bem”5 em francês, é meio grosseiro, quer dizer que elas querem ter, e eu o dizia quase com arrependimento, pois isso influencia a feminilidade que pode tirar sua autenticidade do fato de não ter; o desejo pode ser uma devastação. Por que elas tentam tanto mascarar a falta? É certo que Lacan tinha a maternidade não como a via, mas sim como uma via metafórica para a mulher. A tal ponto que eu não acho que a psicanálise possa realmente impor este ideal, que para o próprio Freud, é muito mais da ordem da substituição.

Podemos dizer que a cada vez que mudamos de discurso e de significante–mestre, a cada vez que colocamos outra coisa no lugar de significante-mestre, há uma nova transferência.

Nestor Rozemberg
– Se o conceito de frustração aparece como sendo central, ainda mais a da mãe, há também, no interior da sistematização que Lacan faz nesse Seminário, a sistematização da castração em frustração, privação, castração. Talvez o que fosse mais necessário acentuar é a privação, a posição da mulher como ser privado, e a que dá lugar a que alguém, no lugar de agente, tenha operado essa privação, um agente imaginário nesse caso. Eu penso que é em torno desse ponto que gira o caso do pequeno Hans.

J.-A. Miller – O senhor está certíssimo a esse respeito. O terrível da relação – segundo o que diz Lacan – o terrível da relação com a mãe como mulher, é justamente sua privação que impede sua castração, por que já está feito. Este fato, dá uma audácia que vai além da pequena coragem, da timidez masculina. São as grandes terríveis que não têm nada a perder, mas, como já o dizíamos, limitam também a operação da criança, pois seu poder não pode ser ameaçado. A este respeito, Lacan diz, sem desenvolver muito, que além da castração do lado do pai, há a castração do lado da mãe, e é uma castração que eu diria sem saída, pois não tem dialética. Ao pai, podemos roubar, podemos matar, quanto à mãe só é possível ficar entre o devorar ou ser devorado. Mesmo tendo ao mesmo tempo o admirável sujeito vazio feminino e seu além quando o homem é limitado, sendo que a outra face é que ela não oferece a dialética que existe do lado paterno. É isso o que Lacan desenvolve nesse Seminário, não tenciono assumi-lo completamente.

Diana Wolodarsky – Gostaria de retomar a referência feita pelo senhor quando disse que no momento em que a mãe não responde a essa satisfação simbólica de amor, ela se transforma em real. A satisfação essencial, como disse, é a do amor, uma exigência simbólica. A satisfação real ocuparia então o lugar da ausência desta satisfação simbólica, uma forma de compensação, poderíamos dizer, real, ao invés de simbólica. O senhor estava dizendo, a esse respeito, que a pulsão aqui não responde por necessidade, mas em resposta justamente à esta falta de satisfação simbólica.

Eu pensava que dessa substituição, dessa compensação, poderíamos dizer: mas vale algum real do que nenhum simbólico, seria pior se não houvesse nada; e eu pensei situar a pulsão não em relação à necessidade, mas em resposta a essa ausência de satisfação em termos simbólicos do amor. Interrogo-me se não se poderia pensar, então, as respostas do corpo como respostas a essa falta de satisfação simbólica. Pensando, por exemplo, naquilo que encontramos na clínica de bulimias e anorexias como respostas do corpo sobre isso.

J.-A. Miller – Do corpo, sim, é o tema da frustração reunido ao da privação que foi relembrado. Antes de Lacan retomá-lo isso queria dizer: a criança quer, ela tem necessidade de certas coisas, ela quer o seio. Se ela não recebe essas coisas, esses objetos, ela fica frustrada. Ela se torna infeliz por ser frustrada. Lacan diz: de maneira nenhuma! A criança vive de amor e é apenas como substituto que ela busca o seio, elemento colocado no lugar do signo de amor. Eu disse isso rapidamente, pois isso é muito relembrado nos Escritos. A mãe do Fort-da é a mãe domesticada; é um exercício de dominação – pode-se encará-lo dessa maneira – é um exercício de dominação da criança que põe em cena seu próprio abandono e o retorno da mãe. Ela finge. Nisso a mãe é um símbolo, ela não utiliza qualquer objeto aleatoriamente, mas sim aqueles que se prestam a servir como o símbolo da mãe. O que Lacan tenta suscitar daí é o surgimento de um outro estatuto da mãe. O que acontece se a mãe escapar ao seu papel de símbolo que responde, que entra nesse cálculo? A partir do momento em que ela sai do símbolo, quando ela não responde mais a esse aparelho, essa regularidade (a essa ficção, essa construção conceitual), ela não tem mais estatuto simbólico e não se sabe mais o que ela vai fazer. É diferente quando se sabe exatamente que o objeto vai retornar e que ao Fort se sucederá o da. Mas, se não o sabemos, ela se transforma numa potência misteriosa que pode dar ou não dar, que pode vir ou não vir, de tal forma que seus objetos adquirem um outro valor, eles não valem por eles mesmos, mas como signos de amor. Para Lacan, essa espera de signos de amor, essa satisfação simbólica fundamental, é capaz de erotizar todas as atividades da oralidade, da analidade. Elas erotizam tudo o que se pensa, digamos, em relação ao amor.

O lugar ocupado pelo amor neste Seminário é interessante no caso da jovem homossexual, pois a maneira de Lacan demonstrar a falta de objeto através do amor mostra que o que conta para o sujeito está além do objeto, que o que lhe interessa não é o objeto, mas o agente que o está dando como sinal de amor, de tal forma que é através do amor que ele faz entender que o mais importante no objeto é seu além. Finalmente, esse além do objeto não é nada, mas esse nada é o - que faz do amor o operador que introduz a falta, enquanto na relação de objeto, tudo está cheio. O amor é fundamental, diz Lacan; todos os objetos existem em ligação com o amor. Ele situa ao centro do objeto o nada, ele chega até a fazer um esquema interessante onde ele traça uma linha entre o objeto de um lado, e do outro, o nada. Agora, então, podemos ver a que responde a criação, a invenção do objeto a. Com o objeto a, o mais próximo desse “nada”, Lacan conseguiu escrever juntos o objeto e o nada e é por isso que ele diz – anos mais tarde –que no centro do objeto a se encontra o -. Pode-se dizer que não são só o objeto e o nada, mas também o véu. Nisso, o objeto a, mesmo que se possa afirmar seu caráter real, é um semblante, um semblante como o fetiche.

Traduzido por Tania Coelho dos Santos.

 

 

Notas

1. Conferência de abertura às II Jornadas anuais da EOL, A lógica da cura, nos dias 27, 28, 29 de agosto de 1993. Publicado originalmente em La logique de la cure, Colection de l’Orientation Lacanienne, dezembro de 1993. Texto estabelecido por Diana Etinger. Tradução: Colette Richard, revista por Nathalie Georges. Versão não corrigida pelo autor.

2. Ndlr: expressão de São Pedro (epístolas 1, 5 e 8) para caracterizar o demônio.

3. Ndlr: A palavra francesa para casco (sabot) também significa poncãs, tenazes e dedos.

4. N.Trad.: Em francês há homofonia entre resón e raison, termo da língua francesa que designa razão.

5. N.trad: O termo utilizado aqui é vêler, como mencionado pelo próprio Miller, uma gíria um pouco grosseira que significa algo como “ter”.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LACAN, J. (1951) “Intervenção sobre a transferência”. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 214-225.

_________. (1956-57) Le Seminaire. Livre IV: La relation d’objet. Paris: Le Seuil, 1994.

_________. (1957) “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 496-533.

_________. (1957-58) “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 537-590.

_________. (1998) Escritos. Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed.

_________. Le Séminaire. Livre XVII: L’envers de la psychanalyse. Paris: Le Seuil, 1991.

LÉVI-STRAUSS, C. (1955). A estrutura dos mitos. Antropologia Estrutural (1944-56). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, s/d, p. 237-265.

 

Texto recebido em: 10/01/2009
Aprovado em: 10/02/2009